Pé grande

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

por Julliane Mello

Pé-de-moleque parece coisa de criança. Mas no caso da ong homônima com forte atuação em Corumbá as aparências enganam. O foco da entidade, criada há nove anos, é formar jovens e adultos para o mercado de trabalho.Tem sido assim desde a fundação, quando a instituição tentou empregar 20 jovens com ensino médio completo e que tivesse algum conhecimento em informática. "Na época, só conseguimos cinco jovens, pois a maioria não tinha o ensino médio completo", conta Denise Luz, de 46 anos, idealizadora e presidente da ong. A partir daí um grupo se organizou para constituir uma instituição que pudesse ajudar o bairro de Corumbá e seu entorno oferecendo cursos profissionalizantes e capacitação profissional.

A primeira conquista daquele grupo foi criar o Centro Comunitário de Corumbá, cuja sede fica na Rua Belina, n°23. Três anos depois, o rupo já podia se orgulhar da qualificação profissional de mais de 2300 jovens e adultos, que se formaram em atividades que iam do telemarketing ao serviço de buffet, passando pela fotografia e garçom. Os primeiros parceiros também ajudaram a criar um pré-vestibular para negros e carentes, uma sala de EJA e um curso de empreendorismo.

Uma reforma estatutária em 2002 deu autonomia para que a Pé-de-moleque ampliasse o leque de atuação, passando a trabalhar com crianças e jovens de 3 a 17 anos usando como ferramenta a inclusão digital, programas culturais, ambientais e esportivos tendo como eixo o rendimento escolar e o combate à evasão. "A nova diretoria entendeu que a prevenção é o melhor caminho", lembra Denise Luz.

O trabalho de qualificação profissional e alfabetização também geram renda para os alunos, e o apoio de moradores e amigos é

importantíssimo para o desenvolvimento dos trabalhos para a comunidade, que é o foco da Pé-de-moleque. Esse trabalho com certeza será fortalecido com os dois projetos que a ong aprovou no Edital Escola Vida, mais conhecido como os editais dos pontinhos de cultura. "Vamos atender 665 estudantes em quatro escolas do entorno", comemora Denise Luz, que não esquece de contabilizar os diversos empregos gerados na comunidade ao longo dos próximos doze meses. O centro comunitário Pé-de-moleque vai receber cerca de R$ 150 mil para administrar esses projetos.

O projeto mais pretensioso é "Nova Iguaçu - Memórias de ontem contadas e cantadas por gente de hoje", que vai atender 460 estudantes da Escola Municipal Marcílio Dias e da Professora Enilza. "Nossa ideia é colocar as crianças para pesquisar na região, transformando histórias e personagens interessantes do nosso entorno em esquetes", conta Denise Luz. O outro projeto é "Construindo, ritmando e reciclando música", que vai atender 225 estudantes da Professora Iramar e da Nicanor Gonçalves Pereira. Além de atender uma comunidade carente, esses pontos de cultura representam um reconhecimento do poder público a um trabalho feito em um bairro esquecido e com muitas necessidades. “Este fato dá um gás e uma vontade a mais para continuar realizando os trabalhos, sem dúvida.”

O grande número de migrantes na cidade faz com que, no entender de Denise Luz, trabalhar com a cultura em Nova Iguaçu se torne um grande desafio "As culturas se misturam e fica difícil saber a identidade cultural do município, que acaba não trabalhando

uma cultura local e sim regional, pegando um pouco de cada um e fazendo com que os bairros tenham sua característica própria".

O fato de Nova Iguaçu ficar na periferia do Rio de Janeiro também dificulta os trabalhos sociais na cidade. “Por estarmos na periferia, a dificuldade política de enxergar projetos é muito maior do que no grande centro", lamenta Denise Luz, para quem temos as mesmas crianças sem escola, tráfico, desempregados e mendigos, mas, por estarmos “escondidos”, não enfeiamos a capital.

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