Jesus ouviu sininhos

sexta-feira, 25 de março de 2011

por Hosana Souza


Marcelle Abreu
Você consegue imaginar a Marcelle Abreu, colunista de moda do CulturaNI e esmaltólatra de plantão correndo descalça na rua ou, até mesmo, caindo em um valão em Miguel Couto? “Eu era um verdadeiro moleque, até cicatriz na canela eu tenho, por causa de um vergalhão em que me enfiei correndo atrás de pipa”, relembra entre risos a universitária de 21 anos. A imagem de boneca dessa simpática menina foi construída nos últimos anos e junto com feminilidade de Marcelle foi edificada a maturidade e a memória de uma grande mulher.

Sempre apaixonada, a filha de Jorgina Abreu e Isaias Abreu nasceu em Miguel Couto e veio morar no bairro Califórnia com apenas sete anos. “Eu não queria me mudar porque lá eu já tinha amigas”, relembra. A mudança se deu, principalmente, porque sua escola ficava distante demais de sua casa, o que implicava em mais custos financeiros. “Eu devo tudo aos meus pais, eles nunca me negaram nada, principalmente com educação. Sempre estudei em escola privada, fiz curso de idioma. Eles se apertavam e davam um jeito”.

E com a escola vieram as primeiras grandes aventuras. A primeira parte do ensino fundamental foi cursada no Instituto de Ensino Santo Antônio (IESA), no bairro da Prata, e Marcelle de Jesus Frederico Abreu relembra com carinho os apelidos de Fred, por causa do sobrenome, ou de formiguinha, por ser pequena e magrela. “Nossa, eu fui muito zoada na escola! Ainda tinham as rixas com outros grupinhos ou a hora da chamada em que o professor falava apenas ‘Marcelle de Jesus’ e em coro eles respondiam ‘amém!’”, conta ela, que sempre preferia a presença dos meninos e tinha como matéria favorita a Educação Fisica.

Já no segundo ciclo do ensino fundamental Marcelle foi obrigada a trocar de ares. A mudança de escola se deu por uma confusão da freira responsável pela matrícula. “Minha mãe havia reservado a minha vaga no IESA e ela não encontrou e falou que não tinha como renovar. Eu tive que ir para outra escola, totalmente a contragosto”. O novo educandário seria o mais tradicional e antigo instituto de educação iguaçuano: o Colégio Leopoldo. “Eu sofri muito com essa mudança, precisei até de acompanhamento psicológico”.

A filha caçula de dona Jorgina não se habituou ao ritmo intenso e digno de um quartel imposto pela instituição. Não conseguia fazer amigos, teve baixo rendimento com as matérias e tirou sua primeira nota vermelha na vida. “A prova dos nove me matava! Não sei pra que existe aquilo!”, diz. “Eu passei a sentir medo de tudo. Dormia no quarto da minha mãe, sonhava de madrugada que estavam me atacando, foi um período bem difícil”.

Marcelle e as amigas: May e Gabi
KLB
Apesar da dureza das matérias exatas, Marcelle conseguiu superar os problemas matemáticos e foi incluída nas rodinhas pré-adolescentes graças a uma paixão juvenil: o grupo KLB. “Eu amava eles. Eu tinha inúmeras fitas com gravações, se eles dessem oi na TV eu já estava registrando. Era uma revista por dia, na parede do meu quarto não se sabia qual era a cor de tantos pôsteres”, conta ela, que aos doze anos tinha caderno, chaveiro e até mesmo uma mochila gigante com a foto dos meninos: Kiko, Leandro e Bruno. “Eu era conhecida na escola como a menina do KLB. Minha mãe que fez essa mochila. Fora que eu não suportava a ideia de não ter algum item deles, se saísse uma borracha que fosse eu tinha que comprar”, relembra entre risos uma das fãs responsáveis pelo enriquecimento do trio.

Graças ao amor platônico pelo grupo musical, Marcelle conheceu aquela que seria a sua melhor amiga: Gabriela Noel, ou simplesmente a Gabi. “Eu odiava a Gabriela. Queria bater nela e jogar o caderno do Bruno que ela tinha no chão!”, conta. No inicio a relação não era nenhum mar de rosas, mas o tempo revelou que o ‘ódio’ e a rixa pré-adolescentes nada mais eram do que um grande amor. “Uma vez na volta da escola a mãe dela puxou papo comigo e ela ficou com muita raiva”, conta Marcelle, que para irritar ainda mais a arquerrival tornou-se amiga de sua irmã, obrigando o encontro das duas. “No fim nós tínhamos mais em comum do que motivos para nos odiar. A Gabi é minha grande irmã, nós choramos juntas, rimos juntas, passamos sufoco juntas. Em todos os grandes e não tão grandes momentos, a Gabi esteve ao meu lado. Várias vezes eu nem estou em casa e a Gabi está dormindo na minha cama quando eu chego. Metade do meu armário pertence a ela”, diz sorrindo.

O ensino médio é com certeza um dos períodos mais marcantes e importantes para nove entre dez jovens. Os sempre bombados e caríssimos colégios/cursos em Nova Iguaçu se tornavam febre e a bola da vez era o FLAMA, para o qual Marcelle mudou. “Eu não queria ter saído do Leopoldo, mas adorei ter ido para o FLAMA. Lá reencontrei minhas amigas do IESA e tudo parecia voltar para um tempo de grande felicidade”, diz. Entretanto, o ensino médio reservava grandes surpresas e emoções, dignos de conto de fadas onde nossa mocinha sofreria bastante até chegar o beijo encantado do príncipe.

Natassia Prietsch, Marcelle Abreu,
Rafaela Nunes, Mayara Oliveira,
Rafaela Maia e Gabriela dos Santos

Amor pela vida
O primeiro grande choque de Marcelle se deu logo no primeiro dia de aula. Após a apresentação da instituição e do curso, o coordenador informou à turma que dentre eles haveria uma aluna que tinha câncer, que eles não se assustassem ou a tratassem com preconceito. “Eu senti um aperto no peito que eu não conseguia explicar. Depois, durante a chamada, eu ouvi o nome ‘Camila Infante’, eu tinha certeza que era ela”. Camila era uma das amigas da educação infantil que Marcelle reencontraria, após tantos anos. “Eu fui pra casa me sentindo muito mal mesmo, porque o tempo nos afastou e ela estava precisando de mim”, diz.

Camila apareceria na manhã seguinte estilosíssima com seu chapéu colorido e Marcelle não perdeu tempo em reencontrar sua velha amiga. “Ela era muito animada, todos, absolutamente todos no colégio, gostavam dela”, relembra com a voz embargada. “Ela nos dava força, falava sempre que com ela estava tudo bem. Ela adorava viver. E foi um grande exemplo pra mim”, rende-se às lágrimas.

Camila faleceu ainda no primeiro ano: um corte na perna durante uma partida de futebol feminino rendeu uma infecção à jovem. “Ela sempre participava de tudo, nunca se deixou abater, sempre linda. Ela desenhava a camisa da equipe, ela falava com todo mundo. Eu queria ter me despedido melhor dela”. Com a internação, a única comunicação de Marcelle com Camila era através de cartas, tempos depois Marcelle descobriu que algumas delas não haviam sido entregues por puro ciúme daquela a quem era confiado o serviço.

Os pais de Marcelle
O lado feminino de Marcelle brotou ao conhecer Júnior, seu primeiro namorado. O romance, que durou oito meses, era complicado demais para nossa jovem repórter, que já não aguentava o garoto-chiclete. “Ele me perturbava bastante, era muito ciumento. Eu não estava acostumada com aquilo, ele já havia namorado. Ter uma pessoa que me liga todo dia, me leva em casa, sai comigo, tudo aquilo me sufocava um pouco”, relembra. “Mas devo muito ao Junior também, porque graças a ele aprendi o quanto são importantes as demonstrações de carinho”.

Entre as idas e vindas do casal Marcelle, refugiava-se Guaratucaia, em Angra, na casa de sua amiga Samanta. “Eu sofri durante um tempo por causa disso. Cheguei a ficar um ano sem ninguém”, relembra.

Fila no quarto
Em uma das deliciosas férias de verão em Guaratucaia, Marcelle e suas amigas organizaram uma festa de despedida. Entre milhões de preparativos, Marcelle era encarregada de pilotar a moto da família de um lado para o outro dentro do condomínio. “Nessa noite eu andei muito de moto, fui a vários lugares, mas eu senti que o pneu estava estranho”, relembra a jovem que, inclusive, havia calibrado-o no mesmo dia. “Depois, quando eu já estava guardando a moto, a Aninha – Ana Claudia – perturbou minha cabeça para levá-la para dar uma volta. Fui. Quando já estávamos voltando para casa tinha uma parte do asfalto que estava trincada e com areia devido a obras, o pneu estourou, eu desequilibrei e surfei no chão”, relembra.

Marcelle ficou durante muito tempo debilitada, o corpo de sua amiga foi em cima do seu aumentando o peso, e ela ralou todo o rosto e ainda adquiriu dezenas de outras cicatrizes pelo corpo. “Meus amigos me ajudaram muito, nesse momento eu senti que de alguma forma eu era importante. Tinha dia que minha mãe pedia para eles não me visitarem, porque eu já estava muito cansada. Eles formavam fila do lado de fora do quarto”, relembra Marcelle, que brigou com o médico enquanto ele dava pontos em seu rosto. “Eu nunca tinha tomado ponto e ele estava mexendo havia muito tempo e não queria me dar um espelho. Eu fiquei muito feia, deformada total!”, diz hoje sorrindo.

Marcelle e o sobrinho Angelo
Meses após o acidente, Marcelle foi convidada para trabalhar na Agencia Max Models – atual Absolut. “Uma amiga minha, Barbara Garcia, já estava lá. Olhando minhas fotos eles se interessaram por mim. Fiquei toda boba, passei o dia no salão antes da entrevista. Assim que cheguei o Max – dono da agência – falou que já tinha um trabalho pra mim, que eu era o rosto que ele precisava”.
O contrato foi assinado e Marcelle passou a fazer parte do mundo da moda. Aprendeu a se maquiar, escolher roupas, arrumar cabelo, unha e tantos outros itens do mundo feminino sobre os quais, hoje, ela comenta. “A parte mais complicada foi aprender a andar de salto. Eu nem sei explicar como eu pisava, era muito estranho. A partir de então me interessei por esse universo e passei a cuidar mais de mim. Não fiquei nem um ano lá, não era meu interesse modelar, viver para a agência. Às vezes eu não tinha final de semana ou faltava aula. Aprendi muito, mas desisti”, conta

Sobre vaidade, Marcelle revela que quando era pequena sofria muito com seus cabelos finos e curtos. “Eles não cresciam de jeito nenhum e minha mãe ficava alucinada. Ela passava tanta, mas tanta coisa no meu cabelo. Qualquer embalagem com as palavras crescimento e cabelo ela comprava”, diz aos risos. “Tinha umas coisas que até ardiam, outras que fediam como nunca. Eu chegava à escola e as pessoas perguntavam: ‘Marcelle, por que teu cabelo tá fedendo tanto?’ E eu tinha que explicar que era mais um mirabolante método de crescimentos capilar da minha mãe”.

Paixão da vida
Mas a menina dona de quatro cães, um gato e quatro tartarugas, apaixonada pela família e principalmente pelo sobrinho de dois anos, Angelo, merecia um grande amor. Esse amor tão falado e conhecido por nós da equipe CulturaNI e dos leitores do Blog e no Mapa Afetivo. O namorado há quase quatro anos Felipe Vilarino.

Marcelle e o namorado Felipe Vilarino
Marcelle e Felipe se conheceram na academia. “Ele se achava o tal e eu então o desprezava”. Mas não teve jeito, Marcelle e Felipe se reencontraram na festa Genesis da Rio Sampa e após muitas investidas do menino a esmaltólatra resolveu permitir-se uma nova paixão. “Eu não senti nada de especial na primeira vez que ficamos. Mas eu precisei dar uma oportunidade. Fui aos poucos me aproximando até que quando percebi estava apaixonada”.
Em uma tarde chuvosa na volta da academia, Felipe se convidou para acompanhar Marcelle, que confessa ter adorado. Andando e conversando lentamente, a chuva tornou-se o pretexto para um abraço, afinal estava frio. Já no portão de Marcelle um beijo digno de horário nobre, segundo a moça, que levitou até seu quarto e por msn contou a noticia para metade da cidade. “Naquele dia sim eu até escutei sininhos”, diz entre risos. “Um mês depois nós começamos a namorar e tenho certeza que ele é o amor da minha vida”.

A jovem que declara sua paixão publicamente e até através das mais loucas formas – como 26 placas com versos romanticos espalhados pelo bairro dele – diz que sua vida é outra depois da entrada de Felipe. “Graças a ele e a família dele, passei a me interessar mais pelos estudos e tive pique até para o vestibular. Tenho um ótimo relacionamento com minha sogra e não fico um final de semana sem visitá-la”, conta rindo a sortuda. “Meu relacionamento com minha mãe melhorou muito. Em geral eu sempre tive tudo aquilo que quis e quando minha mãe negava, como por exemplo sair, eu ficava muito chateada. Na casa do Felipe aprendi que às vezes isso é necessário. Um olhar de fora ajudou bastante”.

Marcelle Abreu, que assina postagens no CulturaNI já há um ano e dois meses, relembra como foi sua chegada ao projeto, suas impressões e sua paixão pelo blog. “Eu cheguei no projeto por intermédio do Lucas Lima, foi tudo por um grande acaso, mas foi o melhor acaso da minha vida!”, revela. Marcelle e Lucas se conheceram em uma festa que inicialmente ela não iria. “Era a despedida do curso de inglês e tinha visita na minha casa. Mas terminou que eles foram embora cedo, eu me arrumei e fui pro Polo. O Lucas passou lá para encontrar uma amiga dele, terminou que ele sentou comigo, nos falamos e ele comentou do projeto”, logo o Messenger tratou de retirar as dúvidas da jovem blogueira que já tratou de procurar o Coordenador / Editor-chefe Julio Ludemir.

Com as típicas festas de fim de ano, o ingresso da menina na equipe do CulturaNI foi adiada para janeiro, quando prontamente ela estava na porta da SECMTUR – ainda com sede na Prefeitura Municipal – esperando a entrevista com o velho cinquentão com camisa do Flamengo. “Nós conversamos muito e o Julio me mandou fazer uma matéria sobre o Crepusculo. Não ficou uma matéria, mas ele acreditou em mim e isso foi o mais importante”, conta ela que em pouquíssimo tempo já faria parte do grupo e até conversaria durante as reuniões. “A primeira reunião foi um susto pra mim. Eu não imaginei que o blog era tão grande, que tinha tanta gente diferente! Mas fui muito bem recebida e já sou veterana”, diz entre risos.

A estudante de publicidade e propaganda, do 5° período, na UNIGRANRIO, já trabalha em sua área, auxiliando no inovador projeto BAIXADA MAIS – o primeiro site de compras coletivas da Baixada Fluminense. “O CulturaNI me deu grandes contatos e um deles me deu o Baixada Mais. É incrível porque eu tenho a possibilidade de coordenar meu horário de maneira que não me prejudique na faculdade e eu ainda convivo com pessoas como o Julio. Quer dizer, eu ganho dinheiro para aprender. Quer vida melhor?”, diz sorrindo e completa. “Ás vezes, eu fico chateada com que não se dedica e leva tudo de qualquer jeito. Mas estamos trilhando nosso caminho e o CulturaNI é parte fundamental em tudo isso”, encerra.

9 Comentários:

SIRF disse...

a matéria é espetacular.
o personagem é espetacular.
temos muito o que discutir a partir desses perfis.
grande beijos nas duas.

Julio Ludemir disse...

a matéria é espetacular.
o personagem é espetacular.
temos muito o que discutir a partir desses perfis.
grande beijos nas duas
ps - esqueci de assinar.

Marcelle Abreu disse...

Sem palavras. Obrigada, minha linda por escrever sobre mim de um jeito tão doce e delicado.
Amei. Você é maravilhosa mesmo.

Matéria excepcional. Personagem excepcional.
Parabéns Hosana pelo lindo texto, à Marcelle pela linda pessoa que é e ao Julio, por ter acreditado em ambas repórteres talentosíssimas.

Gabriela Noel disse...

Hosana parabéns, adorei seu trabalho.
Matéria fantástica, e a forma como você colocou tudo...Nossa!até me emocionei de lembrar por tudo isso que passei junto com ela.rs
Quanto a Marcelle acho que sou suspetíssima a falar né, ela é um presente que Deus me deu.

Natássia disse...

adooorei a mateira,
Parabens amiga, rir mt em certos pontos rs..
;)

Yasmin Thayná disse...

"Queria bater nela e jogar o caderno do Bruno que ela tinha no chão" nossa, haha eu ri muito dessa parte! Uma bela e emocionante história da marcelle. gosto muito. Achei bacana também a relação da repórter com a entrevistada. Ficou sutil a relação e dá pra ver, nitidamente, que houve um contato além do profissionalismo, o que eu acho ótimo. um beijo nas duas lindas e absolutas.

Hosana Souza disse...

Obrigada gente.. a Marcelle é uma linda mesmo. E quanto a matéria, aprendi a escrever com o cinquentão de blusa do flamengo, a marrentinha e a sagaz. Beijos

Mayara Barbosa disse...

Nossa! Que mix de emoções! Do choro a gargalhada! Parabéns as duas! =]

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