Religião iguaçuana

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

por Bruno Firme

Manuel Jacinto Coelho(1909-1991) começou a difundir a cultura racional em 1935, quand fechou a Tenda Espírita São Francisco, que ele comandava no bairro do Méier. Com o aumento de adeptos, transferiu-se para Belford Roxo, que na época ainda era distrito de Nova Iguaçu. Conheceu ali o ápice do seu movimento, atraindo para as leituras dos livros os compositores Zé Kéti e João Roberto Kelly, além dos cantores Jacob do Bandolim, Tim Maia e Carlos Dafé e o ator de teatro Procópio Ferreira. Ficou ali até 1977, quando o barulho da cidade o obrigou a procurar refúgio em Adrianopólis.



O número de seguidores que angariou em Adrianopólis chegou a surpreender o censor do IBGE Ronaldo Siqueira, de 23 anos. "Quase não saía das casas de quem frequenta essa religião", conta ela, que apenas em um dia de trabalho entrou em dez domicílios cujos familiares frequentam o Universo em desencanto. Uma mera espiada nos muros do bairro já seria o suficiente para se perceber a presença dos sucessores de Manuel Jacinto Coelho.

"Não precisamos de divulgação, queremos apenas que as pessoas estudem nossa cultura", diz dona Soledad, a desconfiada secretária do programa "Voz Racional", transmitido pela Rádio Solimões (1360 AM). "Cansamos de dizer não aos pedidos de entrevista da Rede Globo."

A cultura racional, ditada pelo Racional Superior e psicografada em 21 volumes por Manuel Jacinto Coelho, não é uma religião. Seus seguidores acreditam que viemos do astral superior e para lá voltaremos, sendo bom ou mal. A doutrina prega o respeito pelo próximo e que a Terra é um mundo menor em relação a outros astros do universo. Também prega o respeito a natureza, já que a destruimos de diversas formas e também ficamos depedentes dela. "Somos totalmente depedentes de tudo aqui na Terra.A água, a eletricidade, a comida, tudo virou um remédio", diz Dona Santinha, que toma conta da Livraria Racional, na Avenida Amaral Peixoto.

Magnetizados
As revelações piscografadas afirmam que viemos da goma e que todos somos magnetizados pelas maldades e vícios da Terra. Os livros Universo e desencanto devem ser lidos para nos desmagnetizarmos de toda coisa ruim. Quem não pode comprar os livros, pode frequenta as bibliotecas racionais de Vila de Cava, Adrianopólis e Nova Brasilia, onde se tem um grande número de estudantes.

Uma rápida consulta ao Orkut é o suficiente para nos mostrar que a cultura racional está em todo o território brasileiro. "Não proibimos nada, todos têm seu livre arbitrio", diz o professor de química aposentado Porfirio Neves, "Pangaré", que comanda o programa na rádio "Voz Racional". Português naturalizado brasileiro, o apresentador conheceu o Universo em desencanto por intermédio de um amigo, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro como ele.

O programa na Radio Solimões está no ar há nove anos. O telefone da emissora, sempre atendido docilmente por Dona Soledad, não para de tocar. "São pessoas em busca de conhecimento", conta a secretária. Seu Porfírio deixou um recado para os jovens reporteres. "Nós velhos temos a informações e vocês jovens têm o discernimento. O conhecimento sem discernimento não é nada , assim como o discernimento de vocês sem o conhecimento nosso não é nada".

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