por Dandara Guerra
Apesar do cansaço de uma noite viajando de ônibus e de um sarau no Complexo do Alemão e outro no Morro do Fallet, os representantes dos saraus Vila Fundão, Elo da Corrente, Palmarino, do Binho, Poesia na Brasa, da Ademar e Suburbano Convicto não deixaram a peteca cair.
Cada um desses saraus tem suas próprias características, mas todos eles têm a mesma origem: o Sarau da Cooperifa, que há nove anos aproveitou o desejo de Bodão transformar o bar Garajão, em Taboão da Serra, em um centro cultural. "Tive a ideia de chamar o Sergio Vaz, um grande poeta da cidade", conta Marco Antonio, mais conhecido como Pezão. "Todas as noites de quarta-feira eram dedicadas à poesia, onde o importante era ler, dar vida ao papel, dar voz ao poema." O sucesso foi tão grande que resolveram criar a Cooperifa, que hoje funciona no bar do Zé Batidão, no Jardim Ângela.
Frequentadores de diversos bairros da periferia paulista levaram a ideia para seus próprios bairros, ajustando-a às características de cada local. "Hoje em dia, o movimento cultural abrange também outras áreas artisticas, como teatro, cinema, graffiti, música, mas nunca perdendo o principal objetivo: 'a poesia'", explica Marcos Pezão.
O principal articulador da caravana de poetas da periferia de São Paulo foi o escritor Alessandro Buzo, cuja área de atuação é Itaim Paulista, último bairro da cidade em que mora. Buzo tem um quadro no programa Manos e Minas da TV Cultura, seu posto de observação da aguerrida cena cultural da periferia paulista. Buzo, que também é proprietário da livraria Suburbano Convicto, produziu dez livros nos últimos dez anos. Ele também é organizador de várias coletâneas de poetas da periferia de São Paulo.
Um dos grandes parceiros de Buzo é Tubarão do Lixo, um misto de artista plástico e poeta que trabalha com ele na livraria que é um polo congregador dos artistas da periferia, reunindo-os semanalmente no bairro do Bexiga, no Centro de São Paulo. “A arte plástica acaba sendo a materialização da poesia, o graffite que sai da parede, a poesia que toma uma forma”, conta Tubarão, que utiliza detritos no intuito de provocar arte com a transformação. Tubarão também dá oficinas de reciclagem nas unidades da FEBEM da cidade.
Segundo o poeta pernambucano Douglas Alves, que leu com emoção trechos do livro de seu conterrâneo Marcelino Freire, o sarau do Elo da Corrente é mais democrático do que temático. “Nosso sarau atrai uma forte militância negra, mas, embora as questões de gênero e raça sejam muito presentes, não somos autoritários e aceitamos outros tipos de manifestação”, conta Douglas, que ficou entusiasmado com o Espaço Enraizados.
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