por Leandro Oliveira
Espalhados por qualquer canto da cidade estão aqueles que possuem uma verdadeira aversão à tecnologia. E não adianta argumentar, por que eles não lhe darão ouvidos. O horror que sentem ao se aproximar dos objetos tornou-se sua filosofia de vida.
Talvez estejam bem perto de você, basta olhar seus nichos ecológicos como antiquários ou sebos. É caso do advogado aposentado Ernesto Fausto frequentador assíduo de lugares nostálgicos. “Odeio qualquer coisa que tenha um chip”, conta, reiterando em tom apocalíptico o dia em que a maquina governará o homem. “Perdemos o calor humano. Agora quando quero resolver um problema ligo para o atendimento ao consumidor e só escuto uma voz eletrônica me dizendo que no momento não pode me atender”.
A opinião de Ernesto nos remete ao clássico filme “Metropolis”, de Fritz Lang. A obra apostava em um futuro tenebroso para séc. XXI em que os trabalhadores seriam escravizados pelas máquinas. Hoje em dia outras pessoas também fazem a mesma reflexão sobre a mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos que supostamente diminuiria a importância do ser humano no processo.
Os mais novos acabam ficando soberbos já que tem seu lugar garantido no mundo contemporâneo em que a tecnologia já tem suas raízes fincadas. Mas a antítese do novo paradigma tem sempre um bom argumento para fugir do estigma de ultrapassados. Afinal a frase “Eu vivia muito bem antes de inventarem isso!” sempre será o ponto final de qualquer debate para eles. “No controle remoto eu só preciso do botão da setinha que muda o canal!”, exclama a dona de casa Maria Atanásio, de 55 anos.
Para os jovens fica uma dica. Novos tempos, novas neuras! Empurrando a uma rotina sufocante, o celular não pode ficar sem bateria, o computador dar pane e ainda existe o maldito manual de instruções do aparelho eletrônico que não resolve nada para nosso desespero.
Se você já teve vontade de socar seu computador ou martelar o celular, cuidado você pode estar sofrendo de tecnostress. “Desde novo desenvolvi raiva contra aparelhos eletrônicos. Esperar o elevador era uma tortura, queria ter o poder de controlar tudo”, conta a professora de história Jessica Vasconcelos, “Tive que ir no psicanalista. Nem eu conseguia me aguentar”, assume com irreverência.
O caso mais complicado é o do baiano João Henrique que se mudou para Nova Iguaçu atrás de novas oportunidades e vive preso em seu próprio pesadelo. “Trabalho com telemarketing. É o emprego mais estressante do mundo, fora a grosseria dos clientes fico preso a todo tipo de engenhoca barulhenta”, diz ele, que considera seu trabalho o ambiente mais claustrofóbico do mundo. “Na hora do expediente tenho vontade de ir morar em uma fazenda, um lugar bem afastado. Mas continuo por que uso a grana para pagar minha faculdade”. conta olhando para o futuro e provando definitivamente que o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração, independente de qualquer clique.
“Quando digitamos aquele monte de números do código de barras de uma fatura, estamos fazendo nada menos que o trabalho de um bancário. Os grandes banqueiros deram um jeito de economizar nos explorando”, diz o bibliotecário Fernando Cássio.
3 Comentários:
"provando definitivamente que o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração, independente de qualquer clique", lindo!!!!!!
Rafael Nike
Maravilha, Leandro! Linda matéria, muito bem escrita! Parabéns!
Obrigadoo!!
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