por Josy Antunes
Um monumental ônibus azul está estacionado à frente da Prefeitura de Nova Iguaçu. O relógio marca 6:10. É uma sexta-feira e eu corro para compensar o atraso de dez minutos. Chego na porta do ônibus e olho, sem muita certeza. Duas moças, muito jovens, me dizem: “É aqui mesmo, Josy!”
Subo os degraus do veículo, sabendo que embarcava na subida de mais um patamar alcançado pelo grupo de jovens pesquisadores da SEMCTUR. O interior do ônibus é repleto de membros do grupo, uns imersos em livros, outros ainda brigando contra o sono e os mais animados estão ao fundo, numa mistura de ansiedade e alegria, exposta através de músicas. Também encontro Larissa Leotério. Somávamos dois pontinhos da Escola Agência de Comunicação em meio à Pesquisa, alíipelo mesmo motivo: registrar e prestigiar a participação da cidade no “I Encontro Juvenil – As artes e as ciências para uma vida sustentável”, realizado pela Casa das Artes Educar. O Museu das Artes da Terra, localizado na Urca, dava sua contribuição sediando o evento.
A Escola de Pesquisa, que é coordenada por Marcella Camargo, havia se inscrito no projeto da Casa das Artes com o tema “Lixo”, que estava contido em “Meio ambiente”, que norteava todas as inscrições, de grupos semelhantes vindos de toda a região Sudeste. “Fomos para o calçadão, naquele sol”, lembra Adriele de Oliveira, sobre a aplicação do questionário, há duas semanas. “No começo ninguém parava pra gente”, confessa. “Não! Eu não quero fazer cartão”, era o que diziam. “Não é pra cartão. Estamos falando sobre meio ambiente”, respondiam os pesquisadores. E então os transeuntes passaram a parar por conta própria para responder às questões. Ao todo, foram aplicados 189 questionários, em apenas 5 dias. Com os dados coletados, 3 dias foram usados para apuração e produção dos slides de apresentação.
Ansiedade
Sete foram os grupos selecionados para exibirem seus projetos no Museu das Ciências da Terra, passando pela avaliação de uma banca. Até aqui, já teríamos um excelente motivo para a ansiedade de Bruno Marinho, que caminhava nervoso pelo corredor do ônibus. O rapaz, que havia sido nomeado o responsável pelos amigos, durante a viagem, era um dos 4 jovens que estavam com uma tarefa especialmente tensa.
Após serem selecionados, os jovens pesquisadores foram convidados para fazer uma pesquisa no momento do evento, cujo título era “A influência do clima no cotidiano dos jovens”. Ela seria realizada através de uma ferramenta da Google, chamada Google Docs. Pedro Henrique Borges e Caroline Careli tinham total domínio da tecnologia, e, acompanhados de dois componentes da equipe, ministrariam oficinas de pesquisa a alunos da rede municipal do Rio de Janeiro. Careli criou até um tutorial explicando o uso, a ser distribuído junto de uma outra folha que mostrava, em linguagem de fácil assimilação, o processo de criação e desenvolvimento de uma pesquisa. Ao final do tutorial, a autora assinara “Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu”, incluindo telefone e e-mail para contato. Certamente, ao final do dia, o nome já estaria difundido em diversos pontos do Rio.
Bruno Marinho comemorou quando os últimos integrantes da equipe adentraram no ônibus. Após longa viagem, salpicada de congestionamentos, chegamos ao MCT. Marcella Camargo aguardava o grupo no hall de entrada e saldou a todos calorosamente, demonstrando um imenso orgulho pela chegada do grupo que coordena. Sueli Lima, uma das coordenadoras da Casa da Arte, logo deu as instruções do momento – 2 reuniões anteriores já haviam acontecido. Em instantes, todos já tinham um dos pulsos envoltos por uma pulseira colorida, que diferenciava as quatro oficinas.
Havia quatro laptops. À frente de cada um deles, dois jovens pesquisadores. Ao redor da dupla, um grupo de crianças trajando o uniforme escolar da Prefeitura do Rio. “Nós podemos fazer essa troca de informações entre capital e Baixada. Nós somos capazes”, diz Pedro Henrique Borges, que encantava os alunos ao explicar as possibilidades que a tecnologia fornecia, na construção de uma pesquisa. O momento tornava-se mágico ao ser enxergado por esse ponto de vista: era Nova Iguaçu levando conhecimento ao Rio de Janeiro.
Boa sorte
Com o término das aulas, os monitores passavam a aplicar o questionário sobre o clima, que continha 17 questões. Os resultados contribuiriam para a elaboração de uma carta, no dia seguinte, que será enviada à Conferência Mundial sobre o Clima, em Copenhague. Para tanto, os dados deveriam estar apurados em menos de 24 horas. “Eu vou pra casa, mas eles que estão fazendo a pesquisa, vão ficar acordados até amanhã. Tudo que a gente fez em três dias, eles vão fazer em 12 horas”, conta a amiga Adriele de Oliveira, 17 anos. “Eu só desejo boa sorte a eles”, completa, um tanto aliviada por não estar no lugar deles. A menina havia pernoitado, ansiosa, ensaiando as falas da peça que apresentaria à tarde, com mais seis jovens pesquisadores. Esse foi o – criativo – método que escolheram para mostrar o resultado dos cinco dias no calçadão de Nova Iguaçu. “A gente escolheu esse método porque se fôssemos parar pra mostrar slides e gráficos, principalmente pra idade que está ai hoje, eles não iam entender nada, nem iam dar atenção”, justifica Adriele, dizendo que a coordenadora Marcella surpreendeu-se com a escolha do grupo. “A ideia surgiu há uma semana. Estamos ensaiando há um dia e meio”, diz a jovem, reclamando de frio na barriga, causado pelo nervosismo.
A parte da manhã terminou ao meio-dia, com 26 questionários respondidos e uma reunião com as coordenadoras da Casa da Arte, que contaram sobre a satisfação com que foram embora os professores das crianças. “Foi um momento lindo. O museu está lindo”, exclamou Sueli Lima, ao finalizar a pequena reunião.
No horário do almoço, tivemos o trabalho de apenas atravessar a rua, para chegar à Escola Britânica, parceira do Núcleo ICA, também coordenado por Marcella Camargo. Ao chegar, fomos credenciados como visitantes e nos misturamos na fila de alunos do local. Unanimemente, sentimo-nos inseridos num seriado americano. Adriele Oliveira, no grupo há oito meses, não estava tão tranquila quanto outros jovens pesquisadores, que já conheciam a escola. “Me senti estranha. Não pelo lugar, mas pelas pessoas mesmo”, comenta ela, alegando que, caso a situação fosse inversa, nós teríamos acolhido-os, enturmando-os. “Acho que eles pensam que somos um bicho de sete cabeças”, diz. O assunto foi discutido entre as bandejas de comida e rendeu conversas com professores da escola – que poderão ser conferidas em um dos textos da Larissa.
Ao terminar a refeição, o grupo regressou rapidamente ao Museu, onde tinham uma sala destinada a seus ensaios. Do lado de fora, era possível ouvir as interpretações, que passavam pela aprovação de Camila Oliveira. Tudo acontecia simultaneamente, dentro das grandes e múltiplas imediações do espaço: ensaio, oficinas, pesquisa e troca de saberes.
Ganhamos
Mais tarde, com todas as cadeiras do salão nobre do MCT preenchidas, Bruno Marinho e Ana Paula – professora de um dos cursos oferecidos na Casa da Arte – deram abertura à programação, que continha a apresentação dos sete grupos. Elas trouxeram música, filme, dança e teatro. Nova Iguaçu recebeu a introdução de Leonardo Venâncio, que falou sobre a Escola de Pesquisa e sobre o projeto. “O ato de jogar o lixo na rua prejudica o meio ambiente”, incluiu ele em sua fala.
A peça trouxe um “cenário” que buscava trazer um “recorte” do calçadão para a história: um banner que retratava algumas lojas, através do graffiti. Duas amigas se encontram e, no meio da euforia, lançam um copo descartável no chão. A questão vai parar até no tribunal para julgamento, passando, de forma lúdica, importantes informações, que prenderam a atenção das dezenas de alunos presentes. A juíza declarou culpada a ré e todos aqueles que cometem a mesma atitude. Foi também exibida uma apresentação de slides, com imagens e dados obtidos durante a pesquisa.
O dia terminou se na escadaria frontal do museu. Marcella ao meio, cercada pelo grupo de pesquisadores. Na mão da coordenadora um celular, no “viva-voz”, fazia a conexão com Marcus Vinícius Faustini, Secretário Municipal de Cultura e Turismo. Num grito uníssono foi ouvida a palavra: “Ganhamos”.
A Escola de Pesquisa levou pra casa – especificamente Venâncio, pois o grupo vai manter rotativa a guarda do prêmio – uma câmera fotográfica digital, como mérito pelo projeto, que também será apresentado em Copenhague. Caroline Careli, Vanessa Cunha, Bruno Marinho, Pedro Henrique Borges, Camila Oliveira e Eline Vieira continuaram no museu, onde deveriam apurar as respostas obtidas nos 92 questionários preenchidos ao longo do dia – sem contar com aqueles feitos à mão, que ainda seriam digitados.
Hoje, 28 de novembro, a carta sobre o meio ambiente será elaborada. Ela será enviada às escolas e publicada no blog http://www.artedeeducar.org.br/blog/.
Pesquisa 24 horas
sábado, 28 de novembro de 2009
Marcadores: Bairro-Escola, Baixada, Josy Antunes
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5 Comentários:
Ualll... Sem palavras...
Acabo de chegar desses dois dias corridissímos, Cansada por ter passado a noite no museu analisando dados e ler mais uma materia sobre nós da Escola de Pesquisa de N.I. mais uma vez pela josy antunes que nos acompanhou e que sempre consegue transmitir em palavras dando-nos prestigio..Ahh...Não tem preço!! Obrigada mais uma vez e Parabéns pela manteria!
Obs.: uma das 2 meninas que gritou "josy é aqui" Foi eu! Rss..
Josy, meus parabéns, sua matéria esta otima , adorei!
Olha eu e a Ellen também passamos a noite no museu, ajudando eles nas analises! Foi cansativo!! Mais foi divertido, passar a noite com meus melhores amigos trabalhando. Foi uma experiência que eu vou lembrar por resto da minha vida!
Josyyy, Muito obrigada por mais essa matéria maravilhosa.É muito gratificante, depois de dois dias tensos de trabalho..A galera a noite toda trabalhando, eu editando as fotos, um corre corre danado, a gente abrir o blog e ver essa linda matéria, esse lindo video e suas belas belas palavras sobre nós...
Obrigada em nome de todos...
Realmente, não tem preço...
Amei..
Não sei o que dizer,seu trabalho
é perfeito.To me sentindo uma pop star..Rs*
só voce sabe tudo o que passamos,vlw por
estar sempre presente em nossos momentos ao todo.
Sem palavras.. só posso dizer que foi tudo isso e muito mais, talvez a experiência mais cansativa da minha vida, mas com certeza a mais gratificante. Se tivesse de repetir faria tudo de novo, com o mesmo entusiasmo e a mesma vontade de dar sempre o meu melhor!Nem em mil páginas seria possível expressar a sensação de vivenciar intensamente ( principalmente a madrugada) essa jornada incrível que acima de tudo nos fortaleceu enquanto grupo. Agradeço a Josy pelo carinho com que sempre tem tratado as matérias que faz sobre nosso trabalho! Sucesso sempre!
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