por Nany Rabello
Um livro fascinante. Não há melhor palavra para descrever "Toda terça", primeiro romance da escritora Carola Saavedra. Apresentada por Sérgio Sant’Anna na orelha de seu livro, que a descobriu quando foi jurado do concurso Contos do Rio de 2005, Carola nasceu em Santiago, no Chile, mas com 3 anos de idade veio para o Brasil, onde foi criada. Seu livro "Toda Terça" foi lançado em 2007 pela editora Companhia das Letras, que em 2009 lançaria "Flores azuis". Carola Saavedra estreoou no mercado editorial com o livro de contos "Do lado de fora", publicado pela Sete Letras.
O livro é como um diário mental de três diferentes personagens, que em algum momento da história se cruzam de uma maneira tremendamente delicada. Ler ‘Toda Terça’ é se aprofundar na mente dos três personagens principais e entender por meio não só das palavras mas pelo modo com que ela são escritas o subjetivo, a linha de raciocínio e a personalidade de cada um deles, além de suas visões de vida.
A história é contada por três personagens e em duas partes. Na primeira parte do livro, temos Laura, uma mulher hilária, racional e levemente patética, que mora no Rio de Janeiro e frequenta um analista, pago pelo homem de quem é amante, todas as terças. Laura vive em seu próprio mundo e passa mais tempo da análise criando um modo de desafiar seu analista do que resolvendo seus problemas.
Além de Laura, há o segundo narrador, Javier, latino-americano, culto, cínico, morador de Frankfurt. Javier encontra uma mulher de quem se torna o namorado e vai morar com ela. Essa mulher vive em um apartamento que divide com outras quatro pessoas, fora os visitantes, e é a convivência dele com esse mundo tão turbulento e confuso que é retratada.
Javier é o personagem de mais destaque do livro. Ele vive sua vida pacata em uma inércia que quase desespera quem lê para sacudi-lo e fazê-lo mudar, em completa contradição com seus pensamentos sempre corridos, confusos, de muitas vírgulas e nenhum ponto final. Javier só se encontra praticamente sozinho naquele mundo turbulento durante as terças. E é nesse momento da semana que divide sua vida confusa com outra pessoa moradora do apartamento. É aí que a verdadeira história acontece.
A segunda parte do livro não contém mais o pensamento desses tão confusos e apaixonantes personagens, mas não os tira da mente do leitor. É nessa parte que a terceira narradora aparece. Uma mulher calma, que tem saudades, que acabou de chegar de Frankfurt ao Rio de Janeiro, e tenta se reencontrar.
Uma trama delicadíssima, em que todos os detalhes nos levam a crer ou descrer em algo, onde nos sentimos um analista, um amigo, uma namorada, onde nos sentimos parte da história e dos personagens. Um livro surpreendente, de uma escritora fascinante, onde mais do que um mero dia da semana, as terças-feiras são uma nova história, que nunca para de ser escrita.
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