Tradições ao vento

terça-feira, 2 de agosto de 2011

por Leandro Oliveira



Passear pelo subúrbio e observar pipas ao vento é cena mais do que comum. Durante as férias, então, é tradição consolidada. Julho e dezembro são épocas de alta temporada. O céu se colore e se transforma em uma bela pintura emoldurada pelas  as crianças que correm pelas ruas junto com nostálgicos marmanjos que ainda  se deliciam com o objeto feito de papel e varetas .

Há tempos imemoriais gerações se distraem com a arte ao vento que é praticada e suas paixões são constantemente renovadas. Todos ali cresceram escutando as histórias dos pais e avôs que passavam horas na rua e trazem a identidade do subúrbio em suas mãos talhadas com as cicatrizes da linha. “Desde criança pratico. É de pai para filho, meu avô já soltava pipa”, conta o vendedor ainda praticante Aurélio Antunes, 45 anos que enaltecem a tradição.

Entranhada na cultura popular empenar pipa é coisa de moleque malandro e basta andar pelas ruas para constatar a sua popularidade. “Em qualquer lugar em que se necessita de diversão humilde. Lá está ela presente da zona norte até a baixada fluminense”, diz Ubirajara Sousa, 35 anos, “Não tenho vergonha de assumir que é sou um grande soltador de pipas na laje”, explica orgulhoso.

A pipa que tem por vocação o mundo, já virou até caso de policia com a proibição do uso do cerol. Quem não se lembra das polêmicas reportagens que tentavam explicar a mistura de pó de vidro com a adição de cola de madeira que são passadas nas linhas para torná-las cortantes. A mistura científica da periferia causa acidentes, principalmente entre motoqueiros que acabam seriamente feridos, mas o objetivo específico é cortar as linhas e derrubar as “pipas” adversárias.

A lei que proibe o uso do cerol segue, emblematicamente, a longa tradição brasileira do jargão “para inglês ver”. E acaba se tornando motivo de algumas revoltas e piadas entre os praticantes. “Só por que é uma atividade de pobre e preto”, diz com uma mistura de exagero e revolta, o jovem morador do Jacaré, Welington Sousa, 17 anos. “Isso não existe, todo mundo usa. Soltar sem cerol é o mesmo que jogar bola sem a bola”, continua reforçando seu argumento.

Para driblar a proibição, em alguns lugares existem associações de bairros que montam concursos cujo o vencendor é aquele que cortar maior a quantidade de linhas. “Já participei e cheguei bem longe. É uma mistura de competição e talento” conta Rafael Bernades, 25 anos, morador do KM 32 na estrada de Madureira. “Quando criança só entravamos para comer e dormir. Já  fui até atropelado correndo atrás das pipas”, conta com o olhar saudoso e apaixonado, “Operação: Pipas o ano inteiro! Eu apoio”, encerra brincando.

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