E o palco tão sonhado saiu...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

por Mayara Freire  e Nany Rabello

Começou com um céu de estrelas. Depois as estrelas saíram do céu e se apropriaram do palco, que por si só era mágico. O último dia de filmagens do documentário sobre o sonho de voltar aos palcos do Seu Theógono aconteceu neste último sábado, em Mesquita.  Foi um encanto, que foi transmitido a todos os presentes que acompanharam sua reestreia. Um grupo de amigos o conheceu em Mesquita e resolveram fazer um documentário sobre a relação desses jovens artistas com um homem de 81 anos, que, embora há 30 anos tenha trocado a magia pelo trabalho como alfaiate, manteve vivo seu amor pela arte. Acreditaram no seu propósito e o ajudaram a montar um palco que ele mesmo idealizou, de 6 metros de altura, e nenhum parafuso, para seu retorno.

Com as câmeras posicionadas, a grande noite começou por volta das 21h, com tudo montado nos fundos do Centro Cultural Casa do Caminho, no Centro de Mesquita. Seu Théo, de 81 anos, como o grande veterano e estrela da noite, iniciou seu espetáculo de mágica. O público, formado por jovens, adultos e crianças, com aproximadamente 80 pessoas, se mostrou surpreso e curioso com seus números. A apresentação rendeu risadas e muitos aplausos. A satisfação ficou por conta da equipe envolvida durante os nove meses de projeto. “Acreditamos no sonho do Seu Théo”, conta o produtor cultural Victor Iotte, 26 anos, que conseguiu envolver cerca de 50 pessoas na produção do documentário.

Após a apresentação, Seu Théo contou a razão pela qual é uma grande satisfação subir aos palcos depois de tantos anos. “Comecei a fazer mágica com 8 anos de idade”, lembrou ele, que saiu de São Paulo para trabalhar em boates e cassinos na noite carioca. A crise econômica obrigou os empresários da noite a fecharem seus negócios e, desorientado, trocou a vida artística por um ofício menos arriscado do ponto de vista econômico. Depois de 30 anos sem se apresentar, Seu Theo não cabia em si de tanto contentamento e gratidão aos artistas que giram em torno da trupe de Los Tchatchos. “É uma sensação gostosa, pois parecia que tudo tinha acabado. Foi através dessa galera jovem que acreditou em mim que tudo foi realizado. Eles caíram do céu, e o entusiasmo deles me contagiou, fazendo com que tudo isso pudesse tornar realidade”, disse.

Durante as três horas de espetáculo, artistas de vários lugares do Brasil e até do Uruguai deixaram a noite mais divertida. Houve intervenções teatrais, grupos de palhaços, malabaristas e os artistas do Los Tchatchos Trupe como anfitriões. Fabiano Branco, um dos diretores do filme, que ainda está em processo de finalização, usou “várias câmeras diferentes, entre amadoras e profissionais, para criar uma linguagem diferente, como uma produção independente”, para o que considera uma história fantástica. 

Uma das razões para o diretor do documentário se entusiasmar com o projeto é porque ele acredita que ‘O Palco vai sair’ mostra que “é possível construir idéias, com a idéia de grupo, pois o coletivo cultural é o alicerce”. Tanto é assim que o filme  será concluído com reuniões em grupo. Fabiano Branco está impressionado com o atual cenário artístico, marcado pelo mesmo espírito coletivo presente na produção do documentário. “Está acontecendo uma aceleração da “molecada” que está trazendo isso de volta, pois estava abandonado há muito tempo. Hoje, por exemplo, tem gente do Brasil inteiro e da América do Sul. Estou vendo um grande resgate dessa cultura de circo, seja em sinais de trânsito ou em convenções”, contou.

Uma das produtoras do evento, Dannis se impressionou com a capacidade de mobilização do grupo, que durante meses levantou dinheiro nos sinais para poder produzir o palco concebido pelo ‘Vô’, como ela chama Seu Theo. “Não tivemos nenhum tipo de patrocínio financeiro, e o dinheiro dos ingressos vai ser só pra pagar o aluguel das cadeiras”, conta Dannis, uma das co-produtoras do evento. Dannis também ficou encantada com a estrutura do palco, que tem 6 metros de altura, pesa quatro toneladas e é totalmente de encaixe. Um grande sonho que deu trabalho, mas que vale o preço. O palco vai viajar com a equipe de produção e o Vô pelos lugares marcantes que o filme mostra, onde eles irão se apresentar novamente.

Comovido com a história de Seu Theo e da construção do palco, Otávio Fantinato, considerado o maior malabarista de Contato do Brasil, veio diretamente de São Paulo para prestigiar o evento. “Conheci os Tchatchos em uma convenção em São Paulo  e me tornei um grande amigo do Emerson. Assim que ele me falou do projeto me apaixonei pela ideia. É linda a história de Theógono e da construção do palco. É uma grande satisfação estar aqui”, falou.

“É a galera mais quente que eu já vi na minha vida, que fez tudo dar certo”, dizia Paulo Vitor, o famoso PV, agradecendo a Louise, Vitória, Dannis, Felipe Samura, Vitinho, Felipe Coelho, PV, Emerson, André, Branco, Paulo China, Nego Joe, Serginho e, é claro, o Vô. “O mais legal é que sempre tem alguém querendo ajudar. É impossível não se apaixonar pela história do Vô”, acrescentou Emerson, que se descobriu praticamente vizinho de Seu Theo. “Um amigo falou dele pra gente, e acabei descobrindo que morava na rua dele! Tanto tempo com essa história ali do nosso lado e a gente nem notava”, completou.

Após uma semana de correria, agitação, preparativos finais e muita, muita chuva deu tudo certo e o palco finalmente saiu. Depois de um sábado de sonhos, um domingo de promessas sendo cumpridas. “Juro que vou pra igreja se não chover no dia 12. Passo o domingo lá se for preciso. É a única coisa que precisamos para que de tudo certo”, prometeu PV. Depois das bênçãos dos céus, uma noite sem chuvas, uma manhã de orações agradecidas, ficou somente a lembrança de um espetáculo de sonhos, o ‘Gran-Finale’ de uma filmagem e apenas o inicio de mais uma linda história. Uma noite que não será esquecida. Uma noite em que um palco, uma história de vida, um sonho e muitas estrelas aconteceram juntos.

Para obter mais informações, consulte o blog http: opalcovaisair.wordpress.com