por Jéssica de Oliveira
Como é de praxe, todas as segundas-feiras do mês os estagiários do Bairro-Escola se encontram com o artista plástico Romano para a elaboração das oficinas que serão realizadas nas escolas do município no Horário Integral. Dessa vez, a ordem é fazer com que a criançada crie em si mesma um espírito indagador e formador de opinião. "Nós criaremos um 'lugar' para as crianças se expressarem livremente", encoraja Romano em um de seus guias de ação. "Esses encontros vão produzir uma intervenção para criar um espaço de diálogo livre entre as crianças e a escola, utilizando materiais reciclados".
Com alguns objetos simples, somados a muita imaginação e criatividade, Romano propõe aos mediadores culturais formas de fazerem com que os alunos manifestem seus pensamentos, gostos e vontades, dando a eles a importante função de "ativistas e transformadores". "O objetivo das intervenções é fazer com que as crianças enxerguem e interajam com a realidade delas", pontua.
A importância desses questionamentos, segundo Romano, é desenvolver a visão crítica das crianças sobre o bairro onde moram e a escola em que estudam. Para isso, a receita é simples: o mediador deve criar uma atmosfera agradável e encorajar as crianças a se expressarem por meio de pinturas, poemas ou diálogos. "Organize um jogo, peça que escrevam palavras e coloque em um papel separado cada uma delas. Depois sorteie e peça que façam frases com as palavras sorteadas. Diga a elas da importância de falar e escrever sobre o que se pensa", aconselha. "Explique às crianças a responsabilidade do que falamos. Lembre a elas da gíria 'fala sério!'".
Na tela da TV
O mediador deve, também, indagar a participação da mídia na vida daquelas crianças, sobrepondo a visão de cada uma. "Quais as atividades prazerosas e afetuosas que ocorrem no local onde elas vivem que não estão representadas nos jornais?", comenta. "Quando acontece alguma coisa ruim na periferia e isso vira motivo para discussão - como problemas com o tráfico de drogas ou enchentes -, torna, mais uma vez, um estigma da periferia nos jornais".
Dessa forma, o ambiente criado pelo mediador deve proporcionar a segurança para a criança expor seus pensamentos. Basta mostrar que a opinião da criança, idependente da idade, é importante. "Pergunte se elas, alguma vez, tiveram uma visão satisfatória do lugar onde moram ou da escola. Por que a periferia é sempre vista como um problema nos jornais? Quais os fatos que ocorrem na periferia que não são um 'problema'?", questiona. "Criem 'objetos contadores', como um microfone de papelão ou uma TV", sugere Romano, ensinado como fazer com que as crianças sejam os "apresentadores de suas vidas".
Outra ideia do artista plástico é o Prato Poético. Essa intervenção artística é elaborada ao longo de quatro encontros - onde serão mais uma vez indagadas sobre suas preferências, escolhas e desejos -, resultando em uma apresentação no refeitório da escola. Ela consiste em fazer com que as crianças criem frases a partir de palavras sorteadas e as escreva em círculos de papéis que serão colocados por debaixo dos pratos de comida. "Converse com elas anteriormente, sobre não fazerem bagunça no refeitório, nem levantarem o prato com comida em hipótese nenhuma. Elas devem sentir que isso é uma apresentação de atividade artística, como a dança, ou o teatro", ressalta Romano aos estagiários. "Atribua a elas funções e faça com que se sintam orgulhosas de estarem produzindo essa intervenção. Elogios são sempre uma boa forma de colocá-las à vontade", finaliza.
Apesar de todas as dificuldades e empecilhos encontrados na execução de atividades como essa, Romano aconselha os mediadores a firmarem parcerias com as CPPs e a direção da escola, para que possam realizar as atividades e construir o caráter crítico e criativo na vida das crianças.
Apresentando a própria vida
quarta-feira, 31 de março de 2010
Marcadores: Bairro-Escola, Jéssica de Oliveira
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