Geografia sagaz

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

por Hosana Souza


Cine Tela Brasil 2010
A cadeira na calçada, mais uma tarde quente do típico verão em Nova Iguaçu. “Desculpa o atraso”, argumentaram em uníssono meus entrevistados. Naquele momento recordei a primeira tarde, bem parecida com essa e que me levou até ali. “Você não pode se atrasar”, disse Wanderson Duke em seu melhor tom ameaçador. Era sábado e eu mataria o último tempo de matemática do pré-vestibular. O destino também era o Sylvio Monteiro, mas o motivo era a exibição de curta-metragens produzidos na estada iguaçuana do Cine Tela Brasil.

A luz do teatro se apagou. Revelaram-se um jovem casal, uma criança e uma relação destrutiva. O FIM. Oito minutos de uma produção feita por um time que nem de longe pode ser considerado amador. Com roteiro por Carlos Camacho e Yasmin Thayná, fotografia de Saulo Martins e os atores Johnny Rocha e Natália Magalhães, o surpreendente filme seria comentado até mesmo pelo convidado da noite, José Wilker.

“O maior problema com O FIM é que o tempo todo na oficina as pessoas perguntavam: 'Tá, mas cadê a moral disso aqui?'. Uns chegaram até a sugerir que falássemos sobre a Casa do Menor”, revela Saulo. “Desde o começo, quando foi formado o grupo para a produção, nós concordamos em uma coisa: nosso cinema não é para dar moral a ninguém. É audiovisual, é uma expressão, moral a pessoa tira sozinha do que ela quiser”.

O grupo nasceu graças a um dos melhores golpes do destino: através de um sorteio, onde eram distribuídos números de um a seis para cada aluno. Sem dinheiro, sem câmera ou material próprio e com cada membro residente em um ponto do estado. Com várias ideias, muita sorte, trabalho e cara de pau. A locação para o curta foi emprestada pelo Espaço Nós da Baixada. “Nós nem conhecíamos o lugar, vimos uma foto da sala e só. Chegamos lá de manhã cedo, arrumamos e em um dia foi feita a gravação”, diz Yasmin. “Um dos maiores aprendizados do Cine Tela foi aprender a levar Não”, conta Saulo. O Fim era apenas o começo. Nascia o coletivo Sagaz Filmes.

“Por que Sagaz? Bom, porque essa é a minha palavra, eu sou sagaz”, conta entre risos Yasmin Thayná. “Um amigo da FAETEC falou sagaz uma vez e eu procurei o significado ‘dotado de perspicácia, astuto, esperto’ e falei: essa sou eu!”. Daí por diante tudo era sagaz: “Em uma das oficinas do Cine Tela, eu e minhas duas horas de atraso chegamos e a primeira pergunta que fazem é: ‘Diz uma palavra’, na hora eu falei SAGAZ e ficou. Nós fomos o grupo sagaz e a produtora não podia ser outra coisa que não sagaz”, explica.

O coletivo que não pretende, por enquanto, se tornar produtora aposta no improviso. “Nós não queremos montar um roteiro e filmar, vamos fazer o caminho oposto, apenas na hora da edição é que vamos montar o roteiro”, explica Yasmin. “Nós queremos esse movimento. A Sagaz vai crescer, quando nós estivermos formados, gabaritados e prontos para encarar um cinema clássico com tudo bem amarradinho nós vamos fazer um roteiro e segui-lo, por enquanto vamos apostar assim”.


Gravação curta-metragem O FIM
A equipe, que já conta com Dannis Heringer e Marcelle Abreu na área de comunicação, brinca com o futuro. “Nós vamos ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e eu vou dedicá-lo ao José Wilker: 'Pra você, Zé, que falou que nossa câmera estava torta, tá aqui o tripé, beijos, me liga”, brinca Yasmin, relembrando o comentário do ator global durante a exibição de O FIM.

A sagacidade anda de mãos dadas com a inovação. Com a intenção de fazer um cinema geográfico, o coletivo já planeja seu próximo curta, que será rodado em vinte cidades do estado do Rio de Janeiro. “Estamos estudando algumas cidades, em fevereiro vamos nos reunir e filmar em cada uma delas, só na hora da edição que iremos montar o roteiro, ver o que encaixa”, explica Saulo Martins. “Pode sair um média e podem sair vinte curtas, nós só vamos saber depois. E para o caso de não encontrar algo para filmar, nós temos os atores no bolso, produzimos ali na hora.”, completa.

Além desse projeto, a Sagaz Filmes também está rodando um curta sobre o Calçadão de Nova Iguaçu e pretende filmar um conto de Amanda Nevark “Nós adoramos o conto e a intervenção artística que ela fez no último Buraco do Getulio Erótico”, diz Yasmin.

1 Comentários:

Yasmin Thayná disse...

Nossa! Quanto carinho pra falar da sagaz filmes. Fico feliz com o desempenho e resultado.
Tenho certeza que o coletivo tem tudo pra dar certo e continuar trilhando com pessoas certas.
Vale lembrar também que o tal "cinema geográfico" foi pautado e adicionado no início conceitual do coletivo numa conversa informalmente sagaz com a Isabel Garcia, universitária de geografia da universidade federal do ceará.
É isso. A Sagaz filmes agradece! Valeu Hosana! Sucesso, sua linda. Vida longa aos jovens que fazem acontecer e causam ideias jornalísticas na cidade.

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