A bela acordada

terça-feira, 16 de março de 2010

por Luz Anna


Era uma vez uma princesa, uma bela adormecida que vivia em um castelo.

A adormecida pelo tempo, tempo em que a mulher era quase o pecado original, inspiração para luxúria que chegava aos pobres e frágeis homens que não resistiam a esse encanto.

Adormecida pela tradição - tradição que fazia da mulher quase um “carma” familiar, a ser cuidado, protegida pelo pai, e depois entregue com certo alívio, fruto do dever cumprido, ao marido para ser esposa e mãe.

E por fim, que também é o começo de uma grande luta, adormecida pelo medo, medo de ser o que é acima de tudo, acima de tantos, acima de todos, mulher.



E esse é o começo de nossa história - história como a de Dinorá, que durante sua juventude teve que viver entre a sobrevivência e seu próprio prazer.

Conta que já era mãe de três meninas aos 22 anos, trabalhava no centro como garçonete e tinha um homem que se fazia necessário devido à miséria, e outro que trazia para ela a alegria, o prazer em tudo aquilo que ela gostava de chamar de amor.

Objeto sexual 
Ouvi o seguinte relato de um rapaz de 20 anos, que pediu para não ser identificado: “Não entendo o que acontece com as meninas, elas só me ligam para transar", disse-me ele, que se sente usado e gostaria de ser chamado para sair e conversar ao menos às vezes.

Fiquei intrigada com a história desse rapaz “moreno, alto, atraente” e fui conversar com as meninas de um colégio de normalistas. Elas logo o compararam com um que conhecem. E explicaram que estar com aquele rapaz seria provar para as demais que seria capaz.

Então levantamos nesse caso uma vertente interessante sobre a sexualidade dessa nova mulher. Um prazer vindo da vaidade?

Continuando minha busca por entendimento fui a Lapa e numa mesa conversamos sobre o sexo oposto e desse conceito de poder “ganhar” um homem.

Mulheres jovens com vivência suficiente para construir conceitos...

Será que se pode ter qualquer homem que desejar?

A grande maioria diz que sim, se apegando ao instinto do “vitimizado” homem.

Qual seria o homem ideal?

Depois de muito discutir, por incrível que parece não surgiram conceitos de um homem sincero, romântico ou família...

O homem ideal foi resumido em três palavras: “- Dado (falante, vibrante, intenso), Rodado (que já teve muitas mulheres, suficiente para não terem que explicar o que gostariam, já que ele saberia por experiência própria) e Viajado (com cultura, histórias de uma vida apaixonada, livre e cheia de artes).”

Sem camisinha
Partindo desse conceito de “ganhar um homem”, fui conversar com um professor, já que ele pertence a uma categoria profissional que muitas vezes é vitima desses primeiros passos dessa nova mulher. “Essas meninas se comportam pior do que prostitutas", disse ele. "Num “puteiro” tem regras a seguir no uso de preservativos, tempo, lugar. Já essas meninas a hora que a gente chamar, elas caem de boca, e dão sem camisinha...”

Uma professora percebeu a existência dessa nova mulher ao perguntar o que era sexo para elas. “Quando uma delas disse que sexo era uma coisa linda, cheia de amor, as colegas rindo disseram que ela era virgem”.

Aí vem a pergunta: que opostos são esses entre a menina que mais parece uma personagem de “Nelson Rodrigues” e a menina tímida que relaciona sexo com amor? Afinal como ser mulher e o que isso significa em meio a tantos desafios?

Desafios como o de Yone, uma professora de 45 anos que há três anos vive um relacionamento com um ex-aluno de 23 anos. Ela não esconde as rugas, a pele flácida ou os cabelos brancos. Sua única preocupação é com o pós-coito, quando ela faz questão de levantar antes dele, com medo de que seu parceiro veja com quem esteve. "Se ele ainda assim me quer, eu continuo vivendo só o agora. Quando estamos juntos somos iguais, tudo é lindo, é prazeroso", diz a professora.

Dando o melhor
Raquel é uma linda mestre em ciências sociais, de 32 anos. Tem seu carro, seu apartamento, sua vida decidida pelos próximos cinco anos. Acima de tudo, ela tem sua liberdade. “Eu não faço amor, ou faz sexo, eu “trepo”, disse ela, que não espera ser conquistada pelo homem pelo qual está interessada. “Eu não espero, não conquista um homem, eu escolho e pego”.

Raquel afirma que não faz nada que ela não queira e isso sem culpa, porque ninguém vai viver a sua vida, mais que ela mesma. “Eu dou o meu melhor e não aceito nada menos em troca, e se não for assim eu deixo bem claro que não estou feliz”.


A mestre em ciências sociais sabe que os homens têm medo dela, mas não está nem aí para o futuro. “O futuro é o que vem depois de um momento vivido, e que seja um bom momento”.

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