por Wanderson Duque
Blogs são diferentes de um website tradicional. Eles não têm a pretensão de um site, geralmente criado para algum fim específico, seja para divulgação, transação comercial, institucional etc.
Não se sabe exatamente quando os blogs deixaram de ser considerados “mais uma futilidade dos tempos modernos” para se tornar uma eficiente ferramenta de informação. Não há registro da data exata de quando esses diários pessoais surgiram, mas especula-se que o primeiro endereço na Internet com conteúdo similar aos webblogs que conhecemos hoje apareceu em 1983.
Entre os anos de 1994 a 2001, os blogs eram basicamente páginas pessoais, sem nenhum compromisso de conteúdo. Eles estavam restritos basicamente aos internautas interessados em usar aqueles espaços para falar de suas vidas. Mas, com a expansão de acesso à banda larga em todas as partes do mundo, os blogs tornaram-se mais um meio de notícia e espaço para a discussão de todo ou qualquer tema.
Hoje há blogs para “uma infinidades de temas e para todos os gostos”, como diz Fernanda Lôbo, que escreve no blog “http://www.diasdelua.blogspot.com/”. A ferramenta é simples. Basta que o usuário devidamente cadastrado abra a ferramenta de texto disponibilizada pelo seu servidor - dentre os tantos que se é oferecido atualmente - e digite o texto na caixa de diálogo. “Além das palavras”, diz Fernanda , “ há uma interação com outras formas de mídia”.
Para a blogueira, que posta com razoável periodicidade desde 2006, a principal vantagem desse tipo de publicação está nos seus recursos multimídia. “A principal vantagem é a possibilidade de o blog não contar com um formato quadrado, em que a notícia tem de sair sob um determinado padrão, tanto visual quanto escrito. Você pode mudar o formato do conteúdo”, afirma Fernanda Lobo, que alterna posts que privilegiam a imagem com outros, que dão preferência ao texto ou focam o vídeo.
Atenção e interesse. São as palavras-chave que designam a finalidade por trás de qualquer “post” nos “web diários”. “O primeiro parágrafo é a essência de todo o texto”, diz Rafael Scoralick, assíduo leitor de blogs. “Se o blogeiro não me arrebata logo nas primeiras linhas , será quase impossível que eu me interesse pelo resto do conteúdo. Aliás, isso é o que se torna mais escasso a cada dia em qualquer tipo de mídia, o conteúdo”.
O crescimento desse tipo de expressão tem sido percebido também pela intelectualidade de regiões onde o número de navegantes pela “blogosfera” é elevado. Uma das perguntas mais frequentes é se o que é produzido pelos autodenominados escritores é realmente literatura ou não. “Nem tudo pode ser considerado como tal”, afirma Fabíola Frenessí, 29, professora de literatura da rede estadual de ensino público. “Afinal, os tipos de textos variam de acordo com o acesso do escritor à internet, faixa etária e tipo de blog. Acho que a definição do ‘ser literatura’ deve ser a mesma que aplicamos à textualidade física, ou seja, os livros. Um produção diária porém com erros gritantes de ortografia e conteúdo confuso deve ser devidamente avaliada”.
No mercado editorial nacional, é possível encontrar o título “Blog – entenda a revolução que vai mudar o seu mundo”, de Hugh Hewitt, que considera a blogosfera, ou conjunto de todos os blogs do mundo, um fenônemo repentino que está alterando os hábitos das pessoas no acesso à informação. Teses acadêmicas que exploram o assunto são inúmeras, principalmente na área de comunicação social e linguagem.
Depois que os blogs firmaram-se como mais uma fonte de informação, eles tornaram-se trabalho constante para muitos profissionais que antes sequer tinham intimidade com a web. Em evento sobre tendências da mídia na Internet em junho de 2007, Ricardo Noblat disse que sequer conhecia o que era um blog. Jornalista experiente com trânsito entre políticos de Brasília, Noblat falou que só iniciou um blog porque fizeram um para ele. Na época, ele não tinha a menor ideia de como atualizar a página com novos textos. Hoje, o blog do jornalista é o mais acessado no País, segundo pesquisa do Technorati.
Porém, fazer jornalismo em blogs não significa dizer o que bem entende, sem responsabilidade alguma. A maioria dos portais de notícias do mundo mantém uma seção de blogs, preenchida com os nomes mais importantes de sua redação. A diferença do trabalho exercido nesses casos é a liberdade no trato do assunto, da linguagem empregada, dos recursos audiovisuais e do espaço de postagem praticamente ilimitado.
O estudante de jornalismo André Henrique de Paula, da UEP, enxerga o jornalismo blogueiro como um item primordial na informação, mas não o único. “A velocidade é primordial. Os blogs que possuem uma atualização diária, quando não por hora, são os mais acessados. Por outro lado, deve-se ter uma atenção redobrada quando a informação provém da internet. Não se trata de profissionalismo, quem tem diploma ou não, mas você pode garantir as fontes desse jornalista? Onde ele se atualiza com tamanha rapidez a cerca daquele assunto?”, questiona.
Em 2006, autoridades do Sudão expulsaram três membros da ONU (Organização das Nações Unidas) que estavam em missão oficial ao país porque um deles usou seu blog para fazer críticas ao governo local e grupos rebeldes. Jan Pronk era o principal comandante da missão e recebeu um prazo de três dia para deixar o país. Já no Ocidente rico e desenvolvido, Simon Johnson, um dos principais economistas do FMI (Fundo Monetário Internacional), acaba de lançar um blog em que pretende escrever sobre economia global, principalmente para pessoas que “não estão presentes em coletivas de imprensa”.
O estudante do ensino médio Fábio Nascimento se revolta quando fica sabendo de punições aos habitantes da blogosfera, mesmo quando esses produtores de conteúdo fazem críticas às instituições para as quais trabalham. “O blog é pessoal”, afirma o estudante. “Não está amarrado a nenhuma ideologia, a não ser a do próprio escritor - nem a nenhuma filosofia limitada. O blog é seu, você escreve sobre o que quiser. O lema blogueiro é esse e sempre o será.”
Esses diários pessoais também são responsáveis por uma experiência “escritor - leitor” que não é possível em outros tipos de publicação. O post está lá, você lê e opina. São poucos os casos em que a infantilidade e a incompreensão do autor não permitem uma interação maior - eu mesmo já fui boicotado no blog de um jornalista famoso, que deletou meu comentário duas vezes.
O blogueiro Douglas Pinto acha importantíssimo saber o que o leitor acha de você e do que você escreve. “Antes era necessário se organizar uma pesquisa e era trabalhoso - afinal pesquisas sempre o são”, afirma ele, que em dois anos na blogosfera já criou e deletou vários blogs. “Com os blogs, tudo é mais rápido e eficaz. Você escreve e em dois minutos um mamífero, racional ou não, já comentou no seu blog. A reação é imediata."
Reações imediatas
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Marcadores: Mainstream, Wanderson Duke
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