por Lucas Lima
Poucos sabem, mas Nova Iguaçu possui um grande ícone da literatura carioca. Nascido no município há 55 anos, passou um período de sua infância e adolescência no Rio de Janeiro, depois voltou e até hoje nunca mais saiu daqui. Esse é Moduan Matos, o poeta da nossa cidade.
Moduan define sua iniciativa na escrita com apenas uma palavra: a leitura. “Quando pequeno, gostava muito de ler revistas em quadrinhos, depois comecei a ler alguns livros mais famosos no meio literário”, diz. “Como todo adolescente, passei por uma época em que me apaixonei e passei a gostar mais do lado da poesia, o que me fez começar a escrever algumas também”.
O poeta diz que nunca conseguiu ser parte isolada do movimento cultural de Nova Iguaçu. “Trabalhar sozinho não funciona, por isso é importante se unir, participar de movimentos culturais diversos”. Essa visão de mundo se reflete diretamente no seu trabalho. “A poesia não caminha apenas dentro da literatura, caminha no campo das artes plásticas, da música, no teatro”.
Panfletários
Sua militância política amadureceu durante a ditadura militar, um dos momentos mais difíceis e mais conturbados do nosso país. “Essas coisas me influenciaram e me deixaram em um outro lado da história”, conta ele, que viveu tanto o momento do golpe em militar, em 1964, quanto a decretação do AI-5, em 1968. Esse período causou mudanças nos poemas de Moduan. “Os poemas passaram a ser mais fortes, meio que panfletários, um pouco políticos”.
Como no restante e nas demais atividades, surgiu um clima de frente ampla no cenário cultural na cidade. “Juntamos todos os movimentos porque vimos que tínhamos necessidade de fazer alguma coisa parecida com o que acontecia no Rio de Janeiro, em São Paulo, Curitiba e Porto alegre, por exemplo”.
No ano de 1977, ele participou de um grupo chamado “Grupo Calabouço”, que tentou fazer uma mistura entre militância cultural e descoberta do Brasil. “Nós colocamos no mesmo saco o samba e o choro, movimentos populares e teatro do oprimido”,lembra o poeta. Esse grupo teve grande capilaridade na cidade, atraindo militantes do então poderoso movimento das associações de moradores e o apoio de instituições poderosas como o SESC, quando o mesmo ainda era no centro da cidade. “Criamos uma revista de poesias Amplitude, que infelizmente teve apenas quatro edições”.
Portas de lojas
Nesse período, Moduan começou a sentir necessidade de tirar os poemas da gaveta. “Geralmente eu escrevia, dava para alguns amigos lerem e eles ficavam engavetados, ou seja, não tinha grande repercussão”, lembra o poeta, que por essa razão procurou as portas de lojas ou tapumes de obras mais vistosas da cidade para dar publicidade a sua obra. “Com essa experiência, percebi que, se colocasse textos longos, as pessoas não parariam para ler”. Já diante dos textos mais curtos e sucintos, os transeuntes não passavam direto, parando, lendo e interpretando seus poemas.
Durante essa fase de sua vida, que se estendeu de 1978 a 1980, o grupo Calabouço trocou de nome, passando a se chamar Caco de vidro. “As portas tinham aquela rachaduras e eram bem foscos, o que facilitava a escrita do giz. Fazíamos uma gização, não era pichação”. A experiência das ruas, a partir da qual deixou de ser Edgar Matos e adotou seu nome artístico, despertou nele o desejo de publicar um livro de verdade. Era um livro experimental, cujas páginas eram grampeadas, mas eles existem até hoje. “Era um livro de poemas concretos, que lancei junto com Dejair Esteves, em 1980”.
A primeira metade da década de 1980 foi altamente produtiva com a publicação de mais três livros até 1983. Mas a partir de então mergulhou em questões pessoais até 1991, quando criou o Projeto Cobaia com a poeta Lílian Tabosa. “Era uma espécie de sobrevivência poética, já que não havia editoras que dessem força pra esse tipo de coisa acontecer”, conta Moduan , explicando a série de livretos de bolsos, com poemas curtos, produzidos naquele período. Foram poucos os poetas desse grupo que conseguiram ter suas obras lançadas individualmente.
Reconhecimento
O reconhecimento do seu trabalho começou a aparecer em 2002, quando a Câmara Municipal de Nova lhe deu a Medalha Comendador Soares, por serviços prestados à comunidade. “Recebi essa medalha porque me preocupei em regionalizar o que escrevo”, conta. Prova disso é “Um olhar pelas janelas da Baixada”, livro em que o escritor relata elos perdidos da Baixada. “Esse livro fala um pouco das pessoas que fizeram cultura aqui, como um Antônio Fraga, um João do Vale e um Procópio Ferreira”. Outro prêmio importante foi Destaques da Baixada Fluminense, feito por indicação. “Quando eu mandei meu livro e me inscrevi, a escolha foi unânime na categoria literatura”.
O poeta e escritor está à frente de alguns projetos da SEMCTUR, como o de incentivo à leitura nas escolas municipais, e o Livro Livre, que pretende distribuir mais de 500 livros ainda esta ano. “Esse projeto exige algumas etapas. A primeira é fazer com que as pessoas libertem os livros que não são mais usados de casa, depois catalogar e distribuí-los”. Além disso, Moduan continua escrevendo crônicas sobre a Baixada Fluminense.
Escolha unânime
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Marcadores: Baixada, Lucas Lima
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