por Dine Estela
Uma conversa no ônibus que faz a linha Austin-Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, me chamou atenção. O cara reclamava horrores de uma passageira avarenta que fazia questão do seu um centavo de troco. Comecei então a fazer umas continhas. Digamos que uma linha de ônibus transporte 300 passageiros por dia e cada um deixe um centavo de "caixinha". No final do dia, esse caixinha terá R$ 3, que no final da semana serão R$18 e e do mês R$ 72. Se este trocador ficar com R$ 1 de 10 pessoas, serão R$ 720 por mês. Como ele só tem que prestar contas das passagens pelo número de roletagens, essa "graninha" vai para o café, o salgadinho, algo que eles nem se dão conta, mas que faz uma relevante diferença no orçamento mensal considerando, que o salário de um trocador não passa dos R$ 700.
Segundo Jorge Gonçalves, hoje motorista de ônibus mas que ainda exerce as duas funções e trabalha cinco dias para folgar, esse valor é muito relativo porque a quantidade de pessoas que pagam a menos muitas vezes faz a balança pesar no sentido contrário. "Quando vamos fazer as contas no final do dia, muitas vezes ainda temos que completar do próprio bolso com o famoso 'vale'", afirmou Jorge.
Além de dirigir, ele tem que cobrar as passagens, muitas vezes com o ônibus em movimento, por conta da pressão pelo número de viagens que precisa fazer. “Se paramos a empresa reclama, se andamos os passageiros também ficam com medo”, diz o profissional, para quem o acidente se torna inevitável quando tem que apelar para uma direção defensiva. Há quatro anos, a função de trocador começou a ser extinta de algumas linhas, principalmente dos percursos pequenos ou com baixa demanda de passageiros.
Os passageiros também não se sentem confortáveis com a situação. Deise Luiz, 49, usuária da linha Queimados-Nova Iguaçu, reclama da falta de atenção e superlotação. “O motorista não sabe se fica de olho no dinheiro ou na estrada. Muitas vezes nos dão o troco errado. Mas se não fizer isso, a viagem demora mais ainda”, conta. Alguns donos de empresas garantem que os motoristas têm a orientação de cobrar a passagem com o veículo parado, mas na realidade não é o que acontece.
Rildo Santos, que também atuou na área quando ainda tinha 15 anos, lembra que muitas vezes sabia que tinha dado o troco certo, mas como o beneficio da dúvida é sempre do cliente, pagou muito vale. "Eu sabia que tinha dado o troco certo, mas como era muito pequeno não era respeitado. Logo depois a empresa parou de contratar pessoas muito novas e fui demitido, isso acontece ainda hoje. Logo depois fui demitido mas aprendi muito e conheci muitos lugares no Rio. Hoje ando por todo lado. Quer saber uma informação correta, pergunte para um trocador ou motorista, seja de ônibus ou de táxi", afirma Rildo, que hoje trabalha como mata-mosquita na Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
De centavo em centavo a galinha enche o papo
terça-feira, 21 de junho de 2011
Marcadores: Baixada, Dine Estela
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2 Comentários:
Muito bom o texto, parabens, Dine.
Valeu, Pedrão!!!
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