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Janela sobre um livro
por Hosana Souza
“Uma mesa remendada, velhas letrinhas móveis de madeira ou chumbo, uma prensa que talvez Gutenberg tenha usado: cheguei à oficina de José Francisco Borges na cidadezinha de Bezerros, no interior do nordeste do Brasil. Eu vim à sua oficina para convidá-lo a trabalhar comigo. Explico meu projeto: imagens dele, suas artes, sua gravura, e palavras minhas. Ele se cala. Eu falo, explicando e ele, nada. E assim continuamos, até que de repente percebo: minhas palavras não têm música. O não-nascido não se explica, não se entende, se sente, se apalpa quando se move. E então deixo de explicar, e conto. Conto a ele contos, e este livro nasce”, assim Eduardo Galeano inicia seu livro As Palavras Andantes.
As Palavras Andantes é o 31º livro da carreira de Eduardo Galeano, escrito em 1994, e marcou a união do autor uruguaio com o cordelista pernambucano José Francisco Borges, que assina as gravuras do livro. Eduardo é jornalista, historiador e ensaísta, esquerdista esteve no exílio nas décadas de 70 e 80. J. Borges foi ceramista, carpinteiro, pedreiro, pintor de paredes, trabalhador rural e ilustrou cerca de 300 cordéis em 40 anos de carreira.
Da união de um dos maiores cordelistas da atualidade, com um dos maiores pensadores latino-americanos surgiu o livro que aborda temas como a criação do mundo, do tempo, das leis e das palavras. Eduardo Galeano vai contando as histórias e abrindo as janelas sobre a vida, o futuro e os sentimentos. As imagens de J. Borges trazem ao texto ainda mais proximidade com a cultura popular e as histórias que são passadas oralmente por gerações.
Como uma grande brincadeira, composto por pequenas histórias, pensamentos e filosofias, o livro de 316 páginas pode ser lido tranquilamente, não trazendo ao leitor a necessidade de uma leitura continua ou massante, misturando magicamente a vida e os contos pode ser apreciado em qualquer ordem e por qualquer idade, revelando-se com poesia e graça. Com um jogo de palavras exige certa concentração do leitor, é uma prosa cheia de poesia, deliciosa de se ler.
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Era da reciclagem
por Wanderson Duke
Estreia : Nine
Nine (Idem) EUA, 09. Direção de Rob Marshall. Roteiro de Michael Tolkin, Anthony Minghella, baseado na peça Nine de Maury Yeston e Arthur Kopitt, baseado no filme Fellini Oito e Meio, de Fellini. Com Daniel Day Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Judi Dench, Kate Hudson, Sophia Loren, Stacy Ferguson (Fergie), Ricky Tognazzi. Produção Weinstein. 118 min.
Estreou na última sexta-feira o aguardado Nine. Fellini Oito e Meio é meu filme do coração, meu e de todo mundo que trabalha de alguma forma com cinema. Não apenas é a obra-prima de um cineasta genial como foi Federico Fellini, como também é o melhor registro da demência que é rodar um filme, a montanha-russa emocional que toma conta de forma avassaladora do autor e o retrato de um artista em crise, quando é incapaz de criar e pensa que não tem mais nada a dizer. Realizado de maneira genial, altamente original e criativa e, principalmente, autobiográfica. Ele foi buscar em si mesmo as raízes e fontes de sua crise pessoal e artística e transformou tudo numa grande festa circense, que termina positivamente com aquela grande dose de humanidade, que só o italiano (e o cinema italiano) era capaz mesmo de passar.
Por isso é fácil entender porque o filme exerce até hoje, quase cinquenta anos depois de sua criação, um inacreditável fascínio em todos os artistas, a ponto de levá-los (mesmo famosos como Allen e Fosse) a realizar paráfrases, coisa nunca vista e sem paralelo referente a uma obra relativamente recente.
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