Carnaval fora de época

quinta-feira, 10 de março de 2011

por Bruno Firme


Quem passa pela Rua Dom Walmor entre as oito horas e o meio-dia se surpreende ao ver um homem vestido de palhaço desejando em alto e bom som "Bom dia, Brasil, hoje é carnaval" num dia em que nenhum bloco passaria e não ocorreria nenhuma festividade. Quando os carros paravam no sinal de trânsito, ele ia com sua bola de futebol fazendo embaixadinha e gritando um "Feliz carnaval". Além disso, falava para as pessoas não beberem e não dirigirem ou simplesmente exibia uma placa com tinta guache desejando "Amor e paz a todos". O calor desmanchava rapidamente o rosto maquiado de palhaço.

Apesar de suas piruetas com a bola e das provocações proferidas, escondia-se uma voz chorosa e embargada por trás dos seus gritos. Quando sua alegria é recompensada por uma moeda, dá três pulos e deseja que Deus me abençoe e fala que precisa de palhaco para ajudá-lo a pregar a paz e o amor.



Com 49 anos, João Cardoso, o "Peixinho", se veste de palhaço para exibir sua alegria no sinal da Dom Walmor há quatro meses, desde que o INSS o encostou por causa de uma hipertensão. Faturou ontem R$ 100. "Para manter minha família, resolvi fazer graça aqui", diz Peixinho, que sonha em lançar um CD com suas músicas dedicadas às crianças.

"Peixinho" sonha em ser palhaço desde quando nasceu, mas só pôde realizar seu sonho aos 17 anos, quando um palhaço de circo de Realengo foi impedido de entrar no picadeiro por causa da embriaguez. Quis o destino, porém, que "Peixinho" tivesse que abandonar a carreira por causa do vício do álcool. Recuperou-se do vício, mas a morte do filho num acidente de moto voltou a lhe tirar o chão. "Eu não queria ele andando de moto, mas mesmo assim ele comprou uma", conta o palhaço, sem segurar as lágrimas. O capacete que ele deu amorteceu a primeira queda que o filho levou, mas, no segundo acidente, um carro passou por cima. "E o cara não foi preso", lamenta.

Quando se veste de palhaço e vai para a rua, na verdade "Peixinho" está tentando esquecer a perda do filho. "Quero tranformar essa tristeza no meu peito em alegria para as pessoas". Conhece tantas marchinhas, que o professor Flávio Pacheco, 23 anos, o batizou de "mp3 ambulante carnavalesco". Seu sonho é lançar um CD com suas composições infantis no programa do Ratinho ou da Xuxa. Uma delas é "Chegou a hora e é agora de sorri e de brincar", cuja melodia se parece com a do Bozo.

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