por Josy Antunes
Sob constante chuva, a rua 1º de Março estava enfeitada por coloridos guarda-chuvas. O Centro Cultural Banco do Brasil recebia, na noite de 9 de dezembro de 2009, uma quinta-feira, o lançamento do livro "Guia Afetivo da Periferia", de Marcus Vinícius Faustini. O evento realizado no CCBB trazia trechos vivos da história contada nas novas páginas que chegavam às prateleiras: carrinhos de tapioca e pipoca, sacolés - com destaque para o sabor chocolate - servidos inusitadamente sobre as bandejas dos garçons e um enorme baleiro ao lado do autor da noite, contendo toda espécie de iguarias que adoçam o paladar dos que convivem nas periferias do Rio de Janeiro.
Com gravador e câmera em mãos, busquei o perfil do público que ali se concentrava, provenientes de todas as partes do estado e de diversos momentos da vida de Faustini. Com uma única pergunta, interpretada de 17 formas, foi possível traçar as ligações que permeavam a noite:
"Eu conhecia o Marcus Faustini de nome, porque eu também fiz cinema uma época e sou cinéfilo. Conheci indo trabalhar na secretaria, em agosto do ano passado. Achei os projetos e ideias do Faustini muito inovadores e ele é um trabalhador compulsivo. Se ele quer realizar, supera as dificuldades todas que existem. O período que eu fiquei lá foi gratificante, e eu falei isso a ele há pouco, porque eu só conhecia Nova Iguaçu pelo lado “dark”, pelos jornais que eu trabalhei, que eram em função de problemas, de criminalidade, tanto pelo “O Globo”, quanto pelo “O Dia”. Passei a conhecer um outro lado da cidade, porque o conhecimento que eu tinha era superficial, não tinha visto o lado humano, conforme eu vi em Jardim Laranjeiras, nas sessões de cinema que ele organizou... Foi uma experiência interessante pra mim".
"Eu conheci o Faustini no Festival do Rio 2000, no qual eu participei de uma oficina de teatro com ele na UVA. Desde então nós trocamos ideia, perdemos contato, e de três anos pra cá eu venho acompanhando o trabalho dele, na Escola Livre de Teatro, na Escola Livre de Cinema. Pra mim é uma grande referência pra quem trabalha com periferia no Rio de Janeiro. E uma grande referência minha, que estou começando agora".
"Eu fui convidada pra participar de um projeto chamado "Jovem Repórter", que estava fazendo uma cobertura de um outro projeto chamado “Minha rua tem história”. Entrei e gostei. Foi um trabalho legal de reconhecimento das raízes do lugar em que nós moramos. Depois fui pro grupo de pesquisa, onde estou até hoje. O Faustini é o secretário de Cultura e eu o conheci através desse trabalho, em reuniões e apresentações".
"Eu engrossei o couro pra ajudar na revolução de Nova Iguaçu, na transformação social, que é uma coisa que eu acredito e com a qual sou muito comprometida. E ele me convidou, me deu um espaço para tal e eu estou nesse barco".
"Eu sou fã, admirador, amigo e aprendiz dele. E tenho a honra de ter sido também prefaciador do livro. Então eu tenho uma pequeníssima parte nesse “latifúndio”. O livro, de fato, é primoroso, porque é mais do que simplesmente um relato ou uma narrativa a respeito de vivências e experiências: é uma espécie de reflexão em ato, é um depoimento que carrega consigo também uma reflexão muito sensível a respeito da nossa forma de estar no mundo, aqui no Rio de Janeiro, deslocando completamente as referências tradicionais de centro e periferia, remontando esse mapa, redefinindo as cartografias e incindindo a sensibilidade e afetividade nas nossas marcas, que são muito sociológicas, espanando os preconceitos, exorcizando os estigmas. É uma viagem muito bonita".
"Faustini é uma figura que eu admiro muito. No início, eu achava ele muito chatinho, mas ao mesmo tempo que eu achava ele chatinho, eu tinha uma admiração muito grande quando ele falava dessa forma da periferia se mostrar e como ela podia fazer as coisas que ela achasse que estava ali representada. Outra coisa que gosto muito são as ideias de experimentação. E aí ele me traz dois tipos de sentimento: ao mesmo tempo que eu gosto, me dá uma agonia, porque ele é meio uma “metamorfose ambulante”. Mas eu aprendi que talvez a dinâmica que ele tem, ou seja, o que lhe é peculiar, é ser exatamente assim. E aí eu acho que eu tenho que – não só com relação ao Faustini, com qualquer pessoa – descobrir o que é peculiar. O peculiar da pessoa é bonito. E o que é peculiar a ele, me encanta. Me acostumei a conviver com essas performances que ele faz, muitas vezes de instigar, de impactar. Ele adora impactar. Eu gosto muito de Faustini, embora ás vezes ache que ele enche o saco. E eu acho que ele tem uma grande virtude: apesar de qualquer horror que eu fale dele, ele não vai ficar com raiva de mim. Faustini é um homem que não guarda rancor, pelo menos até onde a minha vista alcança".
"Eu defendo a amizade pelos defeitos. Os amigos se juntam porque identificam em si os mesmo defeitos: isso acaba aproximando e a amizade acaba acontecendo. Eu acho que a gente é meio parecido, é uma leitura que eu tenho. A gente briga muito às vezes, bate muito de frente, discute. Mas existe o sentimento de admiração, pela obra que ele faz. Por isso que eu estou aqui, por isso que a gente acabou se encontrando na estrada".
"A minha relação com o Faustini se resume a trabalho, mas o projeto já cresceu muito pela ótica dele. Os jovens que estão desde o início e os que entraram agora já aprenderam muito com ele. E as pessoas que pararem pra tentar vão aprender muito com ele. Lidar com o Faustini não é muito fácil, mas ele é uma pessoa com um grau de experiência muito bom".
"Faustini ás vezes olha o mundo com os meus olhos. Ou talvez eu olhe o mundo com os olhos de Faustini".
"Trabalho com o Faustini há mais de dois anos. Trabalhei um ano com ele lá na Escola Livre de Cinema, e aí quando ele assumiu a Secretaria de Cultura me levou junto com ele e estou lá até hoje".
"Nada acontece de forma isolada. Mas, desde que eu comecei a trabalhar com o Faustini, eu tive que rever todos os meus pontos de vista. Eu, de alguma forma, fui obrigado a me re-escrever. Eu não posso dizer que ele é o único responsável por isso. Agora, tenho certeza de que ele tem uma grande responsabilidade nesse processo, que gerou inúmeras e radicais mudanças".
"Eu o conheci quando participávamos de um programa de televisão do Canal Futura. Eu já tinha ouvido falar nele, como alguém que trabalhava, na época, no Observatório de Favelas, quando ele coordenava a parte de vídeo. Ele tinha acabado de empreender um festival de vídeos: Olhares da Periferia. O programa era sobre isso, sobre essa ideia de periferia, e eu que não conhecia fiquei muito impressionada. Primeiro com o empenho dele e a atitude meio de dentro e meio de fora que ele tinha em relação a esses projetos. No bom sentido as duas coisas: “de dentro”, por ser alguém que pertencia a esse mundo, mas “de fora” no sentido de tentar ter um olhar diferenciado. Eu achei isso muito interessante.
"A minha relação com o Faustini, atualmente, está no âmbito do desenvolvimento da ação de fortalecimento dos Pontinhos de Cultura. Ele me convidou para participar dessa ação em Nova Iguaçu. A minha relação pessoal com ele transcende a isso: é de admiração, de respeito pela trajetória dele, as conquistas que ele teve. E alguém que eu conheci ainda jovem. Muita gente que está hoje “na cena”, me conheceu no passado e o Faustini é um desses, quando ele era de um grupo de teatro da Zona Oeste. Eu tenho uma relação de afeto e respeito com ele".
"Eu trabalhei com ele em Nova Iguaçu. Faustini é uma pessoa especial, inteligentíssimo, tem um conhecimento empírico sobre cultura impressionante. Foi uma boa experiência trabalhar com ele e é uma boa experiência conviver com ele até hoje".



0 Comentários:
Postar um comentário