Inclusão mediana

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

por Joaquim Tavares (colaboração: Nathália Moreira)



O panorama escolar do Brasil, no que diz respeito à democratização do ensino voltado para os deficientes, vem se alterando bastante nos últimos anos, mais especificamente a partir da década de 90. Isso se deve a diversos fatores, mas um deles chama maior atenção: o reconhecimento e o aumento significativo de políticas voltadas para a educação inclusiva, com a finalidade de garantir o direito ao ensino de qualidade para todos. A escola passa a ter a obrigação de acolher todas as crianças, sem qualquer exceção, no ensino regular e adequar suas práticas para viabilizar o ensino dos alunos com necessidades especiais a fim de garantir uma educação inclusiva e integradora.


Assim, se por um lado assistimos no avanço da sociedade em relação à garantia legal dos direitos do cidadão, por outro, nos deparamos com novos desafios que precisam ser enfrentados. Um deles é o de fazer cumprir a legislação em vigor, garantindo aos portadores de necessidades especiais inclusão e atendimento educacional de qualidade na escola.



Neste sentido, a prefeitura do Rio de Janeiro criou recentemente a figura do Estagiário Mediador. Ele surge para dar suporte às escolas que possuem alunos considerados “especiais” matriculados em séries regulares de ensino.


É justamente o papel deste estagiário que deve ser posto em observação. O objetivo é analisar e discutir a maneira como se dá a inserção deste novo personagem na escola, uma vez que se trata de um agente cuja formação ainda não está concluída, nem mesmo para o exercício da docência.


É de vital importância pensar na forma adequada de desenvolver o aprendizado das crianças incluídas e cuidar para que essa inclusão aconteça de fato. Para isso, é necessário que os responsáveis por esse processo saibam o que fazem e quais são suas obrigações e limites de atuação. 


O que vem acontecendo no município do Rio de Janeiro é a contratação de estudantes do curso de Pedagogia sem uma forma eficiente de preparação para ocupar uma função de tamanha importância como a mediação de alunos integrados. As escolas se veem na obrigação de receber todos os alunos, mas não parecem preparadas para garantir uma inclusão que vá além da presença em sala de aula, tornando-a legítima. Por isso, buscam através dos estagiários um trabalho que promova uma maior participação e um melhor aprendizado para os alunos incluídos. 


No entanto, os graduandos são contratados por ordem de preenchimento das vagas com o único requisito de estar cursando a faculdade de pedagogia, independente do período. O pouco preparo que recebem são aulas teóricas que transmitem apenas definições gerais e que são assistidas durante o período de atuação na escola, com uma divisão de, em média, duas aulas por semestre.


Estes estudantes chegam despreparados e desinformados às escolas que os entregam às crianças deficientes como se essas passassem a ser responsabilidade apenas deles e não mais da equipe escolar, o que inviabiliza a integração e, com esse simples fato, passa a nomear de “incluído” o aluno que se mostra apenas de corpo presente na sala de aula, sem estar inserido de forma significativa nesse contexto. 


Soluções simples como o preparo antecipado dos estagiários promovido pelas universidades ou por equipe especializada poderiam sanar de forma significativa o problema. Não sendo feito nada disso, nessa história toda, ninguém sai ileso. Todos perdem demais: escola, estagiário, aluno especial. Logo, a sociedade.

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