Elo entre gerações

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

por Lívia Pereira


A música é uma linguagem e, como tal, é transmitida de geração em geração. Segundo o livro “Viver bem com música”, uma publicação da Editora Melhoramentos, já na barriga, o feto tem a primeira noção de ritmo: o pulsar do coração da mãe. Ao longo da vida, as cantigas de ninar entoadas pelos pais vão marcando nossos passos. E há sempre aquela música que nos faz lembrar de quem gostamos ou de uma determinada época.

Há quem traga em sua história as influências diretas da família em ritmo, melodia e harmonia, mas há aqueles que sentem falta de tal ligação, fundamental para reforçar laços. Esse é o caso do professor de bateria Leandro Pires, um morador de Nilópolis de 29 anos. “Infelizmente, não há músicos na minha família ”, lamenta-se ele, que se iniciou no universo da música depois que sua avó o levou para a igreja que frequentava, quando ele tinha 13 anos. Fixou-se então sua primeira raiz musical: a música gospel.



José Paulo Nunes, morador de Nova Iguaçu, 54 anos, reviveu canções que seu pai ouvia através da minissérie Maysa – Quando fala o coração. Ele conta que ouvir tais músicas traz à tona lembranças, desde o velho rádio e as emissoras AM como Rádio Mundial, rádio Globo e Tupi, até os cheios de vida LP´s, que o patriarca gostava de comprar em época de lançamento. A influência do rádio em sua vida o levou a conduzir diversos programas em rádios comunitárias de Nova Iguaçu e municípios próximos. Também foi da família que herdou o violão no qual dedilha as canções do rei Roberto Carlos e os grandes expoentes da chamada Era do Rádio, como Nelson Gonçalvez, Dolores Duran e Maysa. “Até hoje ouço músicas de cantores que meu pai escutava”, diz José Paulo.

Legião de irmãos
Mas o elo se dá não só entre pai e filho. Rafael Amorim, de 18 anos, tem em seu MSN um trecho de uma música (Sexo verbal não faz meu estilo...) da Legião Urbana, uma das bandas mais populares da década de 1980. A irmã foi o fio solto que se fez em seu caminho e que prendeu Rafael a essa enorme teia dos seguidores de Renato Russo que, através das gerações, o tornam imortal. Uma visita ao Orkut mostra que as mais de 1000 comunidades homenageando a famosa banda de rock estreitam o relacionamento das décadas passadas com os jovens da atualidade.

Fica uma pergunta no ar: a influência musical que se dá através das gerações é algo assim tão descomprometido quanto os costumes que são copiados ao longo do tempo ou mais uma prova da fase decadente que se enfrenta no cenário musical impregnado e massificado pela mídia? Filhos resgatam as canções que seus pais ouviam, netos escutam as doses de notas bem arranjadas do passado, minisséries atualizam cantores dos já quase esquecidos, cantores do presente regravam as músicas que já estavam guardadas nas gavetas.

A qualidade se perdeu ao longo do tempo, em meio a pressões sofridas pelos artistas que têm de criar como máquinas em nome da busca pelo dinheiro, mas a esperança nas famílias como grandes e fortes transmissores da velha e boa cultura permanece.

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