Quando eu crescer...

domingo, 7 de agosto de 2011

por Joaquim Tavares



“O que você quer ser quando crescer?”, é, sem dúvida nenhuma, uma das perguntas mais repetidas pelos pais aos seus filhos quando ainda bem pequenos. Por mais inocente que possa parecer, essa pergunta gera uma resposta que dão indícios sobre muitos aspectos importantes da vida da criança. De tão clichê, já virou piada e a resposta debochada é “Quero ser grande!”. No entanto, no sentido de ser bem sucedido, quão ‘grande’ quer ser uma criança?
Um fato inquestionável surge dessa história: o que a criança quer ser, quase sempre, não é o que ela se torna quando ‘grande’. Por que isso? Será só coincidência? Há de se levar em conta os questionamentos feitos sobre o entendimento de mundo que a criança tem e que esses não lhe proporcionam uma escolha efetiva da sua atividade ao longo da vida. A influência dos pais também gera uma opção que, muitas vezes, não condiz com o real interesse dos seus filhos e que, mais tarde, vem a se modificar.
A mudança de opinião nessas situações até então apresentadas, soa como uma evolução, algo positivo. “Meu sonho era ser médica, mas não levei à frente. O mundo foi me mostrando outra realidade e me interessei em ser professora. Fiz o ensino normal e, hoje, sou formada em Geografia”, diz Sueni Marques da Silva, geógrafa de 48 anos, minha mãe.
Vanda Braz da Silva, minha avó, tem 70 anos e faz parte de uma geração que acha comum haver ‘lugar de rico e lugar de pobre’ e aceita todas essas diferenciações sem chamar isso de preconceito. Esse modo de pensar influenciou o da minha mãe e, por sua vez, sua carreira. Até que ponto elas agiram certo ou errado? Minha avó deveria não interferir na carreira da minha mãe? E mesmo que interferisse, minha mãe deveria fazer de tudo para se tornar o que de fato queria?
Respostas surgirão e vão se confrontar buscando o ‘certo’. Tudo isso em vão. O ‘certo’, nesse caso, não existe. Não existe graças a duas palavras mencionadas no corpo desse texto: mundo e realidade. O mundo muda, assim como a realidade. A realidade de hoje pode não se encaixar no mundo de ontem.
Não justifico a intervenção da minha avó e nem o conformismo da minha mãe. Busco apenas entender o motivo das posições tomadas e o porquê delas terem sido tomadas. Buscando o ‘certo’ eu deixaria de lado a discussão que interessa em torno desse assunto que é o confronto entre o querer e o poder e tudo que interfere no corpo dessa reflexão.
Esse texto não gerará nenhuma resposta. Perdoe-me por isso ou me agradeça! A intenção de fato é provocar um olhar mais sensível para questões ‘simples’ como essa que nascem com vários questionamentos, explicando um pouco da nossa existência e também da nossa ‘inexistência’ em certos aspectos. A inconstância do mundo se deve à inconstância dos seres humanos. Até que ponto isso é bom ou ruim, eu não sei!
Então, saiba que por trás de uma pergunta como “O que você quer ser quando crescer?” estão infinitos conceitos e conflitos que estão também refletidos na resposta dessa mesma pergunta e muitas vezes são invisíveis aos nossos olhos. A minha avó não perguntou a minha mãe o que ela queria ser. Ela apenas olhou para o mundo e procurou entender a realidade num intuito de ajudar a minha mãe com suas escolhas. Até que ponto ajudou ou atrapalhou, nem eu, nem minha mãe, nem minha avó, nem você sabe!
Todo esse texto foi escrito por mim, um pedagogo que, quando pequeno, perguntava a sua mãe sobre a existência de uma faculdade de mágico, pois era isso que ele queria ser quando crescer. Porém, ouvia sempre que essa profissão era muito mal remunerada, pouco respeitada e ninguém dava importância alguma para o que um mágico fazia. No fim das contas, satisfiz a minha mãe não sendo mágico, mas continuo numa profissão com esse mesmo perfil e que recebe esses mesmos julgamentos. Nessas horas que eu queria ter aprendido pelo menos algumas mágicas para me ajudarem a viver com o salário de um pedagogo e todas as dificuldades da área da educação.
Esse exemplo inteiramente subjetivo não vem por acaso. Minha mãe em suas palavras não disse absolutamente nada do que eu queria saber. Tenho certeza disso porque, após ouvir seu relato, fui procurar a minha avó. Palavras firmes que me deixaram perplexo, embora eu não demonstrasse, foram ditas com a maior normalidade do mundo e explicam um pouco da escolha da minha mãe: “Quando ela estava maiorzinha, eu falei que profissão de menina pobre era ser professora. Nossa realidade era muito difícil e o melhor a fazer era isso.”.

1 Comentários:

Leandro Oliveira de Aguiar disse...

bela matéria!

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