por Hosana Souza
Há nove anos, a comunidade de Corumbá se organizou para tornar pública sua indignação com o poder público, pois seus moradores sequer contavam com uma escola municipal para alfabetizar suas crianças. “Organizamos manifestações, abaixo-assinados, levantamos a bandeira que infelizmente está estendida até hoje, já que a prefeitura ainda não resolveu essa situação”, conta Ezequias Alcântara. “Nesse mesmo período, então, criamos turmas de alfabetização, e também, projetos de incentivo aos jovens que eram analfabetos funcionais”, completa. Essa é a origem da Fundação Pé de Moleque, que hoje gerencia pontinhos de cultura nas escolas municipais de segundo segmento.
O trabalho para alfabetizar a comunidade de Corumbá continua, mas a Fundação Pé de Moleque cresceu e encontrou parceiros, como a Federação Capoeira Rio das Cobras e o projeto independente Revolução Teatral. A sede, que permanece no bairro de origem, oferece uma biblioteca, aulas de dança de salão e teatro para a comunidade. E outras associações foram criadas, no centro de Nova Iguaçu, em Austin, em Santa Rita e até em outros municípios. “Nós também temos projetos que sustentados pela Fundação, sempre seguindo a mesma linha de trabalho”, orgulha-se o mesmo Ezequias Alcântara, antes de declinar as aulas de música em Santo Antonio de Pádua e Arraial do Cabo, além das oficinas do teatro desenvolvidas em Barra de Guaratiba, com apoio da Casa da Moeda.
Com o projeto “Memórias de ontem contadas e cantadas por gente de hoje” aprovado no primeiro edital dos Pontinhos de Cultura de Nova Iguaçu, a Fundação Pé de Moleque pretende usar o teatro para resgatar histórias, brincadeiras, sentimentos e lembranças dos bairros. “Desejamos expor para essas crianças a vivência que seus pais e avós tiveram”, explica o monitor do projeto. “Fazer com que elas se interessem pelas histórias do bairro e aprendam a se expressar.” Além de colocar as crianças e adolescentes em contato com a tradição da sua comunidade, os organizadores do projeto pretendem fazer com que as novas gerações sintam e revivam cada uma delas.
Pontapé inicial
O projeto de resgate da memória local foi iniciado em outubro de 2009 e continuará durante o ano de 2010 na Escola Municipal Marcilio Dias, em Santa Rita e na Escola Municipal Enilza, de Austin. “Nós intensificamos o trabalho e começamos a desenvolver o projeto em outubro, não esperamos a verba, que já estava atrasada. Acreditamos que o dinheiro dado pela prefeitura é um incentivo a continuar e não a regra para começar o trabalho”, diz Ezequias. O trabalho com teatro tem sido tão proveitoso que a pedido das crianças as oficinas estão sendo realizadas, também, durante as férias.
O sucesso na parceria com a prefeitura levou a Fundação Pé de Moleque a apresentar novos projetos no edital encerrado no fim de dezembro do ano passado, igualmente aprovados. Agora as escolas Marcilio Dias e Enilza receberão também oficinas de cordel, com aulas sobre a história dessa arte e a produção dos pequenos livros. E o CIEP Municipalizado Milton Carvalho receberá o “Teatro Contado”, projeto que unirá a produção teatral com o incentivo à leitura. Nessa oficina, as crianças, além de ler e conhecer livros de escritores nacionais, participarão de um laboratório para interpretar a história e vivenciar os sentimentos do autor. Também é objetivo do projeto fazer com que as crianças produzam textos.
“Cremos que o pontinho de cultura seja apenas um pontapé inicial. Queremos despertar o interesse deles e torná-los agentes multiplicadores”, conta Ezequias. E para a Fundação Pé de Moleque consiga chegar a outros bairros da cidade, já estão sendo desenvolvidos três novos projetos que concorrerão no próximo edital de Pontinhos de Cultura.
Multiplicação dos pontinhos
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Marcadores: Bairro-Escola, Editais, Hosana Souza
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