por Hosana Souza
Recordo-me da primeira vez em que vi Marcos Alvito. Um homem alto, magro e branco, cinquentão, parado ao lado da já conhecida imagem falante de Julio Ludemir. Estávamos em Nova Iguaçu, a minha cidade que, naquela manhã, se revelaria um pouco mais. Caminhamos para uma ação do programa da prefeitura local, o Livro Livre, os dois escritores e as duas meninas curiosas. Pois como era de se prever Jéssica Oliveira me acompanhava em mais essa aventura, ela que é minha companheira desde a infância.
O destino era a Polinter. Eu que nunca havia visitado meu primo que fora preso, entraria na cadeia por outro motivo: pela fé de que a leitura é capaz de libertar. A cada passo na subida da ladeira imaginei a dor que minha tia sentia ao visitá-lo. Recordei que na quinta-feira anterior, enquanto ia para a escola, a encontrei no ônibus, firme com sua sacola de utensílios e lanches para ele. Só ela e a esposa o visitavam. Não que a família o houvesse rejeitado. O próprio não queria que tivéssemos dele uma lembrança assim. Agradeci mentalmente por ele não estar ali, naquela Polinter. Me muni da câmera fotográfica e parti para o trabalho.
Arrisco dizer que a penitenciaria é nosso capitulo zero. Minha primeira lembrança de Alvito. A primeira lembrança de Alvito no desenho de suas cores.