Amores perfeitos

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

por Lívia Pereira

“Não te peço a ventura desejada,
Nem os sonhos que outrora tu me deste,
Nem a santa alegria que puseste
Nessa doce esperança, já passada.
O futuro de amor que prometeste
Não te peço! Minha alma angustiada
Já te não pede, do impossível, nada,
Já te não lembra aquilo que esqueceste!
Nesta mágoa sorvida, ocultamente,
Nesta saudade atroz que me deixaste,
Neste pranto, que choro ainda por ti,
Nada te peço! Nada! Tão-somente
Peço-te agora a paz que me roubaste,
Peço-te agora a vida que perdi!”

(Amélia de Oliveira)


Olavo Bilac, poeta da Via Láctea, pai e filho da perfeição parnasiana, teve ao longo de sua obra o sinal do amor impossível. Obra vasta, intensa, constante, digna dos que amam à distância extrafísica.

Amélia de Oliveira, irmã de seu grande amigo Alberto de Oliveira, foi sua eterna namorada, seu único amor. Conheceram-se no bairro do Barreto, em Niterói, na casa da família Oliveira.

A família se muda para o bairro da Engenhoca e Olavo, já consumido pelo amor, aparece ainda mais frequentemente. Ali, reduto dos grandes poetas, desencadeia-se e aprofunda-se ainda mais o laço que liga Olavo a Amélia. Um amor que se manteve vivo até sua morte ou quem sabe além.

Combustível de suas mais belas obras, Amélia foi seu amor impossível. Não que fosse grande a distância, nem tampouco não fosse recíproco o sentimento. O impedimento se chamava José Mariano, irmão de sua amada. “Não quero – afirmava ele – que minhas irmãs se casem com jornalistas ou poetas, pois todos são boêmios incorrigíveis”.


Bilac chega a noivar com Amélia, mas a tentativa do casamento fica prorrogada até uma próxima vida, pois eis que vinte e poucos dias após a data do noivado o pai de Amélia vem a falecer. José Mariano, então, decreta o fim do romance.

Deve-se à impossibilidade a extensa produção de Bilac? Surge então no coração dos marcados pela fuga do amor o pulsar de um novo mundo através da caneta e do papel? Deixam escorrer pela tinta todo desejo aprisionado?

Em conversa com um professor de Física e escritor, que prefere não ser identificado, morador do centro de Nova Iguaçu, tentamos responder a essas perguntas.

Ele conta que desde o início do ano vive uma história repleta de querer e distância. “Temos uma impossibilidade de 600 km”, conta o professor. Ela, em Vila Velha, ES. Ele, em Nova Iguaçu, RJ.

Prima de um amigo seu, eles se encontraram num simpósio de Física, ficaram juntos, compreenderam juntos o sentido da palavra intensidade, mas ela foi embora. “Quanto mais impossível, mais intenso”, diz ele. Mas, mesmo com o passar do tempo, o sentimento permaneceu. Reencontraram-se novamente depois de alguns meses e tudo estava lá, intacto.

Como escritor, ele diz que sua produção literária aumentou bastante, além de sua temática ter mudado completamente. O escritor Fernando Jorge, em seu livro “Vida e Poesia de Olavo Bilac”, diz que “o amor sempre foi o leitmotiv das mais altas poesias”.

O que comprova ainda mais a tese dos amores que não podem ser à profusão literária é o depoimento do jovem Valter Emmanuel Garcia, morador de Mesquita, 18 anos, que escreveu “Príncipe Caboclinho e Princesa Ventania”, inspirado em seu amor impossível.

Princesa Ventania é sua ex-namorada, que teve de viajar pra São Paulo, deixando aqui um coração um tanto fragmentado. “A princesa, então, subiu no cavalo do príncipe que a levou até o pajé. Durante o percurso, não trocaram nenhuma palavra, porém constantemente procuravam pelo olhar um do outro”, escreveu o autor.

A dor trouxe as palavras e deu ao papel a personalidade forte da personagem representada pelos ventos . “Bom, sempre tive ligação com as artes, mas precisei sofrer um pouquinho pra conseguir escrever, esse foi o caso deste livro”, confessa Valter Emmanuel Garcia.

Enquanto houver amor, haverá grandes escritores a nos falar de mares, e vidas, e dores, que serão sempre muito distantes da realidade de quem tem ao seu lado a outra metade. “Se eu falar que não a amo estarei mentindo, mas eu posso falar pra você que hoje eu consigo lembrar dela sem chorar.”

“Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo”
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para minha vida,
Só para o meu amor!”

(Beijo Eterno – Olavo Bilac)

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