Meio do caminho

quinta-feira, 19 de maio de 2011

por Saulo Martins


Estragar um filme que tinha todos os elementos pra ser uma obra-prima é muito fácil. A fórmula usada por Aluizio Abranches para, mesmo assim, fazer o filme ser uma grande bilheteria foi a escolha de um tema polêmico: o incesto. Mas, mesmo assim, com tanta história pra ser contada, ao assistir a "Do começo ao Fim" (2009), o primeiro pensamento que vem a cabeça é "90 minutos de nada".

O filme conta a história de Tomás e Francisco, dois irmãos que, desde a infância, já demonstravam sinais de uma intimidade exagerada. Na infância, as atuações não convencem. A relação fica pouco carismática e até desanimadora com os atores infantis. Em contrapartida, as atuações dos meninos, na fase adulta, são um dos poucos pontos positivos do filme. O casal mais velho tem uma empatia muito poderosa e, com certeza, se o roteiro desse a possibilidade, o filme se sustentaria nas atuações.


A mãe dos meninos, interpretada por Julia Lemmertz, morre quando eles já têm 20 e tantos anos e os dois começam a viver juntos. O primeiro grande erro do filme: passagem de tempo. Em uma cena, vemos Francisco defendendo Tomás e, na outra, vemos o enterro da mãe deles. É frustrante não poder acompanhar a descoberta da sexualidade deles, os primeiros momentos juntos, a reação das pessoas em relação aos dois. O filme pula de um período onde só percebemos os indícios de que eles vão se relacionar para o período onde eles já estão praticamente casados e toda a sociedade entende isso.

O diretor, em algumas entrevistas, se defendeu dizendo que, na verdade, só queria mostrar uma história de amor. Então, eu me pergunto, pra que inserir toda essa polêmica de incesto e homossexualidade? Temas tão ricos e tão mal utilizados no longa-metragem. A história dos dois é linda, a "história de amor" que Aluizio quis passar é fantástica, mas ainda assim o roteiro é questionável. Falar de tabus e polêmicas sem se aprofundar no tema, as vezes, nos soa como apelativo. Parece, em dados momentos, que o diretor teve medo de se aventurar nos caminhos desconhecidos desse assunto e acabou finalizando sua obra na metade do caminho. É essa a sensação que eu tenho logo após o fim do filme.

A fotografia traz planos bonitos e muito iluminados. A vida do casal parece ser muito boa com toda essa luz e, ao espectador, passa a ideia de felicidade plena. Essa linguagem desestimula o público: ninguém procura o cinema e o lazer para só ver felicidade. No filme quase não há conflito, mesmo que interno. Não há aceitação nem rejeição (tanto deles próprios em relação à condição de irmãos/amantes nem das outras pessoas), não há clímax, não há interesse. Só há luz, e a luz cega os olhos do espectador que fica vidrado na tela procurando o clímax do roteiro.

Alguns meses antes da estreia do filme foi divulgado um vídeo promocional que fez um grande sucesso na internet. Essa, talvez, seja a explicação da animação do público para um filme sem grandes custos (pouco menos de 2 milhões). Pena que a película inteira não faça justiça ao seu trailer.

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