Meu primeiro livro

domingo, 15 de agosto de 2010

por Hosana Souza

Ao longo dos meus dezessete anos de vida um dos meus eventos favoritos são as festas de aniversário – e mais ainda se são minhas. Um dos meus melhores aniversários foi aquele em que completei dez anos, fato marcante por diversos motivos.

Seria o meu primeiro ano em escola pública – importante mudança de ares para a construção do ser que sou hoje – e seria o ano do meu ingresso à quinta série, algo que pra minha cabeça era puro status, afinal, eu teria a liberdade que o segundo segmento permitia de usar fichário – lembro que o primeiro era do Mickey.

Todavia, nesta noite de 16 de junho o melhor presente eu recebi das mãos daquele cara alto e gordinho de nome Renato e sobrenome Meu Pai. Eu ganhei meu primeiro livro!

Lembro até hoje daquele embrulho verde - por que aquilo não era papel de presente, aquilo era um treco amassado com um três rolos de fita adesiva em volta – que escondia uma linda capa azul com os dizeres: “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos.


Devo o hábito da leitura aos gibis da Turma da Mônica que semanalmente recebi de minha mãe, as insistência e exigências de meu pai e aos clássicos mundiais e regionais que eram diariamente recitados por minha avó materna, linda nordestina contadora de historias. Contudo aquele não era apenas um livro, uma história; aquele era o meu livro, meu primeiro livro.

É uma emoção inexplicável e que revivo agora. Ele era meu, só meu e de mais ninguém. Não era necessário devolvê-lo a alguém no fim da leitura e mais, agora eu teria o prazer de emprestar um livro a alguém. Você com certeza está pensando nas futilidades de tal raciocínio, e era egoísta sim meu pensamento: eu tinha dez anos e aquele era o meu livro. Esse é o meu livro. Até hoje não consegui libertá-lo, é o único que faço questão de guardar e confesso que nunca o emprestei.

Aqui pelos meus olhos, com a velha capa já não tão azul, com algumas folhas já por soltar, com suas páginas amarelas e sublinhadas está o Meu Pé de Laranja Lima, a minha poesia e inocência de dez anos, o meu quintal. Por aqui por perto esta, também, aquele velho senhor, agora não tão gordinho, que ainda me presenteia com livros, que ainda me exige boas notas, a quem eu devoto carinho e admiração.

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