Territorialização da cultura

terça-feira, 6 de abril de 2010

por Wanderson Duque
Próximo do lançamento de seu segundo Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga, Nova Iguaçu é marca viva de uma nova ótica da política pública de apoio a movimentos artísticos na Baixada Fluminense. No momento, ela é a única cidade da região que possui um edital voltado para as produções artísticas e culturais em seus território. Temporariamente.

Muitos outros municípios estão se articulando para que o braço governamental venha a alcançar seus agentes culturais como seres essenciais na divulgação da cultura e da arte. Em uma rápida conversa com o escritor e pesquisador Écio salles – secretário adjunto de Cultura de Nova Iguaçu –, pode-se perceber o avanço na sensibilização do governo para a classe artística da cidade. Écio faz um balanço do primeiro edital e suas expectativas para sua segunda edição.

Cultura NI: Nova Iguaçu, como sabemos , é a única cidade da Baixada que possui um edital voltado para a classe artística. Um marco na história da Baixada Fluminense, que sempre negligenciou os agentes culturais, deixando-os para segundo plano. Que nova ótica é essa, que fez o governo atual enxergar que a produção cultural na cidade também é importante?

Écio Salles: O mais bacana na construção do “Fundo” é que essa foi uma política adotada pelos próprios agentes culturais da cidade. A classe artística, unida, foi essencial para a formação do Conselho Municipal de Cultura. Historicamente , sempre houve essa luta da classe artística para uma verba destinada à produção e apoio aos agentes culturais do município.
Existe uma peculiaridade nisso: enquanto resto do país o modelo usado na formação desses conselhos é de que eles sejam compostos por 50% de pessoas do governo e 50% da sociedade civil, em Nova iguaçu nós temos participação de 2/3 da sociedade civil. Enfim, com a consolidação desse governo e da Conferência Municipal de Cultura, o edital de cultura se realizou e sensibilizou o governo. o ex-prefeito Lindberg Farias (PT) criou uma lei autorizando a criação desse fundo e deu o passo maior para que ele fosse realizado. O edital do primeiro "Fundo" contou com R$ 300 mil.

CNI: Quantos e quais foram os grupos contemplados?

Écio Salles: Mais do que grupos, nós apostamos em ações artísticas. Recebemos mais de noventa propostas, entre projetos de dança de livros, mostras de audiovisual, financiamento de livros, rodas de capoeira... Aprovamos 37.

Projetos diferentes
CNI: E como funcionou o financiamento?

Écio Salles: Bem, o teto que a lei nos permitia seria de R$ 10 mil para cada proposta. Assim seria possível que ocoresse o finaciamento de 30 manifestações artísticas e culturais. Mas conseguimos estender essa margem para trinta e sete projetos. Que já estão sendo realizados. Alguns muitos diferentes como o DVD coletânea dos funkeiros de Nova Iguaçu, que são vistos com maus olhos. Há também o site que organizará uma espécie de base de dados com todas as rezadeiras da cidade. São projetos que, normalmente, não seriam cotados para essa área de cultura. Fico muito feliz por isso porque não só somos o primeiro município a criar um fundo de cultura, como somos o primeiro a executá-lo. Também nos preocupamos em contemplar ações nos bairros mais afastados do Centro.

CNI: Como funcionou essa seleção e o que é pesado como forma e expressão da manifestação cultural e artística?

Écio Salles: O Conselho Municipal de Cultura designa uma comissão da qual a única decisão que não é tomada diretamente pelo conselho é a de que o presidente desta comissão é o próprio secretário municipal de cultura. Excluindo-se isto, o conselho indicou pessoas que foram essenciais na evolução desse processo. Que desenvolveram seu trabalho com competência e agilidade. É um trabalho muito delicado porque tem muita gente boa, com ideias interessantíssimas. Um trabalho árduo. Você ler tudo aquilo, pontuar os projetos, processos de convênio, é simplesmente exaustivo. Mas deve ser feito com seriedade, como foi feito. Foi muito positivo. Descobrimos que essa cidade tem um potencial enorme na área da cultura. O ‘Fundo’ potencializa a ideia de que a cidade tende a crescer.

CNI: Vocês operaram mais especificamente em algum território?

Écio Salles: Nosso lema desde que aportamos aqui é o da “territorialização da cultura”. Fazer com que a cultura - logicamente apoiada pela política pública - possa chegar em todos os lugares e fazer com que as demais regiões acessem a Secretaria de Cultura, para que eles possam participar da ideia de que “todo mundo é cultura”. Mesmo que o edital em si não nos desse um viés, nós fizemos um grande esforço para garantir a presença de projetos distantes do Centro, o que conseguimos com alguma eficácia. Isso foi tão positivo que garantimos para esse edital que, se houver algum projeto dessas regiões mais afastadas, ele deve ser pesado e selecionado. Claro, não é um preferencialismo mas, sim , uma medida para que todas as áreas posiveis venham ser contempladas.

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