Boquinha de urna

terça-feira, 21 de setembro de 2010

por Albert Azenha e Raphael Ruvenal

Foi com esse tema que fomos para a rua tentar entender melhor como funciona o cotidiano das pessoas que trabalham em campanhas eleitorais.

É grande a quantidade de funções nesse período. Nessa abordagem encontramos desde coordenadores de campanha a plaqueiros e panfleteiros, mas o nosso foco era conhecer aqueles que passam sua maior parte do dia em praças públicas, em lugares de muito fluxo, entregando papeis e divulgando os seus candidatos.


Na nossa primeira busca pelas ruas de Nova Iguaçu, encontramos um senhor, sentado ao lado de uma placa, com a aparência de cansado, com papeis em uma das mãos e um cigarro na outra. Esse é Joel, um homem que bastou uma abordagem, para transformar aquele rosto cansado em pura simpatia em função de segundos.

Perguntamos ao seu Joel, 65 anos e morador do bairro Comendador Soares em Nova Iguaçu, o que leva uma pessoa a passar o dia ao lado dessa placa entregando papeis e falando de um candidato. “Sou ativista político desde a minha adolescência", conta ele, que se orgulha de ser um dos fundadores do PDT, ainda na época de Brizola e Darcy Ribeiro. É para homenagear a memória dessas duas lendas da política carioca, que estiveram no quintal da sua casa, que trabalha sem ganhar um real. "Não tenho cargo nenhum, mas estou aqui fazendo o que não me deixaram fazer durante a ditadura militar”.

Fomos surpreendidos com a resposta: não fazíamos ideia que aquele homem de rosto cansado e tom amargurado representava na essência uma parte importante da história do nosso país.

Mais tarde conhecemos e conversamos também com Ana Claudia, 25 anos e moradora do bairro Santa Eugênia em Nova Iguaçu. Fomos práticos e fizemos uma pergunta muito semelhante à que fizemos ao seu Joel. Afinal, queríamos perceber o contraste entre as respostas daquelas pessoas. "O que te leva a estar trabalhando para esse candidato?"

"Cá entre nós, tenho uma filha pra sustentar e ganho um dinheirinho nessa época", admite a panfletista. "Se esse cara vai cumprir ou não as promessas políticas, eu não quero nem saber. Só quero que ele cumpra com a palavra dele na hora de fazer o meu pagamento. Nessa vida a gente não pensa muito quando a questão é dinheiro. A única coisa que me deixa maluca é saber que quando acabar esse período a minha “boquinha” já era (risos).

É importante perceber a disparidade dos motivos citados em cada uma das entrevistas. Alguns ainda que feridos pelos vestígios de uma época traumatizante como a ditadura militar, permanecem com o sonho de mudança. Por outro lado, outros justificam as atitudes de políticos corruptos que enchem o nosso povo de promessas e discursos mentirosos, trabalhando exclusivamente pelo dinheiro.

O saldo das nossas buscas foi positivo, pois conseguimos nessas abordagens de dois extremos formar um significado para o termo que criamos a partir da ideia de entender o sentimento desses guerreiros, que por motivos políticos ou pessoais ganham as ruas de dois em dois anos, durante três meses divulgando seus candidatos.

1 Comentários:

Anônimo disse...

Albert para de fazer boca de urna pros outros !

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