O porquê das coisas

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

por Marcelle Abreu

Uma das atrações da Teia da Baixada é o grupo Código, que é de Japeri e promete mexer com o público com o espetáculo Sete Cabeças, que ocupará o palco principal do SESC amanhã, às 16h30m. Não deixe de ir, pois tenho certeza de que sairá de lá com outro olhar para a vida. Não é a primeira vez que o espetáculo é apresentado em Nova Iguaçu. "A reação das pessoas no Encontrarte foi muito boa", lembra o diretor Bruno Medsta. “As pessoas se viam, quando não estavam rindo e apontando para o amigo do lado”.

Sete Cabeças conta a história dos sete pecados. Só que Bruno, o diretor da peça, queria diferenciar e preferiu privilegiar a questão filosófica em detrimento da religiosa. "Gosto de questionar o porquê das coisas", conta o diretor, que sempre se pergunta se as pessoas são julgadas erradas são mesmo erradas. "Será que outra pessoa naquela situação teria outra atitude? Será que não é nosso modo de enxergar as coisas que está errado?" O espetáculo tenta responder esses questionamentos.

O espetáculo, que sofreu um corte de vinte minutos para poder participar da Teia da Baixada e tem um elenco formado por oito pessoas entre 16 e 35 anos, conta os sete pecados de uma personalidade intitulada “VOCÊ”. Quem assistir ao espetáculo se surpreenderá ao perceber que esse “VOCÊ” pode ser eu, você, todos nós. Esse “VOCÊ” está se autoavaliando e durante todo o espetáculo escreve um livro, contando histórias em que os sete pecados são encontrados.

O espetáculo cativa as pessoas, levando-as pensar sobre sua própria condição ao mesmo tempo em que diverte. Bruno Medsta gosta de escrever coisas com as quais o público possa se identificar. “O mais bacana é quando a gente consegue tocar a pessoa por dentro. Que essas comecem a enxergar o mundo de outra maneira”, conta ele.

Ele acredita muito na questão de que todo mundo erra, todos são imperfeitos, todos sofrem de mudanças de humor e o espetáculo se pergunta se o que é errado é errado mesmo e se o certo é o certo mesmo? “O bacana de um espetáculo como esse é que no debate final a gente vê que alcançou o objetivo", comemora o diretor.

Bruno Medsta aprendeu muito com os filósofos que já prestigiaram seu trabalho, ajudando-o a amadurecer algumas questões que ainda estavam verdes na sua cabeça. Segundo o diretor, essas intervenções dão um novo gás a cada apresentação do espetáculo, que melhorou bastante desde a estreia.

Divertido, Sete cabeças discute temas contemporâneos como a globalização e a internet. Em uma das músicas compostas especialmente para o espetáculo, o mundo virtual é apresentado da seguinte forma: “Nunca foi tão difícil ser pecado, nesse mercado tão concorrido”.

O espetáculo surgiu em um momento de dificuldade, depois que o grupo teve que desistir de montar Ser Tão por não dispor do número de atores de que a peça necessitava. No carnaval, Bruno Medsta se isolou em casa, colocou musica clássica a todo volume e então lhe veio a inspiração para fazer do Sete Cabeças. "Quando as aulas voltaram, já tinha tudo em mente e o roteiro na mão", lembra ele, que empolgou o grupo já na primeira leitura.

Desde o início, diretor e elenco tinham consciência de que não estavam diante de uma peça simples, dessas que você pega o roteiro, lê e encena. "Precisamos compreender a ideia e vivê-la", conta ele, que promoveu diversos laboratórios filosóficos para aproximar os atores da verdade do espetáculo. Além de aproximar o elenco do que queria encenar, Bruno Medsta conseguiu despertar nos atores o gosto pela filosofia. "Uns começaram a pesquisar os sete pecados, leram alguns livros e as dificuldades foram desaparecendo."

A intenção é brincar com os personagens, fazer com que as pessoas se vejam ali. Que essas parem para analisar se o que estão fazendo ao julgar, por o dedo na cara do outrem é certo. “Eu acho que a humanidade seria bem melhor se a gente enxergasse as coisas de outra forma. Acho que a grande consequência das brigas e guerras é a falta de respeito pelo próximo, a coisa do achar que o meu ponto de vista está certo e o seu errado”.

O grupo está encenando com Sete Cabeças desde 2008 e, apesar disso, ainda há nervosismo. Uma das razões para essa insegurança é que o espetáculo nunca está pronto, sempre há ideias novas. As coreografias estão sendo alteradas e aprimoradas. Ou seja, quem já teve o privilégio de assistir, pode assistir de novo, que novas surpresas o aguardam.

Quem prestar atenção no figurino do personagem “VOCÊ”, perceberá que ele está contrário. "Queremos que a plateia olhe para dentro de si", explica o diretor. Já o pé pintado de preto quer dar a ideia de pé no chão, pé sujo, pisando na lama que é a sociedade. “Não quero dar lição de moral pra ninguém. Quem sou eu para isso? Mas eu quero falar sobre algumas coisas que me incomodam no ser humano e é difícil falar isso sem ofender”.

O espetáculo termina com gostinho de quero mais - e não é à toa que a peça faz parte de uma trilogia, cujo segundo capítulo será o abortado Ser Tão. Ao final ele dá a entender que não terminou ali, e realmente não terminou. O personagem “VOCÊ” que inicia escrevendo um livro, finaliza terminando este e começando outro. “Tudo na vida é assim, nada termina de verdade, tudo tem uma continuidade”.

E o espetáculo é tão bom que vai virar filme e Bruno não quer mexer na estética dele. “O espetáculo é muito gostoso, e queria levar essa discussão pra outras pessoas. A gente às vezes faz uns curtas, edita, e o Sete Cabeças dá um filme e a galera topou, se apaixonou pela ideia e estão loucos pra começar gravar.

1 Comentários:

Natassia disse...

Sucesso ae pro gruupo :D
e Paraaabeens pelas materias,
beijos

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