por Leandro Oliveira de Aguiar
Pegue os jovens fascinados pela micareta, somados ao funk desbocado e isso multiplicado pelas músicas eletrônicas. Tudo isso elevado à enésima potência pelas “ficadas” sem compromisso. Pela lógica, a nova geração seria de longe a que mais torceria o nariz para a tal caretice chamada casamento. Todavia, segundo os dados do IBGE, o número de matrimônios aumentou, principalmente entre os jovens.
Entre as mulheres, a união acontece em sua maior parte no grupo de 20 a 24 anos (29,7‰) e entre os homens se concentra na faixa etária dos 25 a 29 anos (28,4‰).O que mais surpreende nessas informações é que está profundamente enraizada nos jovens a ideia do casamento interligado a uma espécie de “game over“ para a felicidade.
“Estou preparando o meu casamento agora, gosto muito do meu noivo e ano que vem a gente casa!“, diz Ângela Maria Neves, de 22 anos, que cursa a faculdade de farmácia e não se arrepende da sua escolha. “Muitas amigas acham que estou louca, mas cansei da bagunça, acho que até pelo fato de ter começado a curtir as festas desde muito cedo“, conta ela.
A geração 60, que prometeu ser jovem para sempre e que tinha como ideal conhecer o mundo antes de casar, geralmente não vê com bons olhos essa tendência dos filhos. “Não quero que meus filhos queimem etapas. Jovens, aproveitem a vida! Para que depois não se arrependam. Tive muitos atritos com a minha filha na época que ela resolveu se casar, com apenas 22 anos“, diz a professora de matemática Elisabeth Fátima de Oliveira, vacinada com os dois casamentos malsucedidos da filha mais velha.
Esses conflitos de gerações sempre existiram, mas agora acontecem em uma dinâmica própria de um mundo globalizado. A sociedade que é obrigada a se reinventar a cada década pelo bombardeio de informações e ideias acaba produzindo situações no mínimo inusitadas. Agora numa mesma casa podemos ter três diferentes visões do mundo: a mesma avó que em seu tempo via com bons olhos casamentos entre pessoas bem jovens, para evitar possíveis comentários maldosos, vive ironicamente o mesmo choque de ideias e tentativas de imposições entre seus filhos e netos, num interessante e efervescente choque de visões sobre o tema.
Os acontecimentos do último século de certa forma são usados de forma inconsciente nessas quedas de braço. Da mesma forma que a pílula anticoncepcional trouxe uma liberdade sem precedentes, o vírus da AIDS deixou o mundo mais careta. Não é à toa que o técnico de informática Luis Felipe Santos, de 23 anos, se identifica tanto com a avó. “Minha avó sempre diz que na sua época as coisas eram certas e por isso está tudo fora do lugar. Escolhi me casar cedo, pois acredito no que minha avó pensa. O casamento é mais certo aos olhos de Deus”, conta ele, que está noivo e pretende se casar no máximo em dois anos.
O imponderável está presente nessas estatísticas. Não podemos descartar uma gravidez indesejável ou um simples impulso juvenil como fatores importantes para a tomada de decisão. ”Me casei nova e me arrependi", diz a hoje divorciada Marlene Sampaio, de 26 anos, que largou os estudos e trabalha como vendedora para cuidar de seu filho. "Há dois anos fiquei grávida e perdi muita coisa. No fim, atrasei minha vida. Mas não é o fim do mundo, sempre dá pra recomeçar.“
A imaturidade pode terminar em brigas, muitas vezes provocadas pelo ciúme típico da idade ou pela falta de dinheiro, igualmente comum entre os jovens. “É difícil dois jovens se manterem estáveis financeiramente. Nossos pais nos ajudaram, mas muitas vezes não era suficiente e passávamos sufoco. Deve-se pensar muito antes de tomar essa decisão“, aconselha Marlene, alertando sobre o risco do sonho acabar virando pesadelo.
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