Violinista, graças a Deus!

terça-feira, 26 de abril de 2011

por Joyce Pessanha


“Igreja só rouba dinheiro do povo!” Quantas vezes você já ouviu essa afirmação? Ou quantas vezes você mesmo já pensou assim? No entanto, as igrejas da Baixada Fluminense vêm provando o seu valor através de um grande serviço prestado à comunidade em que está inserida. Através da música, a igreja influencia jovens a optarem por escolhas saudáveis evitando até entrarem nas estatísticas catastróficas da criminalidade.

Igrejas, geralmente de pequeno porte e com fiéis de baixa renda, disponibilizam cursos que são ministrados por professores que aprenderam sozinhos ou com amigos. Ninguém de que se possa apontar uma especialização, graduação ou intercâmbios internacionais. Mas que através do compartilhar do pouco que sabem, despertam em crianças e jovens o amor pela música ao lhes dar a oportunidade de terem acesso a esse conhecimento. Talvez algumas pessoas nunca teriam acesso a essa arte se não fosse a oportunidade desse “compartilhar” que as Igrejas vêm disponibilizando à sua comunidade. E, através dessa oportunidade, vem se notando o crescimento de músicos de excelência, que estão inseridos no mercado musical, e que saíram da periferia e da baixa renda para o mundo.


É o caso de Felipe de Oliveira, violinista de 23 anos, que relata que o primeiro contato com a música aconteceu quando tinha apenas quatro anos, em uma igreja evangélica. “Quando vi um violino sendo tocado na igreja, foi amor à primeira vista! Podia ter escolhido muitos instrumentos, como violão, teclado ou bateria, mas a paixão fulminante que eu tive no primeiro olhar foi com o violino!”

Bolsa integral
Logo que conheceu o instrumento, o jovem pediu para que a mãe o matriculasse em algum curso. "Fomos procurar a mesma moça que vi tocando na Igreja, mas ela me disse que eu só poderia começar a estudar o instrumento quando fizesse cinco anos." Foi nessa igreja que ficou se preparando, com o violino emprestado da professora, para uma prova que garantisse uma bolsa no Conservatório Brasileiro de Música, que seus pais não tinham condições para pagar. "Ganhei uma bolsa de 100%",lembra ele, que, quando concluiu o ensino médio, começou a dar aulas na mesma instituição em que fez todo o ensino fundamental e técnico gratuitamente.

Sua trajetória também é marcada pela indicação que recebeu para ter aulas com Oswaldo de Carvalho, violinista do Theatro Municipal, gratuitamente, com quem ainda tem aulas semanalmente, e onde recebeu o treinamento necessário para que pudesse se tornar músico da OSBJ (Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem), onde trabalha nos dias atuais e onde teve sua maior realização: “Na OSBJ foi onde toquei pela primeira vez como profissional e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi surreal, um sonho realizado!”

Mas nem tudo foi flores na vida de Felipe: “Sempre ouvi familiares e amigos me dizendo para desistir, ninguém acreditava em mim, diziam que por ser negro e não ter recursos não poderia tocar um instrumento tão caro, que deveria tocar cavaquinho para conseguir alguma coisa. Mas com muito estudo e dedicação estou realizando meu objetivos e conseguindo viver de música.”

Apesar de todos os indícios levarem o violinista á música, sua família desejava que ele tivesse uma outra formação. Luis Felipe até tentou, mas após estudar três períodos de Biologia, abandonou tudo para seguir sua paixão e conseguir uma vaga na UFRJ, onde estuda licenciatura em música.

Alguém
O universitário, que estuda em média seis horas por dia, se sente alguém toda vez que coloca um instrumento na mão. “Eu tinha tudo para não ser ninguém, fiz prova para tudo, até pra químico, mas a minha vertente sempre foi a música, e a minha vida se abriu por causa da música. Se hoje eu posso dizer que eu tenho uma identidade é pela música, se me tornei alguém reconhecido pela sociedade foi por causa da música. Toda vez que eu toco eu sinto que sou alguém. As pessoas ainda me olham com um desdém por ser negro, mas após tocar vejo as mesmas pessoas me parabenizando pelo meu estudo e dizendo que sou uma influência positiva para outros.”

Luís Felipe participou da gravação do grupo “Pique novo” tocando a célebre música: “entra na minha casa, entra na minha vida (...)” Quem ouve o grupo tocando essa música não imagina que um dos seus músicos tem sua história intimamente ligada à música através de uma Igreja. Talvez, se aquele dia, a Igreja não estivesse no cronograma desse jovem, e dado a ele a oportunidade de ter contato com um instrumento, ele estaria em tantos outros caminhos, e o mundo perderia um talento primoroso e uma exemplar história.

2 Comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Joyce pela matéria, ficou muito legal. Nada melhor do que contar a história da pessoa mais importante para você, não?! Beijos!!!!!

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria Joyce. Que Deus continue abençoando sua vida, ou melhor, continue abençoando sua vida junto à minha. Beijo!

Felipe de Oliveira

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