Histórias de fora para dentro

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

por Tony Prado

Há aqueles que dizem que a inspiração é um reflexo da alma e a literatura é a expressão da própria inspiração codificada em palavras, porém, segundo Faustini, a inspiração e a criação literária têm um sentido transitório um tanto diferente.

A 1ª Teia Cultural da Baixada Fluminense foi palco para diversas atrações e oficinas, entre elas a Oficina Literária – Como criar seu livro, ministrada por Marco Faustini, ex-secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, com uma palestra magnífica sobre a importância de se conhecer e conhecer a própria história para se fazer uma história. Na oficina participavam, em maior peso, professores de língua portuguesa, pedagogos e outras pessoas da área educacional. Havia duas alunas de uma escola visitante do evento, mas ficou muito claro o desinteresse das pessoas por assuntos literários. Porém nada disso foi transtorno para que desanimasse o público da oficina literária. Pelo contrário, o clima era de descontração e até de intimidade entre os participantes.



Tudo começou com um pedaço de papel, cartolina e canetinha. Faustini propôs que alinhássemos alguns fatores de nossa própria vida numa linha temporal separada por temas como a própria vida, partes do corpo, palavras, entre outros. Conforme os temas foram se desenvolvendo, pudemos notar o quão fácil e criativo era trabalhar em cima desses temas e escrever capítulos de histórias magníficas. “A inspiração não vem de dentro para fora. Muito pelo contrário, a inspiração vem de fora para dentro, porque se você não vive uma situação, você não vai ter como descrevê-la, nem em situação semelhante. Sem contar que muitas pessoas sentam em casa, ou no escritório, esperando a inspiração surgir para poder escrever uma história, quando na verdade se esta pessoa explorasse as suas próprias histórias, conseguiria desenvolver muito mais e melhor o seu livro”, explicou Faustini durante a oficina.

Em seguida, foi feito uma espécie de mapa dessas palavras, de acordo com essa linha do tempo de cada um, medida por anos, por fases, ou até por luas, trazendo à tona uma riqueza infindável de histórias das mais diferentes e inusitadas, contando sobre medos, brigas, casamento, um sapato perdido, uma lágrima sozinha, os primeiros passos na Apoteose, o primeiro beijo, entre outras preciosidades do íntimo da história de cada um.

Tocando esses mapas, era quase como se pudesse tocar as lembranças e experiências de cada um, mostrando que a própria vida, lançada sob um ponto de vista no papel, já é o início de uma grande história. “As crianças no Brasil hoje aprendem a ser portadoras de mensagem, mas não aprendem a ser geradoras da mesma. Sempre se vê aquela criança manipulada em fim de ano ou naquela odiosa frase do dia da árvore ‘porque a vida é bela e precisamos preservá-la’. Não é a criança falando, são os professores, pais, quem quer que seja, menos a criança. O brasileiro hoje precisa ser criador de ideias, gerador de textos e pensamentos próprios. E escrever um livro é isso: é falar sobre si mesmo de pontos de vista completamente diferentes. A criança tem que ser incentivada a falar sobre si, sobre o que tem no peito e não ser apenas uma portadora de mensagens”, continua Faustini, sobre os métodos de ensino e a importância daquela oficina no trato não apenas cultural, mas social.

Depois dos mapas prontos, com as mais diversas e inusitadas formas, a oficina chegou num rumo interessante, tal como se tivéssemos entrado no mundo particular de cada um ali presente, porque as histórias e sentimentos, até os mais feios e pesados, estavam ali expostos e tudo isso tomou uma dimensão muito além do meio literário. Mapas foram lidos, debatidos e trocados. Para que cada um conhecesse a história do outro e a partir da história lida pudesse juntar à sua própria e começar um livro cada vez mais rico. Os sapatos que usei para andar pelas diferentes ruas da cidade, a professora com quem me indispus, os animais que vi durante minha vida, minhas conquistas e frustrações. Cada tema em particular é uma maneira de refletir a ideia. A inspiração começa de fora pra dentro. A vivência e a experiência trazem a informação e a inspiração, podendo assim ser criado um excelente e rico livro.

Faustini ainda deixou uns minutos correrem para concluir o debate de ideias, mas infelizmente isso não foi possível por causa da agenda da Teia, mas ainda assim essa oficina valeu a pena e trouxe muita coisa boa para Nova Iguaçu. O que é bom, dura pouco, até nos livros, mas da pra fazer um outro capítulo e estender essa história cada vez mais.

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