Dinheiro não compra felicidade

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

por Luciana Baroni


Nascida no seio de uma família rica e muito conhecida da cidade de Nova Iguaçu, Sandra Baroni Rolo teve que carregar o peso do nome do empresário Carlos Marques Rolo, criador da empresa de ônibus Evanil, e Gioconda Baroni, filha de um dos maiores exportadores de laranja da cidade.

Além das festas que seus pais davam com frequência para a alta sociedade iguaçuana, Sandra Rollo tinha carros importados e todo o glamour proporcionado pelo dinheiro num momento em que a cidade era muito mais pobre do que hoje. "Isso fez com que as pessoas me vissem de uma maneira como nunca fui", conta a hoje relações-públicas da SEMCTUR. Todas as pessoas que não se deixaram intimidar pelas aparências e se aproximaram viram que se tratava de uma pessoa simples. "Sempre me dei bem com todo o mundo, sem descriminação e sem títulos de nobreza."


Sempre de nom humor, quem se aproxima dela acha que a vida é um mar de rosas. "Entre viver triste e alegre, eu prefiro a felicidade", diz ela com uma de suas deliciosas e sonoroas gargalhadas. "Basta estar vivo para ser feliz", filosofa.

Sandra Rollo é de uma época em que as famílias de posse eram altamente comprometidas com a obra social da igreja, de que ela sente falta. "Meus pais ajudavam o Patronato e o Lar de Jesus", lembra ela, que também ajudou nas obras da igreja de Santo Antônio e doou para a igreja Nossa Senhora de Fátima a imensa imagem de São Jorge que ainda hoje pode ser vista lá.

Apesar da riqueza dos pais, Sandra Rollo sempre deu valor ao trabalho. Tinha 18 anos quando pediu ao pai para trabalhar na empresa de ônibus Vera Cruz, que fazia a linha Rio/João Pessoa (PA). "Sozinha, fui chefe de oficina, responsável pelo almoxarifado e ainda dava conta de todo o serviço burocrático da empresa, pois papai estava administrando uma empresa de ônibus que tinha em São Paulo."

Sandra Rollo também trabalhou no departamento pessoal da Niturvia, empresa de ônibus que o pai criou ao voltar de São Paulo com saudade de Nova Iguaçu e da família, que só estava conseguindo ver nos fins de semana. Quando o pai também teve que vender a Niturvia, ela foi morar na Barra da Tijuca, onde vendeu quentinhas aem domicílio com uma amiga. "O bairro não era tão grande, ainda não tinha os shoppings e nem os recursos de hoje", lembra a relações-públicas, que na época comprou um carro pequeno e alugou um apartamento para cozinhar e embalar as refeições entregues de casa em casa.

O negócio deu certo, mas cinco anos depois ela trocou o sucesso como empresária pelo amor por sua cidade natal, onde montou uma loja de doces e salgados finos em frente ao antigo Fórum. "Conheci muitos juízes, promotores e advogados que faziam questão de comer a comida e os quitutes deliciosos que preparávamos", lembra Sandra Rollo. "Fiquei 15 anos ali", diz ela, que passou o ponto ao saber que o fórum iria se mudar e com isso a clientela com certeza cairia.

Levou os dotes culinários que herdou da família italiana da mãe e da família portuguesa do pai, que foi obrigada a desenvolver cuidando dos quatro irmãos mais novos por causa do dramático problema de vista da mãe, para as festas, coqueteis e jantares que começou a organizar até ser chamada para trabalhar no Espaço Cultural Sylvio Monteiro.

Uma série de acasos levou-lhe o patrimônio da juventude, mas muito mais difícil de lidar com os problemas econômicos foi a perda de seus dois irmãos homens num intervalo de dois anos. "Um deles morreu enquanto eu preparava a festa dos 40 anos, que ele não completou", lamenta. Sofreu, chorou, mas recuperou a alegria de viver sem se lamentar e sem culpar ninguém, pois além de tudo isso teve que criar sozinha sua filha. "O pai a rejeitou e eu tive que ser pai e mãe dela."

Sandra Rollo é uma mulher guerreira, supermãe e superamiga, que mostrou que dinheiro não é tudo na vida. "Pode-se perder tudo de uma hora para outra e o que vai ficar vai ser o que você realmente é e não o que as pessoas gostariam que você fosse", filosofa ela, que sabe que a pobreza é tão dura quanto a riqueza. "Quando a gente tem dinheiro, todos te olham, te reparam e sem querer ou por querer, te rotulam." Se hoje todos gostam dela e a admiram foi por ela ser quem ela é e não filha de quem ela foi.

4 Comentários:

Silvia Regina disse...

Quem conhece Sandra Baroni Rolo, tem certeza que dinheiro realmente não compra a felicidade, pessoa alto astral, amiga, parceira e que através das historias que ela conta conseguimos saber tb um pouco da história de Nova Iguaçu de alguns anos atrás. Valeu Lú ninguem retrataria essa mulher tão bem como vc.

Lucas Lima! disse...

Realmente uma história admirável. Pena que quem passa por ela quase que diariamente num ritmo tão intenso de trabalho e compromisso não tem oportunidade de saber, parabéns pela história de vida à mãe e parabéns à filha pelo texto!

larissa vianna disse...

Acompanhei um pouquinho de perto tudo isto que é realmente a mais pura verdade.Parabéns Lú pois nós que somos as sortudas de ter MÃES como as nossas!!!Amo esta família!!!beijos.

Anônimo disse...

É o símbolo personalizado da decadência de Nova Iguaçu. Dos laranjais à mamata na SECTUR pra não morrer de fome.

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