por Felipe Branco
Dia desses me convidaram para ir ao Algaraiva, um bar na Vila Operária, em São João de Meriti. Era uma inauguração de um bar alternativo, aberto a para todos tipos de manifestações artísticas e culturais. O dono da parada é o Gabriel Pimentel, 27 anos, conhecido como Soneca. Gabriel se diz anarquista e viveu um tempo junto a outros ocupantes da Okupação Flôr do Asfalto, na zona Portuária do Rio. A Flor do Asfalto surgiu da necessidade de alguns indivíduos se expressarem culturalmente. “Mas uma cultura à margem, não essa cultura “normal”, explica Soneca, que morou naquela área de cerca de 2500 metros quadrados, dividida em duas partes, com mais de 20 famílias. A outra era um espaço anarquista autogerido, a Flôr do Asfalto.
Lá a produção cultural é intensa e foi com esse espírito anarquista que Soneca montou o bar. “Aluguei esse espaço com a ideia de trazer um espaço cultural aqui pra São João de Meriti, porque eu achava esse espaço muito morto de coisas e diversidades”, conta ele, que chamou alguns amigos para dar cursos, oficinas e criar suas próprias bandas. O próprio Soneca fez uma oficina para os moradores locais sobre como reciclar óleo usado em sabão. “Também tenho a ideia de fazer uma biblioteca popular aqui, tentar preservar a literatura, no caso o texto escrito”, acrescenta.
O Algaraiva tem espaço para grafite, exposição de quadros, intervenções e apresentação de bandas, além, é claro, da tradicional cervejinha. Quem chega vê o grafite de Bruno Zagri e Coletivo Artefeito nas paredes do lado de fora do bar. Lá dentro, atraentes quadros de Bruno Zagri e alguns “zines” do próprio Soenca. Zine é o “diminutivo” de Fanzine, que é uma revista menor feita por fã, ou seja, é uma revista feita com pouco zelo e de forma bem simples e despretensiosa. Soneca faz seus zines, escreve poesias, contos e está fazendo um livro com a capa feita com colagens de revistas e jornais. O livro de poesia se chama “Cultura Marginal” e o de crônicas é “Algaraiva”.
Decoração alternativa
Além dos zines e dos quadros de Zagri, há alguns papeis de textos reflexivos acerca do pensamento anarquista e sobre nossa sociedade. Com uma decoração bem alternativa e pouco preocupada com os padrões estéticos contemporâneos, o espaço não chega a ser pequeno. “O espaço é do tamanho ideal para a galera ficar junta e curtir as bandas”, diz Rodrigo Barreto, um dos frequentadores. De fato o espaço é ótimo.
Na festa da inauguração, a primeira banda a se apresentar foi a Genomades, bastante conhecida do underground iguaçuano. Em seguida, foi a vez da Clube Solitário do Éden fazer o debut e da All Cool e Bettie Page, sendo que essa última se propôs a ajudar Soneca com o bar. Os próprios integrantes, mais sua amiga e produtora Dannis Heringer, ajudaram a construir e contribuir para a formação de um público leitor no bairro, com a formação de uma Biblioteca Comunitária no espaço.
O espaço é uma resposta à carência do bairro por esse tipo de entretenimento e uma confirmação da crescente cena underground da Baixada, que vai ganhando novas produções, novas bandas e novas casas. No bar funcionará uma biblioteca, e o evento tinha como principal motivo arrecadar livros. O bar certamente será uma referência para se ter um local para se sentir à vontade para ler e praticar cultura “não careta”, haja vista a atividade de Soneca, mais a da sua mulher, que também escreve zines e participa dos seus agitos, além de amigos e colaboradores. O espaço é aberto a toda essa galera que faz.
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