Cidade desconhecida

quinta-feira, 15 de julho de 2010

por Jéssica de Oliveira

Há tempos que o Cultura NI vem mostrando a você, leitor, a caminhada e as histórias de superação de vários Pontinhos de Cultura de Nova Iguaçu. Histórias essas que, para serem contadas, necessitaram passar antes pelo universo da dificuldade que todo artista e agente cultural enfrentam na luta pela concretização de seu projeto, mas que ao final dessa longa batalha fazem desses projetos sociais iniciativas de grande sucesso.

E para falar sobre esses exemplos de êxito, convidamos a atual Presidente da Comissão de Avaliação dos Projetos do Fundo Municipal de Cultura Antonio Fraga e do edital Escola Viva Bairro-Escola - carinhosamente apelidado de Pontinho de Cultura -, Verônica Nascimento, que visitou a maioria dos projetos e avaliou o andamento de cada um deles. "O papel da comissão é acompanhar os trabalhos e o desenvolvimento dos projetos para ver se eles estão caminhando com a metodologia que foi apresentada, com o número de alunos que foi proposto e saber se todo o resto está funcionando bem", diz.

A jornada da comissão começou assim que os projetos começaram a ser implantados, em 2009. O acompanhamento foi contínuo, mesmo que os olhos dos membros da comissão não alcançassem o que acontecia em algum Pontinho, devido ao grande número de projetos a serem avaliados. "A ideia da comissão é percorrer todos os projetos, só que infelizmente a gente acaba não tendo perna pra fazer tudo porque é muita coisa. Aí, por conta disso, a gente criou outros dispositivos, como as conversas com as CPPs (Coordenadoras Político-Pedagógicas) e com as diretoras. Então a gente acaba sabendo se tá funcionando ou não, mas há muitos projetos que a gente acabou não indo", lamenta.

Quando se fala dos problemas enfrentados pelos agentes culturais para implementação de seus projetos, devem ser entendidos empecilhos como as falhas na estrutura escolar, liberação de verba, grade de horário e/ou férias. Mas, segundo Verônica, assim que tudo estiver funcionando, o negócio é reunir a garotada e investir no que os Pontinhos têm para oferecer, sem desperdiçar vaga nem tempo. "O meu trabalho na verdade é garantir que todas as crianças estejam sendo atendidas e que todos os inscritos estejam frequentando as aulas do projeto. Se eu vou num local e percebo que o número de crianças, na prática, é menor que na teoria, a gente tem que saber o porquê dessa evasão e convidar outras crianças da comunidade para completar as turmas que estiverem vazias", esclarece.

Saber o porquê do projeto não estar funcionando como o previsto é fundamental para que a SEMCTUR possa intervir. "Se no começo a gente tem 20 turmas e no meio do caminho elas começam a se esvaziar, a gente vai chamar o coordenador do projeto e conversar com ele, para entender que metodologia é essa que ele está usando - ou que não está usando - e também saber se há algo acontecendo de errado com a metodologia; de repente, a gente pode ajudar na melhoria do projeto", afirma.

Os critérios de avaliação usados por Verônica para que um Pontinho de Cultura ganhe o título de Iniciativa de Sucesso são simples. Para ela, um projeto precisa, fundamentalmente, de iniciativa. Parece repetitivo, mas Verônica explica: "A verba que é dada aos Pontinhos é para o 'pontapé inicial', mas o que eles fazem é muito grandioso! Eles ficam com tanto tesão pela coisa, que começam a se movimentar e procurar parceirias que ajudem a melhorar seu trabalho e o micro se torna macro. Eu acho que é questão de mobilização - um dos critérios primordiais."

Verônica também comenta que a reação do público é muito importante na hora da avaliação e aproveita para dizer que encontra muitas características parecidas entre vários projetos de sucesso: "Eu acho que o que eles têm em comum são os atores da cidade que já desenvolviam um trabalho, mas que na verdade não tinham um incentivo financeiro pra isso. Então, quando você tem uma ajuda do poder público, que abraça a sua ideia, que aposta em você, no seu jeito de ensinar - porque os alunos aprendem, obviamente, muito com tudo isso - a força do projeto se torna muito maior".

Quanto à lista de projetos que receberam o título de inicativas de sucesso, Verônica destaca alguns de seus preferidos:

"Iguassú Velho à Nova Iguaçu. É um espetáculo muito bacana que conta a história da nossa cidade, que conta com alguns depoimentos lindos. Gostei muito desse.

"Tem o Nossa Senhora das Rezadeiras, que é um projeto maravilhoso de Oswaldo Bastos, presidente do CODEDINE. Ele conseguiu reunir rezadeiras de diversos cantos da cidade e realizou oficinas e montou um site sobre o assunto. Foi lindo porque tinham jovens senhoras lá e, no primeiro momento, a gente acha que as rezadeiras estão acabando - eu, pelo menos, cresci com rezadeiras ao meu redor -, talvez por conta da grande evangelização das pessoas, mas o que foi feito lá foi incrível. Há uma esperança de que esse trabalho continue.

"Uma coisa que foi mais voltada para o público jovem foi o Encontrão do Enraizados, realizado em janeiro com dois dias de atividades; foi muito bacana.

"O projeto do cantor Gabiru também foi ótimo. Ele é um músico muito, muito talentoso de Nova Iguaçu e eu acho que fico um pouco constrangida em falar porque eu adoro o Gabiru. O trabalho dele é muito bacana e deu a oportunidade de uma grande galera conhecê-lo.

"Antes Que O Recreio Acabe também é muito bacana. É uma peça escrita por uma jovem que fala sobre gravidez na adolescência apresentada em escolas do município e teve um grande público.

"Outro, muito interessante também, foi o espetáculo O Auto da Escrava Nastácia, do Instituto Nossa Senhora do Teatro, que foi apresentado na mesma época que o 3° Iguacine. Foi uma verdadeira maratona, porque houve uma apresentação em Jd. Tropical, em seguida na praça de Tinguá e no mesmo dia lá no Km 32. Eles chegavam nas praças sem estrutura nenhuma e se apresentavam. As pessoas até ficavam olhando 'assim', porque havia algumas mulheres vestidas de baiana... deviam achar que o pessoal fosse fazer um culto de candomblé (risos). Mas no final foi muito bacana", encerra, esclarecendo que citou esses porque até o presente momento foram alguns que já apresentaram o produto final.

Colocando um ponto final na entrevista, Verônica conta que as culminâncias de alguns projetos acabaram virando programa de final de semana. "Já levei meu marido e meu filho, mas como ele está na adolescência, fica mais complicado de sair com a mãe, né?", brinca. "Mas é claro que no começo batia aquela de 'pôxa, tenho que trabalhar em final de semana', mas eu tinha que ir. Certa vez, num domingo, eu estava fazendo almoço com o pedreiro trabalhando lá em casa, mas alguma coisa me dizia que eu estava esquecendo de alguma coisa: era um espetáculo que começaria em uma hora. Aí tive que largar tudo e correr pra lá", lembra.

Mas apesar desses e outros sacrifício que teve que fazer, ela acha uma grande honra em trabalhar na Comissão Avaliadora. Segundo ela, quando começou a trabalhar em Nova Iguaçu, descobriu uma cidade que não conhecia, mesmo tendo sempre morado aqui: "Eu conheci muita gente talentosa que faz a cultura de Nova Iguaçu acontecer. Eu não tinha uma proximidade muito grande com o trabalho deles e quando eu tive, me encantei. É claro que muitos finais de semana eu tenho que abrir mão de um monte de coisa e ir trabalhar, mas depois eu me sinto gratificada com os resultados. Me sinto sortuda por participar dessa comissão e poder conhecer o trabalho de tantos artistas talentosos e dignos do sucesso".

0 Comentários:

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI