por Josy Antunes
A Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu abriu as portas no início dessa semana para um novo semestre de atividades no horário integral. Alunos provenientes das Escolas Municipais Ana Maria Ramalho e Janir Clementino estão distribuídos em quatro turmas, tendo em média 20 membros cada. Na nova metodologia adotada, a ideia do “eu” será desenvolvida por eles durante todo o ano. E a primeira etapa demandou muitos dedos sujos de tintas coloridas e liberdade de criação: era a produção de auto-retratos.
Para guiar as turmas pela nova gama de experimentações, a ELC convidou o professor de artes Raphael Couto, que vêm trabalhando os conceitos artísticos inseridos no auto-retrato. Esse primeiro período terá a duração de 2 semanas, para então ser renovado por novos orientadores convidados, que introduzirão conceitos mais técnicos. “A primeira coisa que eles percebem é a dimensão do seu próprio corpo”, relata Raphael, sobre as percepções que os exercícios trazem por consequência. “Ás vezes eles sabem 'eu tenho 1,60 metro', mas não sabem o que isso significa em ocupação de espaço”.
Partindo da consciência de sua forma e tamanho, os alunos logo percebem que não podem criar uma representação física fiel e que eles podem ser livres para se auto-projetarem conforme seus gostos, por exemplo. “Já teve casos de se pintarem como astronautas”, destaca o professor, que tem a companhia dos mediadores Bion, Carol, Marina e Leandro, formando duplas e dividindo-se pelos dias da semana.
A aula de ontem se iniciou num círculo formado no interior da sala de animação. Alunos e mediadores pensavam, repensavam e discutiam sobre o que é um auto-retrato. “E um retrato? Qualquer foto é um retrato?”. Indagações como esta foram feitas e muitas resposta surgiram até que chegassem a seguinte definição: “Toda imagem que eu construo de uma pessoa é um retrato, seja ela um desenho, uma foto, uma escultura...”, fixou Raphael Couto, que também ministra aulas de artes em Itaboraí e São Gonçalo.
Antes da vez à voz dos presentes na roda, o acordo foi estabelecido: “Todo mundo deve ouvir todo mundo falando”. E, sem deixar que dois elementos atrapalhassem o andamento da atividade, Raphael logo declarou: “Antes de vocês entrarem aqui na Escola Livre de Cinema, duas coisas vocês tem que deixar na rua: preguiça e vergonha. Isso vocês não podem ter aqui de jeito nenhum , senão nada dá certo”.
Dentre os nomes mencionados, surgiram Ronaldinho Gaúcho, Gisele Bündchen, Filk, Petkovic, Leonardo da Vinci e os cantores Belo e Latino. E a diversidade de objetos não ficou por menos: sabonete de rosto, pipa, caderno e até uma caixinha de biscoitos em forma de canudinhos, trazida por Elion Lima, que justificou: “Elas são feitas de papelão. E o papelão também é feito de papel. E o papel é feito do eucalipto. E eu queria ser uma árvore de eucalipto, pra poder ser cortada com o machado, virar o papel e depois ser reciclado”, disse o menino de apenas 10 anos, para admiração dos professores e colegas.
Para acompanhar o momento, a sala de animação recebeu Cleber Ezequiel Corrêa, pai de Hebert, de 9 anos, que pela primeira vez participava de uma aula na ELC. Após acompanhar com alegria o desenvolvimento da atividade na roda, o pai declarou animado: “Eu não sabia que eles trabalhavam com pintura também. É muito importante. O Hebert gosta de desenhar e de pintar. Depois eu vou perguntar a ele como que foi, se ele gostou”.
“Na segunda semana a gente já vai partir pro tridimensional. Serão outras dificuldades, outros resultados e outros raciocínios”, já antecipa Raphael Couto. “Quando eles forem para o outro momento trabalhar o vídeo, eles já terão essas referencias visuais como vocabulário”. “A gente tá fazendo um making of de tudo. A ideia é que além dos filmes tenha o making of de 2010”, garante a coordenadora Veruska, responsável pelas atualizações no blog da ELC, o escolalivredecinema.blogspot Lá, o desenvolvimento das novas atividades poderão ser acompanhadas “de perto”. Para ver mais fotos da aula de ontem, acesse o Flickr do Cultura NI.
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