Sonho parcelado

domingo, 16 de janeiro de 2011

por Josy Antunes

15 anos da Josy
Segundo regem as tradições, há pelo menos três eventos importantes na vida de uma jovem: a festa de 15 anos, a formatura e o casamento. Já passei pelos dois primeiros, com direito a bolo, vestido e beca. O anel dourado em meu dedo anelar da mão direita indica a proximidade da terceira ocasião. Como boa filha de "buffeteiros", a festa - com tudo a que se tem direito - é uma obrigação, digo, garantia. Os procedimentos não são lá muito diferentes dos realizados por uma debutante ou formanda: Pensa-se no orçamento para o evento, na decoração da festa, na(s) empresa(s) contratada(s), na lista dos convidados, no conforto dos convidados, na roupa usada, na aparência pessoal, no registro de cada momento e na realização de um sonho. E, para cada um dos itens citados, uma infindável lista de subitens ficam implícitos.

Para se ter uma ideia, comemorações como estas costumam ter seus preparativos iniciados em média 12 meses antes da data marcada. A informação foi fornecida por Rosane Gomes, 51 anos, minha mãe e representante do Cataldu's Buffet, em Belford Roxo. "Já teve gente que encomendou a festa com 15 dias antes", comentou ela, enquanto assistia novela, num de seus raros momentos de descanso. Nossa casa, localizada em cima do buffet, torna-se uma espécie de extensão do negócio, com toalhas e flores pelos cômodos e geladeira abarrotada de quitutes de festa. Um dos auges da casa-buffet foi o meu próprio aniversário de 15 anos, em 2005. Minha mãe insistia na necessidade da festa pomposa. Eu, na fase mais rock'n roll da minha vida, aceitei a festa com uma condição: Decoração na cor preta. "Achei que seria uma forma de me rebelar contra a obrigação da festa se eu a fizesse dessa cor ao invés de rosa, como é comum", comentei com Ester Brandão, 20 anos, moradora de Nilópolis, enquanto trocávamos e-mails sobre o mesmo tema: "O sonho era da minha mãe". "Eu nem queria a festa, queria viajar. Também tive que convidar um monte de gente que eu nem tinha intimidade, ou não gostava. Minha festa foi meio impessoal, com muita gente e poucos amigos meus", conta a estudante de Letras, cuja festa coincidiu com a minha em ano e cor. "Somos três meninas aqui em casa. Minha irmã mais velha não queria de jeito nenhum a festa e se recusava a participar e escolher as coisas", lembra Ester, acrescentando a fala que sua mãe lançou à irmã: "Meu bem, se você não ajudar a escolher as coisas, eu vou fazer do jeito que eu quero". Dessa forma, Rebeca Vargas, a irmã mais velha de Ester, acabou cedendo e contribuiu com uma "mãozinha" nas decisões - o que, segundo Ester, não foi lá grande coisa. "No dia da festa tinha mesa de chá (coisa de velho), a roupa dela era dourada com pérola, entre outras coisas que minha mãe queria e que nada tinham a ver com a minha irmã", explica Ester, que, na sua "vez" decidiu evitar complicações com a mãe. "Me meti na escolha das coisas", explica.


Formatura da Hosana
 Nossos casos - meu e de Ester - no entanto, fogem à regra no quesito "preparação da festa". Que o diga Hosana Souza, 17 anos, recém-formada no Curso Normal do Colégio Estadual Arruda Negreiros, em Nova Iguaçu. "Eu estive metida em tudo desde sempre", conta a jovem professora, que ajudou em cada detalhe da festa ocorrida em dezembro de 2010. "O que era meu sonho e de todas as outras meninas não podia estar assim na mão de qualquer um, né?!". A turma, composta por 38 formandos, contratou uma empresa responsável pelo registro em foto e vídeo da cerimônia, além da beca e lembrancinhas. Para a festa, um buffet especializado fora contratado. "No total foi quase R$700 pra cada um, contando colação completa e buffet. Desde o terceiro ano que nós pagávamos a formatura", conta a também recém-aprovada para a graduação em Ciências Sociais pela UFRJ. A persistência - característica com a qual também conquistou a vitória no vestibular - levou Hosana a estimular as meninas da sua turma a se empenharem na arrecadação do dinheiro que custearia a "festa dos sonhos". "Eu fazia bolos e empadões pra vender na escola e no pré. Com o tempo, as meninas animaram também e a gente começou a fazer cantina coletiva. No fim, deu tudo certo e todas conseguiram quitar", conta Hosana, que também organizou rifas e caixinhas. "A formatura era extremamente importante pra mim por ser a realização de um sonho, em todos os aspectos. Primeiro porque a gente sonha - graças aos filmes - em vestir uma beca e jogar o capelo. Segundo porque depois de quatro anos de normal, de mais de mil horas de estágio contabilizadas e tantas outras horas esquecidas o que a gente mais quer é ter uma noite de sonhos e sorrisos. E, por fim, eu queria que meus pais, parentes e amigos pudessem ter uma noite bacana junto comigo, alegres e se orgulhando de mim", explica a ex-normalista, tim-tim por tim-tim.

Chama a polícia
Carol Fortunado, 22 anos, formou-se em Biologia, pela UNIG, no dia 7 de janeiro do presente ano. Assim como Hosana, se envolveu totalmente com os preparativos de sua colação de grau e festa. "Como sempre fui muito precavida - para não dizer apressada - no quarto período da faculdade comecei a pensar na formatura. Foi então que fundei a comissão de formatura, que no começo era só eu. Quem iria querer se meter nessa furada, por assim dizer?", indaga a moça, que logo ganhou adeptos para a comissão, formando um grupo de cinco pessoas. "Cinco doidas que tinham o sonho de se formar", brinca Carol. O quinteto, então, passou a buscar possíveis empresas. Bem como possíveis empresas começaram a procurar a comissão. Segundo a nova bióloga, cada empresa oferecia propostas diferentes e tentadoras. "Após verificar várias, fechamos com a Perffil Eventos. Faço questão de revelar o nome, para que ninguém mais passe pelo desrespeito e desespero que passamos", afirma a moça, mesmo tendo se assegurado de toda precaução possível. A comissão de formatura pela qual era responsável averiguou a veracidade da empresa, checando CNPJ, fazendo visitas e até frequentando festas "supostamente" organizadas pela Perffil. Passamos os dois anos seguintes pagando as 24 prestações com que nos comprometemos. O combinado foi que seis meses antes da data da colação, que estava marcada para dia 07/01/11, iriamos tirar as fotos para o convite. Já começou dando errado daí", lamenta Carol, que a partir de então passou por tensas situações que envolveram prazos descumpridos e desculpas fornecidas pelo representante da empresa. "Faltando uma semana para o evento, ele sumiu, deligou o celular e fechou as portas. Entramos em desespero: dois anos de um sonho jogado fora?", lembra ela, que se viu diante da probabilidade de um golpe. Na situação, que envolvia a chegada de parentes dos formandos oriundos de vários estados do Brasil, Carol se viu incluída num grupo de 20 alunos, diante da casa do representante da empresa. "Chamamos a polícia, e descobrimos onde o indíviduo morava. Ele apareceu faltando dois dias para o evento. Com a presença conciliadora da polícia, ele se comprometeu em realizar o evento, pelo qual pagamos 16 mil reais", narra Carol, que, juntamente com a equipe da comissão de formatura, organizou a festa sem grandes ajudas da empresa. "Graças à união da nossa turma conseguimos garantir o evento, que não foi metade do esperado e contratado", contou a bióloga, acrescentando: "Mesmo assim foi um sucesso. E, mediante tanta difículdade, foi ainda mais valorizado por nossos amigos e parentes". Passada a formatura, novas preocupações já acompanham a moça: "Nem me fala, que esses preparativos para o casamento já estão me deixando doida. Imagina tudo isso junto. Loucura, loucura, loucura", debocha.

A fase na qual Carol está inserida, no entando, já foi exemplarmente vencida por Cinthia Angel - codinome usado em seus perfis nas redes sociais -, 23 anos, moradora de Comendador Soares, que cumpriu a etapa pré-casamentro entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, após um namoro de 5 anos. "Nós ficamos separados uns quatro meses. Voltamos e decidimos casar", conta a moça, que substituiu a festa de noivado - também no pacote das tradições - por uma viagem para a Região dos Lagos. A partir da decisão, Cinthia somaria a seu noivado uma etapa pela qual debutantes e formandos não passam: A construção e o 'recheio' de uma casa. "Primeiro foi o fogão!", lembra ela. "Até tijolo pra laje coloquei. Eu gasto muito, e não quis abrir mão de alguns luxos. Então eu sacrificava um lado pra manter meus luxos", explica Cínthia, que investiu mais de 15 mil reais na realização de seu sonho, ou pelo menos numa parte dele: a festa. "Eu fiz os convites, envelopes e a decoração da igreja." Ainda tinha que se dividir na obra da casa, conta ela, que destinou R$ 1.300 para o aluguel do vestido, R$ 120 no sapato e R$350 no cabelo e maquiagem. "Existem no Orkut algumas comunidades de coisinhas mais em conta para noivas, estilo "compra coletiva". Foi lá que aprendi a fazer convites e decoração. E ainda ajudei algumas noivinhas", declara a recém-casada.
Dica da Cínthia
Para ajudar nas incontáveis despesas - das quais Cinthia driblava com as dicas virtuais - 80% da festa foi financiada pelo pai da noiva. Os demais 20% foram financiados pelo sogro. "Nós (noivos) ficamos com as despesas da casa", explica Cinthia que, quatro meses antes do casório, realizou um chá de panelas entre amigos - este item, obviamente, também vai para o pacote das tradições. Comumente, o "chá" reúne as amigas mais próximas da noiva para uma tarde de brincadeiras e presentes surpresas, que são, em geral, utensílios domésticos. Por "lei", a ocasião veta a presença de homens. O da Cínthia, porém, pôde ser considerado um "chá moderno". "Não restringi os meninos. Meu noivo foi até pintado", lembra ela, que ganhou presentes "baratinhos" de cozinha como colher de pau, balde e abridor, das cerca de 30 pessoas presentes.

Despedida da casa
"No dia do casamento, minha mãe queria que eu saísse de casa, por tradição. Mas eu neguei e saí do salão", declara Cinthia, alegando que, segundo a mãe, o feito representaria uma despedida da antiga casa. Depois da festa, realizada no dia 10 de dezembro, em Comendador Soares, veio a sensação de que tudo havia valido a pena. Com exceção de que nem todos os convidados compareceram - um fato comum para estas ocasiões. O problema é que, se o planejado - e contratado - abrange um determinado número de pessoas, o dinheiro investido em "vão" no número previsto nem sempre, ou quase nunca, é devolvido. Ou seja, paga-se a mais por cadeiras vazias. O ano de 2010, e todos os pequenos rituais festivos nele envolvidos, ficarão na memória de Cinthia e, posteriormente, num belo álbum de fotografias. "Foi uma loucura. Mudou minha vida completamente".

O registro da festa, aliás, é parte importante da festa em si. Rege a mesma tradição - dos três eventos - que pouco se usufruiu da própria comemoração: o noivo/noiva/debutante/formando/formanda acaba se preocupando mais com os convidados, com o bom desenrolar do planejado e, especialmente, com as fotos e a filmagem. "Eu fiquei bem satisfeita, até. Na realidade não aproveitei quase nada - estou louca pra que chegue a filmagem. Eu nem lembro direito de como foi, de tão nervosa que estava pra que música entrasse, amigas não tropeçassem, a homenagem saísse direito", lembra Hosana Souza, aos risos. A formatura do magistério do Colégio Arruda Negreiros ocorreu no IESA, por causa do auditório. Na sequência, a festa aconteceu no próprio Arruda, onde 12 garçons para 500 convidados renderam "lágrimas de ódio". "A organização do buffet foi ridícula. Muita gente nem foi servida. Tudo o que acontecia vinham reclamar comigo e eu reclamava com o buffet", relata Hosana. "A festa foi um estresse, mas algumas pessoas aproveitaram um pouco".

Valéria Gimenez, moradora de Belford Roxo, carrega uma experiência de 20 anos na arte de registrar sonhos. Seguindo uma tradição familiar, foi introduzida nas áreas de fotografia e filmagem aos 17 anos, a partir do convívio com o pai fotógrafo, Orlando Gimenez e com os dois tios, Lauro Giminez e Gonçalo Garcia. "Minhas primas e eu conviviamos com isso, iamos pra ajudar nas festas, enfim. Com 17 anos eu fui à Maceió passar férias e a minha amiga de lá fazia 15 anos. Então eu catei uma Olympus trip do meu pai e levei pra viagem. Acabei fotografando o aniversário da minha amiga e, é claro, minhas férias. Quando revelei os filmes aqui no Rio, meu pai me disse uma coisa que bateu: Disse que eu tinha bom olho". Os contatos iniciais com a área a levaram para seu primeiro emprego, aos 19 anos, na locadora de uma prima - atualmente uma cliente de Valéria na área de edição de filmes. "Depois é que fui começando a pegar trabalhos de fotografia e filmagem. Na época de festa de São João, eu catava um monte de filmes da locadora e criava uns clipes temáticos em cima de uma música, pra exibirmos num telão na praça da Matriz. Eu juntava duas filmadoras e montava o clipe só no insert das câmeras, dias de trabalho. Foi meu primeiro namoro com a edição", relata ela, detalhando: "Fiz um só com acidentes fantásticos, outro só com cenas cômicas. Pra ir parar na edição foi um pulo. É o que eu mais gosto de fazer nos vídeos, montar clipes."

Coisa de rico
Num relato de Ester Brandão, que reviveu em seu aniversário de 15 anos os sonhos de sua mãe, um detalhe mostra a já importância do registro: "As fotos, embora tenham sido tiradas em preto e branco, foram coloridas pelo fotógrafo depois. Um recurso muito moderno para a época", conta ela, contextualizando: "Quando minha mãe fez 15 anos, em 1972, ter uma festa era coisa de rico, mas ela teve uma. Meu avô era muito inteligente, mas era teimoso que só, então eles viviam altos e baixos financeiros. Na época do aniversário da minha mãe, eles estavam bem financeiramente. A festa foi simples, em casa mesmo, mas para minha mãe foi um sonho, um deslumbre. Por esse motivo minha mãe depositou a ideia de que fazer 15 anos é mágico, único. Mas a nossa geração é diferente, né".

Segundo Valéria Gimenez, na época retratada por Ester - e no período anterior - havia um status em torno da profissão do fotógrafo, devido a importância e a exclusividade que o fato de possuir fotografias pessoais representava. "De lá pra cá, muitas mudanças aconteceram, acompanhando a tecnologia. Meu pai chegou a fotografar com negativo de vidro (passava-se uma emulsão no vidro e o fotógrafo levava essas chapas para bater os retratos). Fazia-se silêncio para não atrapalhar o trabalho dele e batia-se umas quatro "chapas" dos noivos, as tais chapas de vidro. Meu pai, pobrezinho, deixou cair uma delas e quase chorou ao vê-la quebrada... menos uma foto! As fotos eram retocadas no papel, depois no negativo, era uma coisa linda", detalha a fotógrafa. Atualmente, em cada evento, uma média de 900 fotografias digitais são feitas pela equipe contratada. Somando-se, é claro, as fotos tiradas pelas câmeras amadoras dos convidados. Além da quantidade, a reverência dedicada aos profissionais responsáveis pela fotografia e filmagem da festa já não é a mesma. A acessibilidade aos meios de registro descentralizou o 'poder' dos profissionais. "Ainda temos as famosas poses, mas o que está em alta é a foto-reportagem. Ninguém mais quer passar a festa sorrindo pra câmera, a ordem agora é aproveitar. O fotógrafo literalmente corre atrás dos noivos a festa inteira, pegando lances interessantes, sem poses. A festa em si é uma loucura. Festa em casa é coisa do passado, casa de festas é a palavra de ordem. Sim, as festas hoje são um espetáculo montado, com direção, coreografia, cenografia, iluminação e etc. Em alguns lugares, você pode até escolher a roupa da equipe de garçons. O salão conta com um organizador de festas, que comanda o espetáculo.O organizador de festas diz quem entra em qual momento, e todas as informações sobre o que vai acontecer durante o evento estão com ele e sua equipe. Dependendo do tipo de festa, essa equipe fica espalhada pelo salão, se comunicando via rádio com o chefe. É um mega evento: as aniversariantes dançam coreografias (dança do ventre, dublagem de Lady Gaga, etc), os noivos dançam coreografias, convidados cantam durante a cerimônia, noivos cantam. Broadway perde". Ufa! Com a descrição de Valéria é possível compreender o investimento depositado nas festas e os sonhos de mães depositados em filhas. "Quando ia chegando perto dos aniversários, minha mãe já ia dizendo: "Não me importa se vocês querem ou não a festa, eu vou fazer e, no futuro, vocês vão me agradecer por isso!", lembra Ester. Hosana Souza, recém-formada e nova universitária, já descreve o percurso que o DVD de sua formatura fará quando chegar: "Eu vou assistir primeiro sozinha - sou um pouco egoísta - depois vou levar lá na casa da minha avó paterna, que ela não pôde ir. Aí eu junto meus pais, primos, tios e a gente assiste, faz alguma coisa pra lanchar e se diverte". Parte da tradição ou não, tem-se um pequeno novo evento já planejado. A filmagem da minha festa de 15 anos, em 2005, deve ter circulado por metade de Belford Roxo. Já que todos os que compareceram, ou não, ficam com o material da festa emprestado por pelo menos uma semana. O que pra mim - na época - foi uma tortura. "Aquela de vestido branco, com cachos e coroa, não sou eu", pensava.

"Eu percebi que teria que fazer a festa, então aproveitei pra curtir! Quando penso no que rolou eu vejo que foi do jeito que tinha que ser, eu tava feliz, dancei com meus amigos. Não me arrependo de nada, só acho que eu poderia fazer de uma forma mais minha, mais legal", avalia a estudante de Letras Ester Brandão. Em sua festa, realizada no Clube Nilopolitano, também em 2005, ainda não era comum o uso de câmeras fotográficas digitais.

"Pra nós, de filmagem e fotografia, o trabalho nem sempre começa na hora. Hoje temos vários foto-produtos para a decoração da festa. Isso significa que, antes da data, os noivos/aniversariantes já passaram por algumas sessões de foto em estúdio para a produção desse material: banners, foto-clone (foto em tamanho natural, recortada, da pessoa ou casal), caixinhas, toalhas de mesa, etc, tudo personalizado com fotos. Às vezes, também temos clipes que irão passar no telão durante a festa. Nos nossos, as aniversariantes pulam de asa delta, andam de jet ski, jogam boliche, etc. Nada mais daquela candura de menina andando no Jardim Botânico, olhando as flores", relata Valéria. A descrição dos meus 15 anos, no entanto, há quase seis anos, incluiria: Entrada no salão de festas ao som "My Heart Will Go On", troca de vestido e valsa à meia noite, buquê e sentar numa lua durante a cerimônia - escolhas da minha mãe que seguiram todas as regras da tradição.

Padres
"O engraçado, pessoalmente pra mim, é ver a loucura que se dá na cabeça das pessoas. Vejo noivos totalmente tímidos, inexpressivos, que, ao verem o DVD de uma festa com um casal de noivos animados e extrovertidos, querem um vídeo igual. Então, incorporam um personagem no dia da festa, pra ter cenas engraçadas e divertidas no vídeo. E fica o vídeo totalmente diferente do jeito que essas pessoas são normalmente", comenta a fotógrafa e editora. Já Ester avalia o desencontro dos gostos pessoais com os gostos da mãe: "Penso que essa fixação da minha mãe foi mais porque para ela foi uma realização. Em 1972 era chique ter festa, era bonito, um rito de passagem. Mas os tempos mudam e as pessoas têm que mudar".

Assim como meus pais, que convivem com os clientes durante os meses que precedem a grande festa e compartilham de escolhas, alegrias e dificuldades, Valéria conta que acaba participando da intimidade das famílias, como se "buffeteiros" e equipe de foto e vídeo fossem "padres a quem as pessoas confessam seus pecados familiares". No caso dos profissionais da imagem, explicações surgem a título de permissões e "não permissões" de quem pode aparecer nas fotografias e filmagens. "É comum uma mãe vir pedir pra tirar foto de um irmão separadamente porque 'ele é filho de um caso extraconjugal do meu marido'. Ou a nova esposa de um pai que a família não quer que apareça na foto porque 'eles tinham um caso desde antes minha mãe falecer'", narra a fotógrafa.
Para Valéria, que além de fotografar, filmar e montar, também lida com roteiro para cinema, o fim da festa representa o início de uma outra etapa de seu trabalho: A edição, que acaba recebendo influências da linguagem "Multishow", com muitos cortes e ritmo acelerado. "A edição é uma loucura, porque a maioria quer o que vê num programa de televisão. Então escolhem músicas, mandam os créditos do DVD e pedem milhares de coisas. Editei um aniversário de 70 anos que foi uma festa à fantasia, num salão de festas infantil e a senhora só queria que eu colocasse hinos de igreja na edição, tipo "Glória, glória, aleluia", "Segura na mão de Deus", etc. Tem que se virar nos 30", rememora ela. "Acontece muito também que mães modernas enviem músicas 'modernas' pra edição da festa dos filhos, só que em inglês. Então, estou eu editando a criança na mesa do bolo e a letra da música que a mãe escolheu é tipo: 'I wanna fuck you, you already know'". Por vezes, os gostos dos clientes são tão específicos que interferem até mesmo nas vestimentas da equipe de fotografia e filmagem, como no caso em que a mãe de uma noiva chorou por não gostar das mesmas.

Para seguir as dicas da recém-casada Cinthia, confira no Orkut as comunidades indicadas:
Casamento
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=131612

Casamento, tudo feito por você
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=97126270

2 Comentários:

Hosana Souza disse...

A Josy como sempre maravilhosa. Parabéns! Beijos

Unknown disse...

Conheço a Valéria, e admiro o trabalho e profissionalismo dela, além de ter um um DNA familiar, há também o talento e bom gosto em seus trabalhos.

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