por Marina Zuqui
Mesmo com toda a movimentação do Brasil Alfabetizado, o jovem Douglas Dias dos Santos, 15 anos não passou despercebido. Cursando o 2º ano do ensino médio no Colégio Estadual Califórnia, ele participa do grupo “Capoeira Alternativa”, projeto ministrado por Bruno Vasconcelos e Paula Gisele, ambos professores de capoeira no Riachão. Douglas Dias não é um garoto qualquer. Sua história começa bem cedo, quando seus pais se separam e ele vai morar com a avó, pois sua mãe não trabalhava e seu pai não o ajudava. Algum tempo depois sua mãe conseguiu juntar um dinheiro e arrumou sua casa, mas não quis ir morar com ela, pois já estava apegado à avó, e sua mãe já tinha um parceiro com o qual teria sua irmã.
No início, seu padrasto o aceitou, porém com o passar do tempo ele parou de falar com Douglas, que nem entrar na casa de sua mãe podia. Seu padrasto batia em sua mãe. Indignado, Douglas chorava na casa de sua avó, onde mora.
Numa dessas brigas, a coisa ficou feia e seu padrasto abriu a cabeça de sua mãe. Após essa violenta agressão, sua irmã parou de falar com o próprio pai. Douglas conseguiu convencê-la de que seria melhor que ela voltasse a falar com o pai. Nesse momento, seu padrasto chamou-o e pediu desculpas por tudo que lhe fizera. No meio de tanta dificuldade Douglas, entrou para capoeira para ocupar sua mente e esquecer os problemas. “A capoeira muda seu modo de pensar. Onde moro tem muito tráfico de drogas, e eu ocupando minha mente com o esporte não caio nessas armadilhas do mal”, diz ele, que foi um dos primeiros integrantes do grupo de capoeira.
Douglas não guarda mágoa de seu padrasto. “Por mais que as pessoas façam ruindade, façam cara feia e te ignore, nunca devemos desistir dos nossos objetivos, porque vale a pena ser uma pessoa trabalhadora e honesta. O perdão dele foi tudo pra mim. Como diz a Bíblia: os humilhados serão exaltados.”
Música e cidadania
O evento também contou com a presença da banda escolar do Monteiro Lobato. Sua apresentação trazia um Mickey, recebendo as pessoas, e os alunos tocando. Iago da Silva, 14 anos, estudante do 9º ano no colégio Municipal Monteiro Lobato, fazia parte dessa grande banda. Seus pais também se separaram quando Iago ainda era uma criança. Ele mora só com a mãe, e prefere que seja assim. Iago conta que sua participação na banda melhorou sua vida social e seu jeito de pensar e falar. Ele não tem outra ocupação a não ser estudar e ensaiar na banda da escola. “Gosto de vir na escola pra ver meus amigos e os professores, também ‘me amarro’ na diretora Rosemarry, porque eu sempre estudei aqui e me apeguei a ela. Acho bacana estudar aqui.”
O maestro Renato Bastos Silveira acredita que a banda introduz, pelo viés da participação, conceitos de cidadania para os estudantes. “Acho isso tudo muito importante para que os alunos comecem a ter essa questão de cidadania e participação. Eles encontram algum sentido de viver na música. É bom ver a resposta nos alunos e contribuir na vida deles.”
Depois de uma pesquisa com os estudantes, que revelou a preferência deles por funl, rock e pop internacional, Renato Silveira criou um repertório baseado na música popular brasileira. “Uma música que nenhum deles conhecia, por exemplo, foi ‘O Barquinho’”, diz o maestro, que aposta na bossa nova, baião, forró e MPB.
À frente da banda vinha o Mickey, que arrancava sorrisos das crianças que por ali passavam. Tirou muitas fotos, pegou as crianças no colo e fez a felicidade da garotada. Mas por trás de tudo isso existia Adriano da Luz França, que anima as festas produzidas por sua sogra, Adriana Fernandes. Adriano a conheceu através de sua namorada. Em seu trabalho, o mais pedido é o Mickey, por ser o mais conhecido e mais querido, porém existe também a Minie e Os Backyardigans. Esse empreendimento de sua sogra começou depois da festa de aniversário da filha. "Gostei de preparar a festa e montei um buffet", conta ela. Adriano não pretende permanecer nesse emprego. Mesmo com seus cinco personagens vivos mensais, Adriano tem um sonho: ser Polícia Militar.
Acidente de trabalho
Adriano da Luz, em seus 22 anos, já vivenciou muitas histórias. Quando cursava o ensino fundamental, ele passou dois anos sem estudar, para trabalhar em uma lanchonete e ajudar sua mãe a cuidar de sua irmã paralítica. Aos 18 anos, cursava o 1º ano do ensino médio e entrou para o quartel. Até hoje Adriano não voltou a estudar. “Não acho que o fato de eu ter parado de estudar me prejudicou profissionalmente. Acho que não se precisa de currículo e sim de conhecimento”, acredita o animador de festas.
Adriano sofreu um grave acidente há nove meses, quando trabalhava em uma borracharia na Pavuna. "Estava trabalhando em um caminhão e, quando terminei, o macaco quebrou e o caminhão caiu em cima do meu pulso", lembra ele, que, embora tenha se submetido a três cirurgias ao longo de um mês, jamais conseguiu se recuperar. Embora esteja recebendo uma pensão do INSS, o jovem não parou de trabalhar: dirige a camionete de entregas de uma distribuidora de alimentos, trabalha com forro de PVC e, é claro, animação de festas. “Odeio ficar parado. E não é só porque eu recebo do INSS que eu vou me acomodar e parar de trabalhar.”
Adriano garante que não desistirá de ser PM, seu sonho maior. Para isso, retornará aos estudos ainda esse ano, supletivo, e assim que seu pulso colar entrará para a Polícia Militar.
Turma alfabetizada
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Marcadores: Bairro Escola, Marina Zuqui
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