Caçador de histórias

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

por Abraão Andrade e Giovannna Vicentini

Entrevistar o professor Ney Alberto é a coisa mais prazerosa e engrandecedora para quem tem interesse pela história de Nova Iguaçu. O trabalho, que inicialmente seria uma breve conversa sobre a exposição que ele organizou em homenagem ao aniversário da cidade, se tornou uma conversa totalmente descontraída e elucidativa sobre a linha do tempo e as transformações socioculturais da Baixada Fluminense.

Ney Alberto Gonçalves, ou somente Professor Ney, é advogado, compositor, historiador e arqueólogo. Dedicou a maior parte da sua vida a pesquisas de campo na Baixada e em Nova Iguaçu, às quais deu início depois da leitura do poema "Meu sonoro passarinho", do inconfidente Tomás Antônio Gonzaga. “Esse poema falava de uma localidade chamada Porto das Estrelas, que fica no final da Baía de Guanabara. Resolvi conhecer o lugar pessoalmente”, conta o professor.


Os ditados populares que ele ouvia quando criança também influenciaram sua escolha profissional. "Comecei a me interessar pela arqueologia ainda menino, ouvindo os mais velhos repetir dizeres do povo", conta o professor, que nos diverte lembrando de alguns bem engraçados. “Em rio de piranha, jacaré nada de costas”. “Em festa de jacu, inhambu não pia.” Para saber o que era um jacu, entrou no mato para caçar e conhecer a floresta.

Foi nessas caças que o Professor Ney começou a acumular material para o IHGNI (Instituto Histórico Geográfico de Nova Iguaçu), que criou com um grupo de amigos em 1963 para armazenar e catalogar a memória da região. O instituto jamais teve uma sede definitiva para acolher tanto as peças quanto as reuniões do grupo. Parte das recentes movimentações do Professor Ney se deve à itinerância do acervo do IHGNI, que desde os seus primórdios se desloca pelas casas dos seus fundadores. “Estou preocupado com o futuro do instituto, já que seus fundadores estão morrendo em razão da idade avançada.”

Uma das peças do acervo pessoal do Professor Ney é um quebra-coco, constituído de duas pedras lisas. A que serve de base contém uma pequena área côncava, onde se pode ajustar perfeitamente uma avelã. “Acredito que isso seja um artefato indígena, provavelmente da tribo Jacutinga”, diz ele, antes de mostrar uma machadinha, encontrada na região de Lorena, interior de São Paulo, recolhida numa pequena roça enquanto um agricultor local fazia seu plantio. O Professor acredita que a peça tenha 2 mil anos.

As peças que o Professor Ney reuniu para a exposição inaugurada no último sábado, em homenagem ao aniversário de Nova Iguaçu, foram encontradas na Baixada Fluminense, principalmente. Montada na sala de entrada do Espaço Cultural Sylvio Monteiro, a exposição tem ainda um conjunto de fotos tiradas na construção de monumentos e vias que hoje vemos corriqueiramente, além de cartas e mapas da época do Brasil Império.

Uma das preocupações do Professor Ney é mostrar a importância histórica da Baixada Fluminense, embora atualmente estejamos afastados dos grandes centros comerciais e mais ainda do turismo "tipo exportação", que lota os hotéis da capital. “Nós éramos um importante entreposto comercial, era pelos nossos rios que escoava o minério vindo das Minas Gerais.” Um dado revelador da pujança econômica da Baixada Fluminense está nas origens do bairro de São Conrado, uma das áreas mais sofisticadas da Zona Sul do Rio de Janeiro. “ Aquelas terras pertenciam a Conrado Jacob de Niemeyer, fundador do Clube de Engenharia do Estado do Rio de janeiro”, afirma o Professor. O nome São Conrado e a Avenida Niemeyer são uma justa homenagem a ele.

O Professor Ney acredita que a revelação de tais dados possa aumentar a autoestima do povo iguaçuano. "Penso que os moradores de Tinguá ficariam satisfeitos em saber que ali nasceu o fundador da Igreja de São Conrado, que mais tarde daria nome ao bairro e à avenida que dá acesso a ele”, especula. Para ele, conhecer a história faz parte do crescimento individual do homem, que tenta contrabalançar pela memória a impossibilidade de se perpetuar em matéria.

Uma das dúvidas que se pode tirar por intermédio do conhecimento da história é a inclusão do “Nova” à cidade de Iguassu. "O município de Iguassú foi criado em 15 de janeiro de 1833. Como o outro lado da estrada de ferro começava a se modernizar rapidamente, o município foi chamado de Iguaçu Velha, e o povo da época começou a chamar este outro lado de Nova Iguaçu. Antes a parte de cá era chamada de Maxambomba".

E K11? Fica no quilômetro onze? Nada disso. "O nome original é Kuanza, em homenagem a um rio angolano”, alerta o Professor. “Os negros rebeldes criaram um quilombo na chamada Pedra do Quilombo, na borda da cratera do vulcão de Nova Iguaçu."

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