Mudança em sete notas musicais

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

por Hosana Souza
Agora chegou a hora de colaborar e mudar isso”. Esse foi o pensamento que moveu Décio Trindade, 48 anos, hoje conhecido como Décio do Cavaquinho, fundador da “Escola Comunitária de Música Amigos de Comendador Soares”. A escola, que existe há cinco anos, começou funcionando na casa de Décio, tendo apenas 50 alunos. Mas hoje, após ter sido contemplada pelo “Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga”, está em um espaço alugado, atendendo 170 jovens e crianças da comunidade, com aulas de violão, cavaquinho, percussão, canto e teclado.

Décio nasceu e cresceu em Comendador Soares e, cansado de ver crianças com perfis violentos, trazendo como única referência musical o funk, resolveu montar uma escola onde elas aprendessem diversos instrumentos e entendessem novos ritmos. “No início eu queria fazer a escola para dar à comunidade uma re-educação musical, porque aqui eles só tinham o funk. Eu conheço o poder da música e queria que, através dela, eles entendessem o que é respeito. Hoje nossos jovens têm mais equilíbrio, aprenderam que têm direitos, mas, principalmente, deveres com o próximo”, diz satisfeito.

Décio trabalha como professor há vinte anos e já desenvolveu projetos com crianças do Morro dos Macacos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. “O trabalho com eles me fez ver que daria certo tentar algo aqui”, conta. “Eu comecei adolescente, adquiri um cavaquinho usado e comprei algumas revistinhas de pagode. Por isso “Décio do Cavaquinho”. Sou um autodidata”, diz, em tom de brincadeira.

Mas nem todos terão seus dons manifestados se não forem incentivados e, como nem sempre as pessoas enxergam na música uma profissão, é difícil conseguir apoio e desenvolver trabalhos, como alega o professor: “A música é o quarto maior grupo a movimentar a economia mundial, além de auxiliar no físico e mental. Como não percebem isso na música, muitos alunos chegam e falam: ‘Quero aprender só um pouquinho, me divertir, saber alguma coisa para tocar com a família’. Mas cansei de ver casos em que eles perdem o emprego, tocam algo aqui, algo ali, ganham uns trocados e terminam só com a música mesmo”, entrega Décio, que brinca: “Eu, por exemplo, até hoje vou assim, sobrevivo de música. Não fiquei rico, mas consigo fazer a feira”, encerra entre risos.

A Escola de Música, que já modificou a rotina de Comendador Soares, também carrega orgulhosa em seu histórico meninos como Jefferson Cerqueira, 20 anos, que tiveram sua história transformada pela música. “Tudo começou com meu irmão mais velho. Ele estudou violão com o Décio e fez com que eu me interessasse. O Décio abriu as portas da casa dele e eu corri atrás. Acompanhei toda a construção da escola e hoje sou monitor voluntário para as aulas de violão”, conta orgulhoso.

Jefferson diz que a “palavra-chave” de sua vida com música é “mudança”: “Todo mundo fala: ‘Como esse menino mudou depois da escola de música...’ Eu retomei o prazer de viver. A música me ajuda a mostrar o que sinto. Mudança, eis a palavra”, declara o jovem, fixando: “Há seis anos atrás eu não sabia quem era o Jefferson”, fala emocionado. Ele, que também está aprendendo a tocar clarinete, hoje auxilia na criação de uma escola de música comunitária em Austin. “Meu sonho é levar o projeto para outros bairros e poder beneficiar outras pessoas”, conta Jefferson, compartilhando seus planos.

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