por Lucas Xavier
Cada um torce de um jeito.
Existem aqueles mais reservados, que mantêm a comemoração, a explosão do resultado dentro de si. São os mesmos que também não externam as dores da derrota.
Existem os nervosos, os emocionais. Não conseguem reprimir o grito de ‘gol’ na garganta. Não conseguem reprimir, também, um palavrão que não merece estar em um texto jornalístico, muitas vezes direcionado à mãe do árbitro.
E existem os botafoguenses.
Parece hipocrisia destinar a uma torcida um sentimento especial, uma vez que existem tantas torcidas apaixonadas, pelo Brasil afora. Mas a torcida do Botafogo é, sim, diferente.
A explicação desse sentimento diferenciado talvez venha das pernas geniais de Garrincha, que com seu jeito índio de jogar futebol, cativou multidões pelo simples gosto de driblar. Para ele, a brincadeira superava o jogo em si.
Ou, talvez, a explicação venha do Sr. Carlito Rocha, ex-presidente do clube, que é muito conhecido por suas loucuras. Como por exemplo, amarrar as cortinas de General Severiano – sede do Botafogo - com a intenção de ‘amarrar as pernas do adversário’. Como bem disse Rui Barbosa: “Se falassem ao Carlito que a índia Diacuí era uma revelação de beque central, ele mandaria o Botafogo contratá-la.”
Essa magia, essa superstição que todo o botafoguense carrega historicamente, se evidencia nos dias de jogos. Bernardo Abreu, de 14 anos e apaixonado pelo Botafogo, tem a simples convicção de que se esparramar no chão a cada gol de seu time levará o mesmo à vitória. E se por acaso o Botafogo fizer dois gols, ele terá que se jogar duas vezes no chão. Três gols? O procedimento se repete, por três vezes. E assim sucessivamente.
Carlo Gonçalves, um rapaz bem apessoado de 19 anos, prova que a superstição não é exclusividade das crianças: “Para mim, torcer pelo Botafogo é muito complicado. Pois não é sempre que minha cueca da sorte está limpa e pronta para uso.” Ele jura que nunca viu seu time perder enquanto usava a tal cueca. E esse é o mesmo Carlo que puxa violentamente a própria camisa toda vez que o time adversário chega perto do gol. “É para puxá-los para trás”.
Eduardo Cavalcante, de 53 anos, tem sempre seu maço de cigarros à mão em jogos do Glorioso. Vício? Talvez. Mas toda vez que acende seu fumo, diz: “Vou acender o cigarrinho alvinegro.” A certeza é tão grande de que ao acender seu cigarro a sorte irá correr à ajuda do Botafogo, que ele se acalma, por mais tenso que esteja a partida. Segundo ele, foi esse ato que salvou o Botafogo na final do Campeonato Carioca de 2010, quando Adriano desperdiçou o pênalti salvo por Jefferson, goleiro alvinegro.
Cada torcedor, uma ou várias superstições. É assim que se escreve a história do clube mais folclórico do Brasil. Com acontecimentos mágicos dentro do gramado, e fora, também. E é assim que se diferencia um alvinegro. Não pela casualidade de outras torcidas que se sujeitam a gritar e torcer. Mas pelo mito, pelo encargo próprio de que o resultado positivo depende mais de usar a cueca da sorte do que o suor dos jogadores no gramado. Enquanto o jogo se desenrola, acontecem nas arquibancadas milhares de pequenos rituais, todos conscientes e seguros da responsabilidade que carregam. E a cada vitória, os torcedores do Botafogo voltam para suas casas felizes; e com a certeza de que foram aqueles puxões loucos na camisa que trouxeram mais uma glória.
Paixão diferente
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Marcadores: Lucas Xavier, Mainstream
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2 Comentários:
texto, brilhante com ótimas dinâmicas.
Parabéns, lucas.
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