por Vinicius Vieira
Nada como colo de vó. Aquele cheirinho de comidinha caseira, aquele ombro, aquele abraço e até mesmo aquele sermão. Ainda lembro de meus onze anos, morando com aquela velhinha doce e às vezes amarga que eu chamava de “Véia”.
Lembro-me das inúmeras vezes que ela ligava de seu trabalho e dizia “tenho surpresas pra você” e eu enchia o saco da minha mãe dizendo pra ela contar o que era. Apesar de ter se tornado previsível que ela traria sempre um saquinho de pipoca e alguns bombons, a emoção de ver que a Véia se lembrou mais uma vez das “surpresinhas” pra mim, era enorme. Ela chegava e dizia: “Ó, trouxe pipoca e bombom, mas come escondido do seu pai porque ele vai brigar comigo”. Eu adorava aquele espírito aventureiro de ficar no quarto da vozinha e comer tudo antes do meu pai chegar do trabalho.
“Dona Lionir, a senhora tá estragando esse menino com todo esse mimo”, dizia sempre meu pai, depois de eu levar uma boa surra por ter quebrado alguma coisa dentro de casa e ia chorar no colo da Véia Lionir. Ela, tomando minha dor como sua, chorava junto comigo, dizendo que tudo aquilo era pra me educar e que não precisava chorar. “Mas vó, a senhora tá chorando também”, respondia. Ela ria e aquilo se tornava um momento de descontração.