Marketing ambulante

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

por Michele Ribeiro e Wanderson Duque

Há pouco tempo, mercadorias expostas pelos vendedores ambulantes eram sinônimo de qualidade duvidosa e risco para os eletrodomésticos, além, é claro , de virem embaladas com o rótulo de atividade criminosa. Nem todos esses fatores sofreram maiores alterações. Tampouco a mudança na concepção das pessoas que ainda acreditam se tratar de uma atividade que alimenta o crime organizado. Mas a sofisticação dos meios de produção, compra e comercialização acabou chegando nesse nosso conhecido "comércio alternativo".

Vendedores ambulantes – mais conhecidos como camelôs - vêm se utilizando de diversas tecnologias que facilitam a compra e revenda de suas mercadorias. "Dvds,Cds, tênis, chinelos, roupas. Tenho mercadoria para todos os gostos", diz "X", que prefere não se identificar. As possibilidades, segundo ele, são inúmeras. "Tem comprador, conhecido meu ou de algum outro amigo, a quem faço até financiamento, acredita?".


João Silveira Sousa, que trabalha com Dvds piratas, conta que a atenção a certos detalhes muitas vezes seduz o cliente em potencial já no primeiro olhar, como o preço. Depois é só jogar um bom papo de vendedor para fisgá-lo em definitivo. "Toda noite eu monto minha barraquinha e vendo DVds a R$ 2. Sabe o que é isso? É muito pouco. Sinceramente eu acho que as lojas formais não têm como competir conosco. Eu sei que o rendimento total deles, o valor bruto mesmo, não se compara ao nosso".

O camelô chama atenção para a maneira com que seus companheiros de trabalho perceberam que tinham que tornar seu produto "mais aceitável", tirando todo aspecto de inferioridade inerente a esse tipo de comércio. Falando um português mais claro, o comércio ambulante entrou na era do designer. "Nossas capas seguem o modelo da original. Nenhuma imagem é fosca ou borrada. Não trabalhamos com aquela capinha de plástico em que colocávamos uma imagem, que servia como capa, outra imagem, esta como contracapa, e o DVD no meio. O próprio DVD possui a imagem comercial tão bem posta que se assemelha aos das locadoras. E 'cá' entre nós, muitas delas compram produtos ' da gente' ", revela.

Remédio na farmácia
A opinião de Carlos Armando complementa a de João. Marcos vê o comércio alternativo como uma alternativa válida e segura. "Aqui, se você reparar, eu tenho uma destas maquininhas de cartão de crédito. A venda ocorre como em um estabelecimento qualquer. É só o interessado passar o cartão certo, e pronto! Não existe roubo: o valor descontado é o mesmo do produto, sem nenhuma possibilidade de erro", afirma Carlos Armando, que no entanto se nega a dar maiores explicações sobre o funcionamento dessas vendas a crédito. "Não posso dizer para onde vai o dinheiro descontado do cliente, mas posso lhe assegurar que não é diferente do modo que você compra um remédio na farmácia, por exemplo".

Alguns consumidores desses produtos defendem sua qualidade e afirmam com convicção que nunca foram lesados. Esse é o caso de Elisângela Corrêa, que na verdade só teria a reclamar das lojas formais que se negaram a ressarcir os prejuízos que teve em algumas negociações. "Sempre comprei produtos 'piratas' e quase nunca deram defeito: aparelho de DVD, aparelho de som, cd's, roupas... A única vez que comprei uma geladeira em uma loja ela 'deu' defeito em menos de um mês", afirma.

Outro entusiasta dos famosos shoppings azuis é Pedro André, para quem os produtos ‘piratas’, praticamente iguais aos que são comercializados nos estabelecimentos comerciais, saem muito mais em conta . “Hoje os camelôs têm uma preocupação com seu cliente que a gente não encontra nas lojas formais”, afirma sem medo de errar. “É simplesmente prejuízo não comprá-lo", conclui.

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