Trupe dos órfãos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

por Wanderson Duke Ramalho

No que diz respeito ao cenário musical, poético, cinematográfico e circense, a Baixada Fluminense – e principalmente Nova Iguaçu – sempre foi uma madrasta para aqueles que queriam manifestar sua arte. Estes mesmos artistas eram obrigados a se locomover para outras regiões a fim de difundirem seu trabalho: sentiam-se órfãos de sua terra-mãe. E inúmeros fatores contribuíam pra isso: a falta de apoio do governo da região e políticas públicas específicas voltadas aos primeiros fomentadores, da falta de um local que fornecesse visibilidade ao trabalho, ou mesmo a carência de uma cena independente, que ninguém acreditava ser possível construir em uma região conhecida por seus diversos problemas administrativos e, por isso, também não se tinha investimento do setor privado. Mas isso vem mudando.

Antes mesmo que o setor público sofresse essa reviravolta nos últimos tempos – agora com olhar e apoio a quem produz arte, cultura e projetos sociais na Baixada, como o PADEC e o Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga – um grupo de artistas que sentiam como ninguém a ausência de um cenário próprio colocou a mão na massa e aos trancos e barrancos já delinearam um esboço muito sólido que promete surpresas: cineclubes, cabarés, estúdios, saraus. Tudo isso está acontecendo na Baixada. E Nova Iguaçu não fica de fora.

Para os frequentadores de tais eventos, fica clara uma coisa: independentemente do rótulo do que está sendo produzido, todos eles se mesclam e apresentam uma conjuntura cultural diversificada. O cineclube tem poesia; o cabaré tem grafite e música. Essas ações vêm dando o que falar. Ilustrando bem o que digo, explica um poeta moderno: “...é o UM no OUTRO e o OUTRO no UM”.

Um destes personagens é o entrevistado Paulo Vitor de Queiroz Coutinho – conhecido como “PV” – que é um dos idealizadores dessa “Nova era” da Baixada. “PV” é um dos organizadores do conhecido Cabaré Pileque – que acaba de se unir com o Stúdio B -, carrega o circo no sangue e a música no coração. Uma das últimas que aprontou: reuniu 11 bandas da Baixada Fluminense e/ou que já tocaram nas edições do “cabaré” para uma coletânea com lançamento previsto pra o segundo semestre deste ano.

Mas se você considera “PV” um produtor, fomentador ou algo parecido, ele é categórico: Na real, não estou fomentando nada, nem sou músico. Sou palhaço!

culturani: Como vocês arrecadaram fundos para a produção da coletânea? Soube que tudo está sendo produzido de forma independente.

Paulo Vitor: Dinheiro?(risos). Não temos dinheiro. A gente faz a dívida e tenta a sorte de recuperar na bilheteria. Se der ruim, trabalhamos na rua (com malabares) e paga.

culturani: Quais bandas estão nesse CD? Como foi o processo de seleção das bandas que entrariam no projeto?

Paulo Vitor: Serão 11 bandas que já tocaram nas 12 edições do Cabaré. “BETTIE “PAGE”,”SOFIAPOP”, “GENOMADES”, “LÊ ALMEIDA”, “CARPETE FLORIDO”, SILVO”, “CRETINA”, “Na SALA DO SINO", "SPLLASH!" e a “CIDADE DE DUQUE DE CAXIAS”. A “COLOMBIA COFFEE” ainda está esperando a DECKDISC (gravadora da banda) liberar eles para participarem.

culturani: De onde surgiu a idéia do CD? Como vai funcionar sua distribuição?
Paulo Vitor: O CD é uma parceria da “Geração Delírio” com a Transfusão Noise Records. Faixas em mesmo volume pra ficar um áudio bacana. Serão prensados 100 CDs inicialmente. Vamos vender por aí, nos cabarés da vida...

culturani: Por qual valor?
Paulo Vitor: Custou R$1,80 cada. Vamos vender igual camelô: R$ 5.

culturani: Desde quando há essa parceria com a Noise Records?
Paulo Vitor: A parceria começou ano passado. O Lê Almeida é um cara que conhece muito de rock, e tem uma proposta de gravar bandas em formato caseiro mesmo. LO-FI total! Ele tocou em uma edição do Cabaré Viaduto. Depois começamos a colocar nas filipetas a parceria da Gd e da Transfusão. Começou mesmo em uma edição do cabaré que “rola” em Duque de Caxias. Até hoje a “Transfusão” faz as produções do cabaré com a gente. Diverte-se ou se fode. Bebe e se diverte com a gente.

culturani: Ele é músico também?
Paulo Vitor: É sim. É um cara de São João de Meriti. Ele é o fundador do selo. Trabalha produzindo bandas e divulgando a cena Noise. Já tocou em muitos festivais. Acho que o último foi o “MAIONESE FESTIVAL”. Eu acho. Ele tem uma música chamada "Nunca Nunca" que no começo do ano estava tocando no Lab MTV.

culturani: Como vai funcionar a distribuição do que for arrecadado com a venda dos CDs?
Paulo Vitor: Pagamos a bilheteria, pagamos as filipetas e cartazes na gráfica, Que sempre alguém tira no cartão pra gente. Depois pagamos a grana do gelo que foi pra cerveja. Ainda tem a grana de passagem de TODAS as bandas. O que sobra, a gente bebe. Nós e as bandas. E você está convidado também!

culturani: Obrigado. E como começou essa festa toda?
Paulo Vitor: Bem... O cabaré começou numa festa num sobrado na Gomes Freire, esquina com a Rua do Resende, na Lapa. Dia 27 de março de 2009, dia nacional do circo! De lá pra cá foram 12 edições. O cd ainda está em processo de construção. Como te disse, a Colombia Coffee está esperando passar esse furacão de lançamento do vinil deles pra Deckdisc liberar os caras pro nosso cd. Mas no total, pra prensar e fazer as capas e mixar, é 20 dias. O mais demorado é juntar todas as faixas das 11 bandas. Algumas fizeram uma gravação especial só pra esse cd. A Sala do Sino, por exemplo, liberou uma faixa gravada ao vivo na Virada Cultural do Rio no começo do ano.

culturani: Conte sobre essa união do Cabaré Pileque com o Stúdio B.
Paulo Vitor: Na real, sei lá. Quando estive no espaço, eles ainda estavam construindo. O Rafinha e o Adriano, da SOFIAPOP, têm um programa na Rádio Baixada. O Cena Dois e o Arara Indie. O “Guto” é uma ótima pessoa e leva uma grande fé na gente. Correu naturalmente. Como tudo desde o dia 27.

culturani: O Cabaré, bem como o Studio B, está dando certa visibilidade pra essas bandas da cidade (e da Baixada Fluminense) que tinham de se apresentar em outros lugares. Como você se sente sendo um dos estimuladores dessa safra artística?
Paulo Vitor: (risos) O Cabaré é fruto, na minha cabeça, de certo cansaço de ociosidade no underground na Baixada. Bandas como SOFIAPOP e COLOMBIA COFFEE, que já têm um apelo e a galera canta e dança todas as letras, ou a banda Cretina e a Bettie Page fizeram seus primeiros shows com a gente e agora estão botando pra fuder! Não curto muito quando me relacionam com coisas tipo produtor, fomentador ou idealizador. Isso é maior papo de...Produção! Minha vida é legal porque o que acontece é uma cofusão, não produção. Nós estamos fazendo o mais óbvio: noites divertidas pra pessoas divertidas. Não tem nada de tão grandioso. O grandioso é a rede, a gambiarra que formamos com o Stúdio B , Buraco do Getúlio, Mate Com Angu, ETC... Quem fomenta isso tudo é a galera que chega junto e se esbalda. Eu e a galera da Geração Delírio somos entusiastas. A Baixada é foda!

13 Comentários:

Unknown disse...

Adoro esses meninos e o que eles fazem. Ficou ótimo o post, querido. =3 Queria um dia poder prestigiar de VERDADE.

Anônimo disse...

show de bola
que continue melhorando esse projeto ,
eu vou espera daqui a algum tempo nao muito que isso vire um exemplo para outros lugares.
me sinto honrado de te um proje como esse no municipio que vivo!!!
essa geraçao que ja esta mudando vidas
como jesus mudou a de muitos !!!

Anônimo disse...

Grande Duke, a colocação de suas palavras são como um rio que nasce no alto de uma serra e chega pura e cristalina cá em baixo.
Grande Abraço brother!

moloch! disse...

YES!!!!

UMA SALVE PRA TURMA QUE ADORA FAZER BAGUNÇA!
SÓ LEMBRANDO QUE O PRÓXIMO CABARÉ VAI DECOLAR NA CIDADE DE DUQUE DE CAXIAS DIA 21 DE AGOSTO NO MOTOCLUBE VENENO DA COBRA ÀS 21H.

VALEU A GALERA DO CULTURANI QUE SEMPRE TÁ ESPIANDO NOSSAS PERALTICES.

:O)

eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
estamos juntos!

Unknown disse...

STUDIO 'B' / RADIO BAIXADA FLUMINENSE FM
95, 3


ótimo , geração delírio mostra que atitudes coletivas resultam no esperado .
vamos olhar mas pra nossa gente , nossa musica , nossa cultura , nossa vida !
em do galera do STUDIO B e da RADIO BAIXADA FLUMINENSE FM , agraço a geração delírio pelo agito .

fábioObranco disse...

Para o alto e avante!!!!!!!!!

bia pimenta disse...

caraca, comparados com Jesus!
nem sei se isso é bom! kkkkkk

Yasmin Thayná disse...

Bacana, Duke!
Eu já conhecia o trabalho do Emerson e do Paulo Vitor quando eles não tinham o cabaré e vi que eles evoluíram bastante. Ainda mais agora com essa ferramenta bacana que eles utilizam, enfim, eles são muito talentosos e espero que o futuro deles continuem brilhando!...



saudações!(sem contatos físicos)

moloch! disse...

PUTZ! PODES CRER, O FIGURA FALOU ATÉ DE JESUS!
JÁ QUE A TURMA É LEGAL, ESPERO QUE TODAS NOSSAS ALMAS SEJAM PERDOADAS DESSA PECADEIRA TODA AQUI NA BAIXADA.

KKKKKKKKKK

VALEU PELOS COMETÁRIOS GALERA!

AMEM!

:o)

Ive Cristine disse...

Parabéns pelo trabalho, que venha mais e mais eventos para alegrar essa turma da baixada Fluminese.

Beijo, beijo!

Gabes disse...

UM SALVE PRA TURMA MAIS QUENTE DO PEDAÇO!
vocês são os percusores de uma futura geração!

salve!

disse...

tá. mas os motivos que vos fazem dizer que a cidade deixou de ser madrasta pra todos esses caras, eu desconheço.

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