por Yasmin Thayná
Quem vê Osmar Machado na rua tem a consciência de que este estudante do terceiro ano do ensino médio não saiu de casa com a intenção de ser mais um invisível na sociedade. Com uma bota, short, um lenço, um par de óculos coloridos, Junior desfila pelas ruas do bairro periférico que mora em Nova Iguaçu sem medo dos comentários. "Eu sofro muita discriminação por ser eu mesmo", diz ele, que é mais conhecido como Júnior por causa do pai ex-militar.
É dos maiores críticos de Júnior que vem a certeza de que esse jovem de 17 anos, que também está fazendo um curso preparatório na turma de aprendiz de marinheiros da escola Primeira Opção. "As vezes, eu fico olhando e vejo esses garotos que me zoam usando as mesmas combinações que as minhas. Eles falam mal mas no fundo curtem o estilo. Até copiaram a armação dos meus óculos."
O dom para a moda aflorou nas brincadeiras com as primas, produzindo as roupas de suas bonecas. "Minhas primas gostavam das modificações que eu fazia nas bonecas delas. Mexia no cabelo, nas roupas e ia criando combinações até que serviu para a vida." Ao encontrar croquis para roupa num sebo do centro da cidade onde mora, Junior se encorajou e começou a dar presentes criativos, baratos e feitos por ele mesmo. "Comprei um pano bonito e fiz uma saia de cós alto e dei a Vanessa."
Reinvenção
Além da saia, já fez camisas gola V, recosturou uma calça e um macacão. As roupas velhas que tem na gaveta, ele não joga fora. Algumas são doadas, outras, reinventadas. "Quando eu compro roupas novas para mim, eu vou encaixando. As roupas velhas eu gosto de modificar também, faço uma gola diferente, altero as cores e o tamanho. Tem uma camisa que eu tenho um carinho porque o tecido dela é grosso e eu coloquei meu nome nela. Gosto muito porque era uma camisa supervelha e hoje eu saio com ela por aí."
Existem alguns cobaias que participam dos momentos em que Junior decide "acordar estilista" e fazer experimentações nos amigos e até mesmo na própria mãe. "As combinações que faço nas pessoas são simples. Eu vou encaixando as roupas. Eu olho para a pessoa e vou colocando até ela dizer que está bom. E comigo é meio assim também. Eu faço muito isso e influencio minha mãe. Ela não gostava de usar salto, maquiagem e saia. Hoje ela já usa. Eu até faço o cabelo dela", disse enquanto fotografava as roupas penduradas no varal sendo interrompido por sua mãe. "Esse menino não é normal. Ele tira foto de roupa e corta pano daqui e costura de lá. Agora ele todo final de semana cuida de mim. Faz meu cabelo e até minhas unhas, se deixar", adicionou Claudia Miranda, mãe de Junior.
Os olhos de Júnior ficam marejados quando lembra a falta de apoio na família para desenvolver seu talento inequívoco. "Acho que o pior é quando a sua mãe e o seu pai não acreditam em você. Isso que mais doi em mim", lamenta-se esse menino de uma beleza angelical, com cabelos loiros e olhos azuis. Mas ele não abre mão de sua elegância extravante. "Eu sofro discriminação pelo jeito que eu me visto. Alguns me chamam de viadinho, outros de criativo. É difícil, mas eu não desisto de usar roupa nenhuma. Porque eu sou as roupas, tanto faz se é de marca ou não. Vou sempre usar porque eu me sinto à vontade, mesmo que as pessoas olhem torto."
Nas aulas de arte do professor Luis Henrique, Junior aceitou um desafio mais por amor do que pela pontuação que ganharia. "Queria fazer algo diferente e o professor de artes queria que fizesse um trabalho sobre o que mais gostamos de fazer. Pensei fotografia ou moda. Sentei na máquina e perguntei para a costureira por onde começava a fazer uma calça. Peguei um saco da Comlurb, fiz o molde de uma calça minha e costurei. No dia, para receber a nota, eu tinha que andar com a peça. Coloquei uma calça jeans em baixo e fiquei andando. Algumas pessoas pensaram que era calça de couro. Esse dia foi bem legal. Agradou até a diretora e ela me perguntou se eu queria fazer parte do grupo de artes. Hoje eu sou do grêmio e faço essa parte artística na escola."
Redes sociais
Elegante nas fotografias que posta em suas redes sociais, Junior transforma os cenários de sua cidade em experiências plásticas que combinam a um só tempo com as fotografias e, é claro, suas roupas. Mas sua identida visual não está no Rayban marrom, nos lenços com cores vivas ou até mesmo no seu modo de andar. "Quando eu coloco o meu All Star vermelho, eu falo: 'esse sou eu.'"
O pequeno príncipe dos óculos estilo Lobão e roupas traduzem carisma, determinação e força de vontade. É com essa fortaleza que ele carrega dentro de si que ele enfrenta as corridas mais difíceis e competitivas da vida. "Doutrina, determinação, foco. É assim que eu vou seguir a minha vida", finalizou.
junior e seus irmãos após uma caminhada em Tinguá, 2010
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