Trezentas indagações

domingo, 11 de outubro de 2009

por Josy Antunes


Momentos antes da 2° pré-conferência, que aconteceu na última terça-feira, na Escola Livre de Cinema, em Miguel Couto, a biblioteca Cacá Diegues recebeu, entre seus livros e o conforto de almofadas e cadeiras, um grupo de dez alunos para uma reunião decisiva. Tratava-se de um “aguardado” bate-papo com Marcus Vinícius Faustini – Secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu e um dos idealizadores da ELC – sobre a produção alcançada durante as aulas de “Desenvolvimento de Projetos”. Enfatizo a palavra “aguardado”, pois eu estava entre os dez. E garanto que, após cerca de três meses de intensa pesquisa, sabíamos que seríamos severamente contestados por Faustini e suas trezentas indagações.

Para explicar o encontro – onde também estiveram presentes o produtor Raul Fernando e a primeira dama de Nova Iguaçu, Maria Antônia Goulart – farei, com a promessa de tentar ser breve, um passeio textual cujo início remonta ao dia 15 de abril do presente ano. Quando, às 18 horas, houve a seleção para mais uma das experimentações da direção da escola: a turma de Desenvolvimento de Projetos, que aconteceria em parceria com a UFRJ – a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ao todo, dez pessoas seriam selecionadas e, divididas em duas turmas, receberiam orientações de Ilana Strozenberg e Fernanda Bruno, ambas doutoras em comunicação e importantes professoras da UFRJ.

Como já deixa explícito o nome da turma, elas auxiliariam na pesquisa que culminaria num projeto, locado em Nova Iguaçu, que integraria o programa “Da palavra à imagem”. A seleção dos alunos – que tinham como exigências mínimas já ter participado de algum curso na ELC e ter uma ideia na cabeça – aconteceu da seguinte forma: recebemos um lápis preto e uma folha de ofício, onde deveríamos descrever, em sete linhas, o tema de nosso possível projeto. No verso da folha - a parte onde deveríamos ter um bom domínio de persuasão - deveríamos, também em sete linhas, defender a importância de nosso projeto para a cidade.

Pega de surpresa, escrevi sobre inquietações pessoais do dia-a-dia: os porquês de certas convenções incorporadas no cotidiano. A ideia deveria ser defendida minutos depois, perante uma banca formada por três avaliadores. Entre eles estava o pesquisador Écio Salles, que representava o elo entre ELC e UFRJ.


As turmas selecionadas ficaram da seguinte forma: Wallace Santos, Cristiane Santos, Alan Santos - sim, é pura coincidência – Elaine Cristina e Ester Brandão que, como viríamos a saber, seriam orientados por Fernanda Bruno. Enquanto Ilana Strozemberg caminharia comigo, Kelly Cristina, Alexandre dos Santos, Andréa Souza e Shirleimare Freitas.

Depois da primeira reunião, de apresentação, passamos a ter encontros quinzenais, na sala de animação da ELC. Foi lá onde começamos a fazer os recortes e dar forma a nossas ideias. A minha, por exemplo, transformou-se numa pesquisa baseada na atemporalidade dos uniformes de normalistas, figuras comuns pelas ruas de nossa cidade. A de Kelly mostraria os artistas de rua. Alexandre decidiu por mergulhar no universo dos compositores iguaçuanos, escolhendo cinco personagens: dentre eles a jovem vencedora do festival de música do Instituto de Educação Rangel Pestana, o Repentista Miguel Bezerra e o rapper Nike, do Bloco 18. Andréa daria foco aos vendedores ambulantes, mais especificamente um grupo que fixa seu ponto de vendas na Via Light. Enquanto Shirlei, por fim, trataria da peculiar linguagem dos “pipeiros”.


Enquanto desenvolvíamos nossos projetos, também participamos do “Colisões”, uma iniciativa do PACC – Programa Avançado de Cultura Contemporânea – em conjunto com a Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Todas as quintas-feiras eram reservadas a esses encontros, que aconteciam na ECO – Escola de Comunicação – da UFRJ. O nome “Colisões” já dá indícios do que esses dias nos reservavam. Nós, alunos da ELC, juntamente com alunos de comunicação da UFRJ, éramos guiados, em nossos voos entre literatura, cores e imaginação, por Bianca Ramoneda e Dante Nogueira. Respectivamente: poeta da Zona Sul e grafiteiro de Nova Iguaçu. Sobre a mistura de experimentações que a dupla nos proporcionou, aliadas as visitas de mestres em autores como Clarice Lispector e Lima Barreto, poderia fazer um relato de estrondosa extensão. Mas opto por afirmar: Saía da ECO, a cada quinta-feira, em estado de êxtase.

Após meses buscando referências bibliográficas, fazendo entrevistas e pesquisas, formatamos nossos projetos, naquele clássico modelo de apresentação: contendo objetivos, justificativas, discussão teórica e tudo o mais. Projeta-se a culminância em nove produções audiovisuais e uma exposição fotográfica. E é nesse momento que retorno ao presente, ao início desse texto: a tal reunião decisiva. “Vocês aqui são um grupo experimental. A gente está testando como trazer o doutorado da UFRJ pra trabalhar com alunos que não são do doutorado, e muitos nem cursaram a universidade, e construir uma coisa que seja interessante tanto pra quem está aqui quanto pra quem está lá no Rio. E isso é inédito”, depõe Maria Antônia.

Nosso próximo passo será o envio de três vias de nossos projetos, para a Escola Livre de Cinema, até 30 de novembro. E então, um novo processo de seleção nos aguarda: defenderemos nossos projetos perante uma banca. Após a avaliação é provável que apenas um seja escolhido para ser posto em prática, com o apoio da ELC. O produto final, seja dos filmes ou exposição, será visto com prioridade pelo público do III Iguacine, que acontecerá ano que vem. “Dia 7 de novembro eu quero vocês arrebentando, deixando essa banca de quatro. Vai ter filósofo e artista plástico”, já anuncia Faustini, para nosso encorajamento ou temor.

A construção das pesquisas, feitas pela turma da Ilana, ficou registrada aqui: http://nosdoblog.blogspot.com/. Já a turma da Fernanda pode ser encontrada no http://dapalavraaimagem.blogspot.com/.

Uma árvore fantástica

por Jéssica de Oliveira


Quarta-feira, início de tarde. Um carro com o símbolo da Rede Globo de Televisão estaciona em frente à Escola Livre de Cinema, em Miguel Couto. Mauricío Kubrusly e sua equipe desembarcam, cruzam a porta e o hall de entrada e vão ao encontro de cinco crianças que estavam ansiosas por este momento. O motivo da visita do repórter global é que alguns alunos da Escola Municipal Ana Maria Ramalho, que frequentam a Escola Livre de Cinema graças à parceria formada pelo Bairro-Escola, são pauta do programa Fantástico dessa semana.

“Devido ao Dia das Crianças, o Fantástico nos procurou e propôs uma reportagem em que os alunos da escola produzissem um curta-metragem que seria exibido no programa, além da filmagem dos bastidores da produção, que ficaria a cargo da Globo”, explica Marina Rosa, instrutora da escola.

E assim foi feito. As crianças subiram até a sala de animação e se posicionaram. A partir deste momento, a direção e produção do vídeo fica por conta de Micaela de Carvalho, 11 anos, Wagner Aguiar, 11 anos, Michele de Souza, 10 anos, Ronne Castro, 10 anos, e Jonathan Lacerda, 14 anos. Maurício Kubrusly estava junto e, com muito bom humor e paciência, transmite segurança aos “iniciantes” para começarem a gravar.

Mas afinal, qual é a pauta que fez a equipe do Fantástico visitar um bairro de Nova Iguaçu? Surpreenda-se você também, afinal, o tema do vídeo que está sendo feito não é do tipo que se vê em qualquer lugar. Pode-se dizer, talvez, que é uma exclusividade da Escola Livre de Cinema; ou melhor: é uma exclusividade de Nova Iguaçu, mais especificamente do bairro Jardim Rodilândia. Sem mais delongas, lá vai:
A Escola Livre de Cinema orgulhosamente apresenta para o Brasil e o Mundo, a Árvore Grávida!

 
 
 
 
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