Onde cair morto

terça-feira, 7 de junho de 2011

por Raize Souza

Na vida temos muitas dúvidas, mas uma coisa é certa: um dia vamos morrer.E é pensando nesse dia que as pessoas físicas estão investindo cada vez mais em auxilio funerário.Seja para não encontrar dificuldade na hora de enterrar seu corpo ou para deixar um dinheirinho para a família depois de sua partida.

Um exemplo de pessoa que fez o auxilio funerário pensando na família é Abílio P. Filho, 60 anos. “Como a morte é certa, é melhor ajudar a minha família. Depois que eu morrer minha esposa recebe e como fiz depois um para ela, se ela morrer, eu que recebo. Não fiz me agourando, fiz pensando na minha esposa.” Ele paga o seguro há cerca de 38 anos, depois de ser abordado por um sorrateiro vendedor de seguros, que numa só tacada fez negócios com ele e seus colegas de trabalho. O confisco "do dinheiro do povo" durante o famigerado governo Collor é uma das razões para que privilegie o “seguro de morte” em detrimento de uma possível poupança. “Vai que de repente fazem uma lei de novo e pegam? Por isso muita gente não coloca e prefere gastar”. Mesmo assim ele brinca:  “Se eu pudesse receber esse dinheiro era um bom negócio. Minha mulher vai receber e gastar com outro cara e não comigo.”

Há quem ache mórbida a organização da própria morte, mas mesmo assim está pesquisando o mercado de seguros. Esse é o caso de Telma Regina, 51 anos, que se interessou por esse negócio desde que um vizinha ganhou R$ 50 mil, "fez escova definitiva e foi para o norte". “Tenho horror a esse planejamento. Essa ideia não me cai bem, por isso vou fazer um seguro pensando no prêmio, e o seguro por trás, meio que me enganando”, diz ela, que não gosta das bem-humoradas propagandas da SINAF, pois acha que não tem como juntar morte com comédia.

Já a mãe de Telma Regina tem dois "seguros de morte" - um que ela paga para si própria, as noras e as netas, e um outro a que tem direito desde seu segundo casamento com um homem cujo trabalho disponibiliza esse serviço. “Auxílio funerário é uma coisa que ninguém quer, mas todo mundo tem que ter.” Quem faz coro com Telma Regina é Vânia Oliveira, de 42 anos, para quem “é importante ter um seguro para não ficar largado por ai". "O cemitério é uma coisa terrível, é largado, cheio de sujeira e mosquitos, quem sai de lá, sai destruído emocionalmente.”
Outras pessoas saem um pouco do comum, como é o caso da família de Tiago Costa. Ele diz que é dependente do seu pai no seguro. E revela que a mãe já organizou tanto o enterro dela quando o da avô. “No enterro da minha mãe vai ter filmagem, fotografia, coquetel, vão fazer unha, maquiagem, cílios postiços e tudo mais. No da minha avó, minha mãe quer camisas personalizadas com foto.” O rapaz diz que, como no enterro consegue reunir a família inteira, tem mais festas em funerais do que nas festas normais. E explica que acredita na crença de que estamos indo para um lugar melhor, um rito de passagem, logo deveria ser encarado de uma forma positiva.

Enfim, uns mais, outros menos, mas todos não querem dar trabalho depois que morrem. Se seguro de morte é uma coisa vantajosa ou não, muda de pessoa para pessoa. Mas pelo menos é a certeza de que você vai ter um lugar para cair morto.

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