mocotó com caviar

terça-feira, 28 de junho de 2011

por yasmin thayná

dudu de morro agudo e slow da BF

O miXtureba é um evento diversificado que reúne artistas, militantes, repórteres, crianças, classe média e classe popular no mesmo ambiente. O improviso e os erros técnicos, não influnciaram na audiência do programa que é mensalmente realizado no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro, pelo Movimento Enraizados, de Morro Agudo que fica na Baixada Fluminense.


O evento reuniu nomes como Ivone Landim, Dudu de Morro Agudo, Dida Nascimento, Gabiru, Marcão Baixada, Parceiros do RJ (Petter MC, de Nova Iguaçu e Luana, do Pavão Pavãozinho), Cacau Amaral, Slow da BF, entre outros, miXturando a Zona Sul com a Baixada igual Mocotó com Caviar. Não é a toa que aconteceu um momento dessa combinação estranha onde o roqueirão que é rapper e um monte de outros ritmos aglomerados, cantou baixinho, calminho junto com o Fernando que toca violão clássico. O resultado foi uma música rimada e ritmada na hora que tremeu o chão de madeira. Ninguém ficou parado. Nem os repórteres.

O mais estranho de tudo, na recepção do espaço, quem chegava, dava de cara com nada mais nada menos que Eduardo Moscovis. "Como assim o Eduardo Moscovis aqui no miXtureba?"


Apresentado por DMA e Slow da BF, a primeira atração a se apresentar foi a banda AntiZona que nasceu no Méier, Zona Norte do Rio. O grupo mistura há quinze anos o rock com o rap nos bairros adjacentes. Além das combinações, a banda é recem chegada de Cuba onde participaram do festival Puños Arriba. 
matéria escrita por marcãoBaixada sobre a antiZona

andré zovão
Após a banda, os apresentadores chamaram a poetisa, arte educadora, professora de literatura e militante de todas as causas femininas, LGBT, racismo, bullying e todos os outros assuntos que tornam a sociedade diversa. Ivone contou a história da sua infância cujo livro era ausente e que, se não fosse pela sua ousadia de enganar a madrasta e ler os recortes secos de jornais que embrulhavam comida para o gatos, ela não seria tão ligada a questão da leitura. Ivone conheceu, no ensino médio, o poeta Colinha, de Nova Iguaçu, que lhe trouxe um mar de possibilidades artísticas como Moduam Matos, Sylvio Monteiro e tantos outros nomes que militam na cultura da cidade de Nova Iguaçu.


Iniciada pelo poema do Hoje, sua intervenção passou pela poesia Imaginário Mulher, prestou homenagem ao Cordel de Fogo Encantado e fechou com Floresce na Periferia, que teve justificativa. "Eu sou educadora e passei pela academia. Vivi um tempo muito grande lá dentro e tenho certeza da importância da obra de Focault. Quando eu falo na poesia 'foda-se Focault' não é desmerecendo a importância dele na sociedade e sim porque há pessoas que se elevam demais porque leram um texto dele. O que não é certo. Então, isso é uma provocação a essa galera que tá começando agora, que não lê a obra de fato. E a poesia não fala só disso. O impacto é que no início eu já falo do foda-se. A poesia fala de outras questões", disse Ivone que não deixou de citar o projeto Entrelinhas realizado por ela e pelos alunos da rede FAETEC e que, agora está com o novo projeto em ação. "O Aprisco da Palavra vem pra discutir temas como intolerância religiosa. Faço meus fanzines pra misturar a arte e a militância, que não deixa de ser uma arte. A luta é uma ação que, por sua vez, é uma arte."

                                                              poetisa ivone landim
FLORESCE NA PERIFERIA

Sou o campo minado
Sou uma ameaça
Para eu Foucault: foda-se
Para eu Calvino é o trem de Japeri
E suas propostas para o milênio
Da supervia
Leveza
Rapidez
Exatidão
Visibilidade
Multiplicidade
E
Imaginação
Sou das cidades invisíveis
Do governo e da intelectualização
Das quebradas periféricas
Sou o medo da crescente classe média
Leio Ramed
Sou inclassificável
Sou um campo semântico
Minado de significado
Não sou substantivo
Do poder
Quero que os intelectuais que me colocaram
Na classe C,D,E,F,G
Vão se foder
Sou minado uma ameaça
Sou o Pó das Entre Linhas
Sou das quebradas
xplodo atividade cultural
e
Minhas palavras estão armadas.
Ivone Landim

O miXtureba tem quatro momentos que foram dirigidos pela atriz Gil Torres: o FalaTu, onde cada um fala o que quiser dentro de 1 minuto. O TáNaMídia que é a mostra de clipes seguido da opinião da plateia e convidados, o Jabá, "tu divulga aí o teu bagulho", e o "Calouro dá seu jeito." Todos os três momentos dão direito a prêmio.

                                     cineasta cacau amaral reclamou de um hospital de duque de caxias


E o miXtureba seguiu com o lançamento do videoclipe sacolinha do DMA que anunciou: "quem participou do miXtureba nas outras edições, sabe que tem um momento muito sério. Portanto, favor: não rir." Mas foi impossível não rir do clipe. Uma mistura de humor, infância, sonhos, formação, malandragem e religião dentro da vida de Dudu.


O TáNaMídia foi um vídeo propaganda dos bombeiros do Parceiro do RJ Romário Regis que fez uma comparação em relação ao salário dos médicos, professores e bombeiros. "Para todas as coisas da vida existem Master card. Para outras, Sergio Cabral", disse Romário no vídeo antecedido pela imagem do Governador do Estado dizendo que os bombeiros eram vagabundos e vândalos. "Nossos heróis são tratados como um lixo. E a antizona tá aí pra protestar", disse André. "Profissionais ligados que formam nossa vida não estão sendo valorizados", completou Ivone Landim.


Gil Torres, que fazia a plateia rir com seus comentários hilários, também protestou. "Eu faço parte de militância feminina e a gente tá combatendo a gordofobia. Gordinhos tem o direito de usar roupas que gostam de vestir. Não é o que a sociedade comercial impõe. Temos direito de dançar até o chão sim! Somos lindos."


Além do Régis, foi exibido o curta-metragem do Cavi Borges, que não estava presente, 7 minutos , um vídeo "Vivo Morto" da PUC que envolvia humor e violência, através da empresa telefônica Vivo e uma videoreportagem feita pelo repórter e rapper Petter MC em Nova Iguaçu sobre o trabalho de rua.

A Antizona tocou várias músicas que rimava a energia da platéria com a plasticidade das palavras projetadas sonoramente cujo objetivo era a liberdade de expressão. "Nasci no underground," disse o vocalista.


O "Calouro dá teu jeito", foi o embarcado pelo simpático MC Kokaum do Enraizados que não se intimidou de ir no FalaTu, Jabá e foi o calouro que rimou na hora o hit "Jabaman", que estará em breve nas lojas.


O último bloco do programa foi introduzido pelo grupo de teatro da Baixada Fluminense "Cheio de Graça", formado por Fábio Bruno, Leandro Lima e Yhorana Carpanelli que apresentaram uma peça que começou com "Vento no Litoral" de Renato Russo, envolvendo Rio de Janeiro, UERJ, amor, cinema, problematização, reencontro. A miXtureba finalizou com o fim da música de Renato Russo e o aperto no coração de Luiz Fernando, que amava Julia.

coletivo cheio de graça

Após a apresentação Fernando Cury do Duo Vila Rio, que mistura violão com viola de orquestra, parceiro de Ivan que não esteve presente, fez um som calmo e muito bem feito que misturou música clássica com a popular.
                                                                       fernando cury
 O fim do evento, reuniu todo mundo: platéia, apresentadores e convidados para o palco onde o DJ Machintal fez a descotecagem, as crianças balançando o braço como de costume nos eventos de rap, Leo da XIII rimando, todo mundo dançando. Foi uma miXtureba sagaz e de sucesso.


Zona Sul: mobilizai-vos para o Sergio Porto, no miXtureba. A periferia está de braços arreganhados assim como o Cristo Redentor está de abraços aberto nas janelas das suas residências.

4 Comentários:

Petter MC disse...

Belo post!

@PetterMC

Muito bom!!!
Parabéns!!!

Camila Senna disse...

Muito foda! A Ivone como sempre:"irreverente". Demais a poesia dessa Fulana de Tal.
Um Salvee.

Beijo grande, moça linda.
Shalom.

Romario Regis disse...

rs, Boa menina, adorei o comentário sobre meu vídeo e sobre o evento em sí, espero que tenha gostado e também que continue produzindo conteúdo na internet, vale a pena

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