Uma história que nunca para de ser escrita

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

por Nany Rabello





Um livro fascinante. Não há melhor palavra para descrever "Toda terça", primeiro romance da escritora Carola Saavedra. Apresentada por Sérgio Sant’Anna na orelha de seu livro, que a descobriu quando foi jurado do concurso Contos do Rio de 2005, Carola nasceu em Santiago, no Chile, mas com 3 anos de idade veio para o Brasil, onde foi criada. Seu livro "Toda Terça" foi lançado em 2007 pela editora Companhia das Letras, que em 2009 lançaria "Flores azuis". Carola Saavedra estreoou no mercado editorial com o livro de contos "Do lado de fora", publicado pela Sete Letras.

O livro é como um diário mental de três diferentes personagens, que em algum momento da história se cruzam de uma maneira tremendamente delicada. Ler ‘Toda Terça’ é se aprofundar na mente dos três personagens principais e entender por meio não só das palavras mas pelo modo com que ela são escritas o subjetivo, a linha de raciocínio e a personalidade de cada um deles, além de suas visões de vida.

A história é contada por três personagens e em duas partes. Na primeira parte do livro, temos Laura, uma mulher hilária, racional e levemente patética, que mora no Rio de Janeiro e frequenta um analista, pago pelo homem de quem é amante, todas as terças. Laura vive em seu próprio mundo e passa mais tempo da análise criando um modo de desafiar seu analista do que resolvendo seus problemas.

Além de Laura, há o segundo narrador, Javier, latino-americano, culto, cínico, morador de Frankfurt. Javier encontra uma mulher de quem se torna o namorado e vai morar com ela. Essa mulher vive em um apartamento que divide com outras quatro pessoas, fora os visitantes, e é a convivência dele com esse mundo tão turbulento e confuso que é retratada.

Javier é o personagem de mais destaque do livro. Ele vive sua vida pacata em uma inércia que quase desespera quem lê para sacudi-lo e fazê-lo mudar, em completa contradição com seus pensamentos sempre corridos, confusos, de muitas vírgulas e nenhum ponto final. Javier só se encontra praticamente sozinho naquele mundo turbulento durante as terças. E é nesse momento da semana que divide sua vida confusa com outra pessoa moradora do apartamento. É aí que a verdadeira história acontece.

A segunda parte do livro não contém mais o pensamento desses tão confusos e apaixonantes personagens, mas não os tira da mente do leitor. É nessa parte que a terceira narradora aparece. Uma mulher calma, que tem saudades, que acabou de chegar de Frankfurt ao Rio de Janeiro, e tenta se reencontrar.

Uma trama delicadíssima, em que todos os detalhes nos levam a crer ou descrer em algo, onde nos sentimos um analista, um amigo, uma namorada, onde nos sentimos parte da história e dos personagens. Um livro surpreendente, de uma escritora fascinante, onde mais do que um mero dia da semana, as terças-feiras são uma nova história, que nunca para de ser escrita.

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