por Saulo Martins
No caminho do cinema até a minha casa, minha mente borbulhou ideias e constatações. Pode parecer, para aqueles não tão jovens quanto eu, que isso tudo é uma grande besteira. E de fato, pode até ser. Afinal de contas, é só uma série de filmes. Mas, quase como o evento que fecha o último ciclo que ainda me ligava com a minha infância. É, metaforicamente, um aniversário de debutante ou um Bar Mitzvá. É perceber que eu não tenho mais nenhuma ligação intelectual com que eu era há 10 anos, esse era o meu único elo.
Os gritos e os assobios inundavam a sala de cinema, e também a minha cabeça. É difícil admitir que eu, um universitário, acostumado com filmes do Godard e músicas dos Novos Baianos com – não muita – barba na cara, como me disse alguém , esteja ali, compartilhando do mesmo sentimento de animação e ansiedade com crianças de treze anos. Pra mim foram dez anos de espera por um filme. Dez anos acompanhado o crescimento de personagens, amadurecendo junto com todos eles. Admirando, esperando, gastando boa parte das minhas mesadas com os livros e os ingressos para os filmes. É complicado fechar esse ciclo com esse sentimento de estar sendo ridículo ao pagar – com muito orgulho – para ver um filme onde terei que dividir o espaço com cem crianças atordoadas.
Não sei explicar os pontos positivos do filme, como eu costumo fazer. Mesmo que eu o assista quinze vezes, tudo que eu vou conseguir enxergar é o fim de uma história que eu segurei por dez anos. É um filme que me tocou, mas não necessariamente por ser bom. Tudo que eu consigo dizer é que ele foi marcante pra mim em diversos pontos.
Eu não chorei, não gritei e não bati palmas. Pelo contrário, inclusive. Eu e minha prima, que me acompanhou, ficamos muito irritados com as pessoas que se exaltavam demais. Por mais que a minha vontade fosse de dizer o quanto eu estava triste quando os créditos começaram a subir, a única frase que eu consegui dizer foi: “Isso nunca mais vai acontecer de novo.”
Talvez um dia eu perca essa visão romântica sobre a série. Talvez um dia eu consiga fazer uma crítica sobre ele, mas tudo que eu quero – e sou capaz – de fazer agora, é dividir o sentimento mais confuso que eu já tive na minha vida.