A caçula das pré-conferências

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

por Josy Antunes  

Quinta-feira, 15 de outubro, 19 horas. Entre grafites e instrumentos musicais, numa espaçosa sala da Escola Livre de Música Eletrônica, na Cerâmica, um grupo de mais de 30 pessoas está reunido em círculo, discutindo as relações dos moradores com a cultura local. Chegando ainda mais perto, podemos ver uma menina com aparência muito jovem, camisa laranja, óculos e flor no cabelo. Ela se apresenta como Yasmin, aluna da escola. Ao lado da mãe, a menina passa a observar com atenção a cada pessoa que toma a palavra, com um olhar de quem pretende absorver tudo o que for dito.
É quando Écio Salles convoca o pesquisador Antônio Lacerda, para fazer uma breve dissertação sobre a história do bairro, que a atenção de Yasmin parece triplicar. Seu encantamento é tanto que ela empunha seu celular e passa a fotografá-lo com a pequena câmera do aparelho. A partir daí, todos os presentes passaram a estar na “mira” da menina, que se dividia entre observar e capturar imagens do encontro.
A mãe, Tânia Maria, inclui-se no debate falando sobre sua participação na Escola Aberta, onde frequenta diversos cursos gratuitos, aos sábados, numa escola das proximidades. Minutos antes das 21 horas, com as discussões em plena atividade, tendo a participação de alunos, moradores e produtores culturais, Yasmin levanta-se. Carregando uma folha de papel, dirige-se a Anderson Barnabé, mostrando-lhe o conteúdo escrito na folha: “Vamos sair à francesa”. Barnabé, o diretor da Escola Livre de Música Eletrônica, acha graça e despede-se da menina, que logo vai dar seu beijo de despedida em Veruska Thayla, coordenadora da Escola Livre de Cinema.
Quando a dupla sai, me apresso em segui-las e encontro-as paradas ao lado de um colossal carro, grafitado no final do ano passado – evento que reuniu alunos das duas Escolas Livres já citadas, em comemoração à conclusão dos cursos, liderados pelo grafiteiro iguaçuano Dante Nogueira. Enquanto Tânia fala ao telefone, Yasmin Lima Lourenço, segurando um guarda-chuva do tipo “bengala”, conversa comigo. Respondendo minha curiosidade, ela relata sua trajetória dentro da ELME. “Eu estava indo ali no mercado da Cerâmica, passei aqui na frente, escutei os sons e vim perguntar como era”, relembra. O fato aconteceu no início de 2008. Desde então, Iasmin não parou de frequentar o grande galpão que abriga a ONG.
De início, a menina lista seis instrumentos que aprendeu a tocar durante o período, enfatizando o gosto pela alfaia. O instrumento é semelhante a um tambor, como pude observar em seguida, olhando para cima, depois da mãozinha da pequena apontá-los com o dedo indicador. “Eu toco e faço músicas no computador”, orgulha-se Yasmin, que participou da produção dos filmes do Câmara Cascudo, uma parceria dos alunos da Escola Livre de Música Eletrônica com os da Escola Livre de Cinema, em Miguel Couto. O conto do qual participou foi “O mendigo rico”, que ganhou uma trilha repleta de funk. “Eu já toquei lá na Rio Sampa e a gente vai ter mais eventos esse ano”, completa ela.
Quanto às dezenas de fotos tiradas dos participantes da pré-conferência, Yasmin, que é aluna da Escola Municipal Douglas Brasil, garante: “Vou colocar no computador, salvar e depois mostrar aos meus colegas”. Tânia Maria, a mãe, que já observava o bate-papo, não pôde deixar de contribuir: “Ela sabe dividir escola e Escola de Música Eletrônica. E ela divide muito bem. Pra mim só teve melhorias”, conta ela, acrescentando que desde que iniciou o curso de música, Yasmin percebe, comenta e relaciona a seu aprendizado, todos os sons que escuta.
A dúvida que restava era: quem havia trazido quem para a pré-conferência? “Decidirmos vir juntas”, explica Tânia, “Eu acho que vai ter um valor grande cada um ter saído de casa e ter vindo aqui, se pudermos esperar uma resposta boa depois”, finaliza, apressada devido ao horário para regresso à casa.

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